Série Zoonoses: PSITACOSE

VOCÊ SABE QUE AS AVES PODEM TRANSMITIR DOENÇAS? A PSITACOSE É UMA DELAS.

O tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilícita no mundo, e as aves têm sido as mais utilizadas devido à crescente preferência como animal de companhia, motivo de grande discussão. Apesar do interesse na preservação das diferentes espécies, há enorme preocupação com a saúde desses animais como transmissores de doenças aos seres humanos. Conhecida como clamidiose, psitacose, ornitose ou febre dos papagaios é causada pela bactéria intracelular Chlamydia psittaci. A clamidiose é considerada a principal zoonose transmitida por aves silvestres, particularmente por psitacídeos (periquitos, papagaios, calopsitas e araras) e columbiformes (pombos). No Brasil, estudos recentes têm mostrado sua ampla ocorrência em aves silvestres e ocasionais surtos em humanos; em 85% destes casos confirma-se o contato direto com pássaros e em 15% não se registra qualquer tipo de contato com esses animais. Em virtude da dificuldade de diagnóstico, a freqüência que a psitacose ocorre é subestimada.

COMO A PSITACOSE PODE CHEGAR A MINHA CASA?

A forma de vida aglomerada das aves favorece a transmissão da bactéria pelo contato direto com secreções, ingestão ou inalação da poeira contendo fezes ressecadas das gaiolas, telhados, janelas ou mesmo nos espaços públicos e quando os filhotes são alimentados no ninho pelo bico. O homem se contamina pelo contato direto com as secreções respiratórias e feridas de aves doentes, pela inalação durante o manuseio de penas e fezes secas. O hábito de aproximarem a boca do bico das aves favorece não somente a transmissão da Chlamydia psittaci como outras zoonoses. Pássaros recém-adquiridos podem não apresentar qualquer sinal de doença e transmiti-la a outras e ao homem. Os sintomas podem ser induzidos por estresse, fome, superlotação, transporte inadequado e maus tratos. Proprietários de aves ornamentais, trabalhadores em criação de aves comerciais, em linhas de abatedouro avícola, comerciantes de aves e médicos-veterinários são mais expostos e a psitacose pode ser considerada doença ocupacional. A transmissão entre pessoas pode ocorrer embora raramente confirmada.

QUAIS SÃO AS MANIFESTÇÕES CLÍNICAS NAS AVES E NOS SERES HUMANOS?

O aparecimento dos sintomas varia entre alguns dias a semanas, e depende de vários aspectos ligados a patogenicidade da bactéria, espécie, idade e condição criatória da ave. As aves podem apresentar ou não sintomas clínicos como penas arrepiadas, tremores, sonolência, falta de apetite, desidratação, conjuntivite, dificuldade respiratória, má digestão e regurgito, quadro neurológico e morte. Conjuntivite, muitas vezes repetitiva, pode ser o único sinal clínico; às vezes ocorre a morte súbita. As aves doentes que se recuperam ou mesmo aquelas sem sinais aparentes podem excretar de forma intermitente e por longo período de tempo a bactéria nas fezes e nas secreções oro-nasais, contaminando o ambiente e colocando em risco outras aves de estimação e os seres humanos. Entre cinco dias a duas semanas depois do contato com aves doentes ou portadoras, os seres humanos podem apresentar febre alta (39oC), calafrios, tosse seca, falta de apetite, vômitos, diarréia, dificuldade respiratória, coriza, dores de cabeça, musculares, nas costas e abdominais, e ainda algum tipo de comprometimento neurológico, como meningite e confusão mental. Se não tratada corretamente, a psitacose em humanos pode evoluir para um quadro grave.

ONDE É REALIZADO O DIAGNÓSTICO DA PSITACOSE?

O diagnóstico de clamidiose aviária e humana é bastante complexo e deve ser baseado na associação do exame clínico e laboratorial: sorológico, bacteriológico e outros para a detecção da bactéria. Em seres humanos, o diagnóstico diferencial da psitacose com outras causas de pneumonia atípica por Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e Legionella pneumophila deve ser realizado; e, quando da presença de reações cutâneas, deve-se investigar também febre tifóide. Quando da suspeita de doenças em aves, deve se procurar o Ambulatório de Ornitopatologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, localizado na Avenida Professor Doutor Orlando Marques de Paiva, 87 – Cidade Universitária – São Paulo.

Os casos suspeitos humanos podem ser encaminhados para o serviço do Ambulatório de Zoonoses do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, que fica na Avenida Doutor Arnaldo, 165 – Prédio dos Ambulatórios – Pacaembu, também na capital. O telefone é o (11) 3896-1200. Os trabalhos acontecem sob responsabilidade do doutor Marcos Vinicius da Silva (marcos.silva@emilioribas.sp.gov.br ou mvsilva@pucsp.br). As consultas poderão ser agendadas por telefone ou no site do hospital (Avenida Doutor Arnaldo).

EXISTE TRATAMENTO PARA PSITACOSE?

Aves infectadas devem ser tratadas com antibióticos pelo período de 45 dias conforme indicação do médico veterinário. O tratamento deve ser feito com rigor, pois, se não for eficaz, a ave pode continuar eliminando a bactéria pelas fezes ou secreções. A antibioticoterapia nos seres humanos deve ser instituída e continuada conforme prescrição médica, para que sejam evitados os casos graves, as complicações e principalmente as recidivas.

COMO É FEITA A PREVENÇÃO E O CONTROLE DA PSITACOSE?

Educação sanitária alertando para o risco de transmissão de doenças por aves, coibindo a venda e compra de animais clandestinos em estradas ou lojas e pet shops não legalizados no CRMV. É fundamental para o combate à ocorrência das clamidioses, limitando a disseminação da doença, diminuindo o impacto à saúde pública e os prejuízos ao produtor. Aves recém-chegadas aos criadouros ou propriedades particulares devem ser submetidas à quarentena em lugares separados, à avaliação clínica veterinária e aos testes laboratoriais preconizados. Aos funcionários de criatórios, granjas e abatedouros recomendam-se o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), o cumprimento por parte da empresa de medidas que diminuam risco de exposição à bactéria (PPRA-NR 9 e PCMSO-NR 7) e outros regulamentos sanitários e ambientais dos estados e municípios. Na confirmação de doença ocupacional, a empresa empregadora deverá ser imediatamente informada, dando início à identificação de outros casos e procedimentos segundo a legislação. Como medidas preventivas gerais: atentar para que não ocorra elevada densidade de aves nos criatórios, galpões e gaiolas; não misturar aves de várias procedências, proteger os alimentos e rações animais do acesso de outras aves, principalmente de pombos de rua; evitando também que estes tenham contato com animais domésticos; realizar a limpeza de forros, calhas ou qualquer outro local que apresente fezes de pássaros, restos de ninhos ou penas. Jamais remover a sujeira a seco, deve-se sempre adotar um meio de umedecê-la antes, para evitar a inalação de poeira contaminada. Sempre utilizar luvas e máscara.

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