O planejamento de carreira e a busca por oportunidades no mercado de trabalho são questões frequentes nos primeiros meses do ano, principalmente, entre recém-formados. Na opinião de profissionais que já têm carreiras consolidadas, uma barreira, que não se restringe apenas aos novos, é a falta de informação sobre a abrangência da Medicina Veterinária.

O problema, muito observado inclusive dentro das faculdades, limita a visão dos estudantes e profissionais. Prova disso são postos de trabalho sendo ocupados por formados em outras áreas devido à falta de candidatos médicos-veterinários.

De acordo com o Prof. Dr. Marco Antônio Gioso, médico-veterinário que atua como coaching na área de gestão e empreendedorismo, essa tem sido uma realidade, por exemplo, no setor de inspeção de alimentos de origem animal, um dos que considera mais promissor.

O médico-veterinário é preparado para atuar na garantia da sanidade dos produtos de origem animal, desde o manejo dos animais vivos até a análise de alimentos, como carnes e laticínios. “Porém, postos de trabalho estão sendo ocupados por engenheiros agrônomos em função da falta de médicos-veterinários nos processos seletivos”, argumenta Gioso.

O mercado está “pra peixe”

“Outro exemplo de campo que concentra boas oportunidades é o da Piscicultura”, comenta o Prof. Dr. Fábio Manhoso, presidente da Comissão Técnica de Homeopatia Veterinária, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília (Unimar).

Trata-se do cultivo de peixes, englobado pela Aquicultura. Nessa área, o médico-veterinário integra equipes que atuam no manejo, nutrição e sanidade dos peixes. Os números do novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta que a produção da pesca e aquicultura no Brasil deve crescer mais de 100% até 2025.

Equipes multidisciplinares

No Sistema Único de Saúde (SUS), o médico-veterinário também atua, integrando equipes multidisciplinares nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf). A participação do profissional nesses grupos se dá a partir do atendimento à população em questões de vigilância em saúde, sanitárias e ambientais.

Os médicos-veterinários passaram a integrar o Nasf há sete anos. De acordo com o levantamento feito pelo Ministério da Saúde a pedido do CRMV-SP, em novembro do ano passado, havia 138 profissionais de Medicina Veterinária atuando no Nasf em 24 estados diferentes.

Saúde pública

Para o médico-veterinário Renato Brescia Miracca, membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais, do CRMV-SP, e consultor parceiro da Comissão de Animais de Companhia (Comac), a abertura desse espaço aponta não só a capacidade do profissional de Medicina Veterinária de atender as demandas do setor, como a mudança de mentalidade do poder público nesse sentido.

“A questão é que os médicos-veterinários e estudantes quase sempre não sabem dessa porta para exercer funções fundamentais para a saúde pública – em várias outras esferas que vão além do SUS –, inclusive, no que diz respeito a epidemias de zoonoses como brucelose, leishmaniose, raiva, mormo, entre outras”, argumenta Manhoso, que considera fundamental os profissionais se atentarem ao seu papel na saúde pública.