“Os suínos precisam de uma vigilância”

Nancy Cristina Bellei: infectologista da Unifesp
com pós-doutorado em influenza; Especialista descarta risco no consumo de
carne de porco, mas afirma que o vírus da gripe pode estar circulando nos
animais.
Quase um mês após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar emergência de
saúde pública em razão da descoberta do novo vírus da gripe suína, capaz de
ser transmitido entre humanos, a infectologista
Nancy Bellei apontou que o aumento das criações de
porcos pode ter contribuído para o surgimento da doença. A seguir, trechos da
entrevista.

O que é possível dizer sobre a origem do
vírus? Ele teria surgido em um local do México onde a população reclama dos
cuidados com uma fazenda de porcos.

A gripe suína é diferente da aviária. Achar porco morrendo, ninguém vai
achar. No máximo, porco doente. E podemos ter suínos assintomáticos
excretando vírus. Até onde sabemos, não foi feita vigilância nesta fazenda e
em outros lugares, a não ser naquela fazenda no Canadá que tem uma história
anedótica de que foi uma pessoa que voltou do México com gripe suína que
teria transmitido aos porcos. Parece depoimento de político explicando o que
fez com o dinheiro. Ninguém acredita. Os suínos estão com esse vírus, sei lá
se não há em outro lugar. Não há uma vigilância de suínos. E ninguém saiu
fazendo investigação sistemática. Desconheço também até o momento um exame
sorológico, que busca anticorpos específicos contra esse vírus, em suínos e
em criadores de suínos. Mas seguramente isso poderá ser feito, para
entendermos onde começou. Há dez anos, na Carolina do Norte (EUA), houve um
grande surto de vírus suíno, ancestral desse de agora.

Em resumo, é possível que esse vírus
circule ou tenha circulado em porcos, mas não quer dizer que os porcos tenham
de ser mortos.

Não, claro que não,
até porque infecção suína só vai até o trato respiratório e não causa
comprometimento gastrointestinal. É como a nossa infecção. Não tem problema
em comer carne suína cozida.

Mas havia uma rede sentinela em todo o
mundo para detectar novos vírus da gripe. O que aconteceu?

A rede é para
detectar novos vírus em
humanos. Não
existe rede sentinela para suínos.

Isso não mostra que nesse ponto falhou o
plano contra pandemias?

Durante 80 anos os vírus que circulavam em suínos eram os mesmos e estáveis.
O que aconteceu é que nas últimas duas décadas a produção aumentou muito nos
EUA. E a gripe suína está ligada a stress e aglomerações. Com esse aumento na
produção, há um número maior de animais no mesmo espaço. Pesquisadores de
influenza alertaram em 2004 que suínos combinavam vírus, que isso era
potencial para uma situação pandêmica, mas estávamos vivendo a recorrência da
gripe aviária. A experiência nos últimos cem anos era de pandemias com gripe
aviária ou mutações em vírus humanos. Aquela não parecia ser uma situação
importante até este caso. Mas 80% dos genes desse vírus são de suínos
norte-americanos. Houve aumento da produção de suínos, só que isso não é
muito falado, tem uma coisa política por trás.

Que lição fica para os cientistas?
Terá de ser estudada uma vigilância em suínos. O problema é que isso envolve custo,
mas seguramente teremos de aumentar a vigilância animal. E também é hora de
aumentar e otimizar a vigilância da circulação do
vírus em humanos.

Fonte: Estado Online, acesso em 18/05/2009

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