Cursar Medicina Veterinária em uma instituição de ensino pública era um sonho antigo de Augusto Renan Rocha, o qual ele realizou com sucesso. Hoje, é médico-veterinário concursado na cidade de Itatiba, interior de São Paulo, onde atua como clínico no Centro de Controle de Zoonoses e no atendimento a denúncias junto à Coordenadoria de Bem-estar Animal.
Criado no extremo leste da capital paulista, Rocha foi aluno bolsista em colégios particulares e se graduou na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. Na bagagem, soma à passagem pela área da Saúde Pública a experiência em clínica de cães e gatos e de animais silvestres exóticos.
“Como estagiário, integrei equipes de combate e prevenção à dengue e ações socioeducativas, além de atuar no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da UFV”, conta o profissional.
A partir das experiências, cresceu o interesse em aprofundar seus conhecimentos na área da Saúde Pública. “Admiro muito, em especial, o trabalho desempenhado para o controle de zoonoses e a interface de cunho educacional junto à população”, enfatiza Rocha, que também pretende se aperfeiçoar em Clínica de Animais Silvestres.
Empoderamento
No que diz respeito à questão racial, Rocha frisa que sempre houve fomento ao empoderamento em seu núcleo familiar. “Sempre tive muito orgulho das minhas raízes e isso tem a ver com a forma como eu fui criado.”
Essa valorização que vem de berço foi uma motivação a mais para que, na faculdade, Rocha articulasse a participação de alunos da UFV no Encontro de Negros, negras e cotistas da União Nacional dos Estudantes (Enude), em 2011. “Depois, fundamos o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) de Viçosa, voltado ao acolhimento de alunos vítimas de racismo.”
Militância
Em 2015, o núcleo promoveu aula magna com Nilma Lino Gomes, então chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção pela Igualdade Racial (atualmente, Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SNPIR).
Mais adiante, Rocha criou o Afrovet, por meio do qual promove palestras técnicas ministradas por profissionais negros de diferentes estados. “Esta é mais uma iniciativa para contribuir para com a visibilidade destes colegas”, disse o médico-veterinário.
Racismo
Rocha afirma que o racismo enraizado dá origem a um “olhar viciado” da sociedade. “Muitas vezes o cliente não acredita que sou o médico-veterinário por eu ser negro. Por causa disso, passei a usar, sempre, jaleco ou pijama cirúrgico e o estetoscópio no pescoço.”
O profissional menciona, ainda, o racismo velado, que se mostra a partir de frases ou piadas comuns no dia a dia. Na opinião do médico-veterinário, todos devem se questionar sobre como isso alimenta o racismo estrutural.