Um vírus contagioso vem causando a morte de golfinhos da espécie boto cinza, no litoral norte de São Paulo. Entre outubro de 2017 e janeiro deste ano, 53 animais morreram, quase 10% da população de botos dessa região. Antes disso, eram encontrados, em média, dois animais mortos, por mês.
O número de mortes acima do normal preocupa os pesquisadores. “Às vezes, a gente encontra animais boiando e quando eles chegam à praia estão decompostos, estamos tentando entender o que significa essa mortalidade”, afirma Beatriz Barbosa, bióloga do Instituto Argonautas.
Exames comprovaram que os animais foram infectados pelo mesmo vírus que provocou mortes no Rio de Janeiro. Amostras de um animal encontrado foram analisadas em um laboratório da Universidade de São Paulo (USP) e indicaram a morte por morbilivírus, que já causou mortes em golfinhos também nos Estados Unidos, Europa e Austrália.
De acordo com a médica-veterinária Kátia Groch, pesquisadora da USP, esse é o mesmo vírus que provoca sarampo em humanos e cinomose nos cães. “Nos golfinhos, ele é transmitido por via respiratória e passa facilmente de um animal para o outro”, ressalta.
Rio de Janeiro
O surto teria começado na Baía de Sepetiba, no litoral do Rio de Janeiro, onde está concentrada a maior população desse tipo de golfinho no Brasil. Como eles vivem em grupos com mais de 100 indivíduos, a doença se espalhou rapidamente.
Foram registradas 250 mortes entre as baías de Sepetiba e Ilha Grande, no Rio de Janeiro. O biólogo do Instituto Boto Cinza, Leonardo Flach, avalia que a espécie é considerada vulnerável. “Se a gente tem uma mortalidade grande aqui, a gente está causando um problema para a população da espécie em toda a costa brasileira”.
Meio ambiente saudável
Os especialistas acreditam que uma maneira de tentar salvar a espécie é tornar o ambiente, em que em que esses animais vivem, mais saudável. Entre as ações, está a suspensão da dragagem em porto e do turismo de observação de botos. Além disso, eles sugerem a criação de uma unidade de conservação marinha.
“A pressão humana sobre o ambiente marinho tem mostrado que esses animais têm sofrido com falta de alimento, poluição, entre outros fatores que levam esses animais a uma imunidade diminuída”, alerta o oceanógrafo Hugo Gallo.