As mudanças nas normas de produção de leite, publicadas pela Instrução Normativa 62, provocam apreensão em produtores de São Paulo. Os parâmetros para medição de contagem de bactérias e células somáticas se tornaram mais rigorosos a partir do dia 1º de janeiro, exigindo investimentos de grande parte dos pecuaristas. De acordo com o veterinário José Adorno, a maioria dos pecuaristas está fora dos padrões. Reduzir as células somáticas, alteradas pela mastite e melhorar a higiene, principalmente após a ordenha, estão entre as exigências.
Além disso, segundo o engenheiro agrônomo Ricardo Rodrigues Oliveira, a alimentação e o local onde vivem os animais são essenciais no processo de mudança. Para a adaptação, é necessário investir em equipamentos, manejo e mão de obra qualificada.
“A alimentação é que vai dar resistência e imunidade ao animal. Quando bem nutrido, é mais difícil que ele tenha mastite. O ambiente também é muito importante nesta época de chuvas, pois tende a ser contaminado com lama e esterco. Quando o local é favorável, o animal não fica estressado e também evita a contaminação do ambiente”, explica.
Quem não se adaptar, terá prejuízos, conforme Adorno. “Tudo vai depender do captador do leite. Perder a bonificação pesa no custo do produtor”, diz.
O pecuarista Nicola di Angelis, de Taubaté, São Paulo, conta que quando começou a trabalhar com leite a realidade era diferente.
“Eu cheguei a trabalhar com leite que saía em lombo de animais para chegar à cooperativa. Todas as cooperativas eram encostadas na estrada de ferro. O material era enviado em latões de 50 litros para São Paulo e ia tudo aberto. Vagões como currais, sem refrigeração. Nunca ouvi falar que leite matava”, conta.
A nova lei alterou os índices de contagem bacteriana total e a contagem de células somáticas, que antes podiam chegar a 750 mil bactérias por mililitro de leite. Agora, a tolerância caiu para 600 mil. Angelis afirma que investiu e já está dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Agricultura. Sua maior preocupação é o custo para manter a qualidade.
“Nós temos que ter preço para manter qualidade. Se não tiver, acabaremos não tendo condições de continuar a produção. Eu me preocupo com o valor. É tanta exigência, mas ninguém fala dos custos para produzir leite de acordo com as exigências”, diz.
O produtor de leite Antônio Carlos dos Santos diz que a única saída para sobreviver no mercado é se adaptar às normas. Ele também defende investimentos em mão de obra e na saúde dos animais.
“A mão de obra é fundamental para alcançar os objetivos. Ela deve ser maleável, porque o trabalhador rural acha que nasceu naquele sistema do avô, do pai, mas o mundo está mudando. Você tem que se adaptar às regras, principalmente quando passa a ser exportador. Ou você se adapta ou sai do mercado. Além disso, um animal sadio proporciona uma produção melhor do que um animal doente”, afirma.
Fonte: Canal Rural (acessado em 06/01/2012)