“A natureza tende ao equilíbrio e nossa forma de vida precisa mudar, visando a redução dos diferentes tipos de impactos que provoca”, afirma o médico-veterinário Marcello Schiavo Nardi, presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, (CRMV-SP), pontuando ser essa a maior mensagem da natureza no momento de crise sanitária global.
O médico-veterinário menciona a necessidade de revermos os nossos padrões de consumo, desde a escolha dos alimentos que vamos levar à mesa até os itens mais supérfluos. “Precisamos comer o que comemos? Vestir o que vestimos? Precisamos de tudo que compramos e que geram resíduos diversos em seus processos fabris?”, questiona.
Nardi chama à reflexão para as emissões de poluentes no ar, solo e águas, atividades que provocam desmatamento e o uso excessivo e/ou inadequado de recursos naturais para a produção em diferentes cadeias, o que impacta não somente na vida selvagem, mas diretamente na saúde e qualidade de vida do ser humano.
A médica-veterinária Cristiane Schilbach Pizzutto, presidente da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal (CTBEA), do CRMV-SP, concorda com Nardi ao afirmar que “a pandemia e seus desdobramentos mostram que podemos viver com menos e valorizar mais as experiências. A ideia é consumir menos, poluir menos e desfrutar mais dos momentos.”
Saúde Única: promovê-la é necessidade atente
O momento atual pede a urgente promoção do conceito de Saúde Única, em que a saúde humana, animal e ambiental são indissociáveis. E, embora esta bandeira tenha sido erguida há quase dois séculos, quando o patologista alemão Rudolf Virchow afirmou que entre as Medicinas Humana e Veterinária não deveria haver divisórias, sua aplicação há um longo caminho a ser percorrido da teoria à prática.
No que diz respeito ao novo coronavírus, a ciência trabalha para trazer mais respostas quanto ao homem como hospedeiro. O que se levantou, até o momento, é que a origem da situação provavelmente esteja relacionada ao contato de forma indiscriminada com espécies silvestres, impulsionada pelo aspecto econômico e carência de educação para a preservação da fauna e a garantia da saúde coletiva.
Manutenção do equilíbrio natural
“O cenário que estamos vivenciando deixa claro que é preciso rever o consumo de animais selvagens, tanto o consumo em si, quanto às formas de abate e comércio, que também é uma realidade em regiões do Brasil, não só na China”, alerta Nardi.
A médica-veterinária Elma Pereira dos Santos Polegato, presidente da Comissão Técnica de Saúde Ambiental (CTSA), do CRMV-SP, explica que dentro do equilíbrio natural, há espécies hospedeiras de agentes causadores de doenças. “Quando há conservação dos ecossistemas, o risco de transmissão de patógenos é reduzido. Por isso, pensar na saúde do meio ambiente é pensar na saúde humana e uma forma de mitigar a propagação de doenças.”
Crise da biodiversidade
Além da preservação da biodiversidade, Elma lembra que outros fatores de desequilíbrio estão muito atrelados ao surgimento de doenças em humanos. “Entre eles estão ações, como processos com alta emissão de poluentes, que contribuem para a elevação da temperatura do planeta, que favorece o aumento de vetores e patógenos com alta capacidade de adaptação às condições e às espécies.”
Segundo a médica-veterinária, a crise da biodiversidade é também uma tragédia humana que somente com uma mudança de postura da nossa espécie, somada à resiliência da natureza, é possível reverter. “O ser humano precisa estabelecer uma relação mais cooperativa e respeitosa com o meio ambiente, do qual ele faz parte. Mudar em prol da natureza também é mudar para uma humanidade mais resiliente.”