O paulistano que passeia pelo parque Ibirapuera no inverno pode observar o “Verão”, ou se preferir pode chamá-lo pelo seu nome científico, Pyrocephalus rubinus. Entre abril e setembro, esse passarinho bate asas para longe do frio do sul, passa por São Paulo e ruma até o Nordeste – daí o nome solar. Verão é uma das 400 espécies de aves encontradas na cidade, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O número parece alto paraquem está acostumado a ver só pombos – que são considerados pragas urbanas.
Mas basta treinar o olhar e “se sensibilizar para essa maravilha”, diz o engenheiro industrial Johan Dalgas Frisch, que se dedica à observação de aves no Brasil, desde os sete anos. Os papagaios-verdadeiros (nativos do Norte e do Nordeste e famosos por imitar vozes e músicas) se multiplicaram nos anos 1990, abandonados por traficantes e antigos donos. Comum no interior, o tucano-toco também nos visita mais. Mas rarearam os pios de perdizes e jacutingas.
Cerca de 30 espécies – como o bem-te-vi e o sabiá-laranjeira – são figurinha fácil em toda a Capital, aponta o ornitólogo, Fábio Luís Silveira, do Museu de Zoologia da USP. A maior variedade está em grandes áreas verdes, como o Ibirapuera e a serra da Cantareira. Os parques Villa-Lobos (zona oeste) e do Carmo (zona leste) também têm tipos diversos. No parque linear Castelo, às margens da represa Guarapiranga, há um mirante ideal para ver aves aquáticas.
“O observador era o cara solitário com um binóculo e um guia de bolso. Agora, ele é o cara com câmera digital, que compartilha”, afirma o produtor cultural Guto Carvalho. Desde 2006, Guto organiza a feira anual Avistar Brasil – a deste ano, em maio, juntou 1.200 pessoas em três dias no parque Villa-Lobos. Para o ornitólogo Silveira, quanto mais gente, melhor: “os observadores leigos dão uma contribuição importante para a ciência”. Boa parte dos dados recolhidos está no WikiAves, atualmente com 1.772 espécies catalogadas.
Uma das caçulas da Avistar, a estudante do primeiro grau Lorena Patrício Silva, 11, é fã de aves de rapina e contribuidora sênior do site feito por colaboradores, diz que gosta de ‘colecionar’ novas descobertas. A última foi no parque Villa-Lobos: um pitiguari, passarinho com cabeça e bico grandes demais para cerca de 16,5 cm de tamanho. A melhor época para flagrar novidades é no início da primavera, quando os animais estão à caça de parceiros para a reprodução. No período, a prefeitura oferece cursos gratuitos para aprender a reconhecer espécies e os ‘points’ delas na cidade. Neste ano, serão dois: para iniciantes, em outubro; e um avançado, em setembro; com 50 vagas cada.
Fonte: Ambiente Brasil