Já não é novidade a urgência em frear o desmatamento das florestas brasileiras e impedir o desequilíbrio que ameaça diferentes formas de vida e ecossistemas. O grande dilema que atravessa décadas são as ações possíveis para soluções nesse sentido. No setor produtivo, os sistemas que integram lavoura, pecuária e floresta em uma mesma área têm se mostrado uma alternativa positiva.
Dados recentes contextualizam melhor a gravidade da situação. De acordo com publicação na revista Science Advances, em fevereiro deste ano, o desmatamento na Amazônia já atinge 20%, o que significa que a floresta está prestes a atingir o limite irreversível de perda de sua vegetação.
Três meses depois, relatório apresentado por oito organizações ambientalistas, entre as quais estão a WWF-Brasil e o Greenpeace, informa que a taxa média de desmatamento da floresta foi 38% maior nos últimos anos do que a observada em 2012 e, ainda, que 65% do total desmatado foram utilizados para pastagem de baixa eficiência.
Segundo o relatório, do que foi cortado na Amazônia, entre 2007 e 2016, o acréscimo ao PIB nacional foi de apenas 0,013%. “É uma grande falácia dizer que só desmatando conseguiremos alimentar a população”, afirma Frederico Machado, especialista em Políticas Públicas do Programa de Agricultura e Alimentos da WWF-Brasil.
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(Frederico Machado)
É plantando que se colhe
Prova disso são os resultados obtidos em uma área de 25 hectares, degradada e de baixa produtividade, alcançados a partir de um projeto aplicado com a chamada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com coordenação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Dracena, em parceria com a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) de Andradina.
A zootecnista Cristiana Andrighetto, que ministra a disciplina Sistemas Integrados e acompanha todas fases do projeto, conta que a experiência começou, em 2012, com o plantio de soja, cuja colheita foi comercializada, e de milho, que foi destinado à alimentação do gado da propriedade. Junto à plantação de milho foi feita a de capim-marandu, que prepara a área para receber pasto destinado ao gado Nelore após a colheita.
Atividades florestais
Paralelamente às ações correspondentes à lavoura e à pecuária, houve também o plantio de eucalipto, integrando assim as atividades florestais. Esta parte do processo de ILPF leva mais tempo para que a madeira esteja preparada para corte e, então, seja vendida para empresas de celulose.
Enquanto a fase da comercialização não chega, essa vegetação proporciona mais bem-estar e conforto térmico ao gado, que manifesta esse benefício em seu comportamento.
Redução de custo
“São diversos os benefícios que constatamos no sistema, a começar pela redução do custo de recuperação da área degradada, uma vez que a venda da colheita e a incorporação na alimentação do gado cobre boa parte dos investimentos em mão-de-obra e adubos”, afirma a zootecnista.
Cristiana frisa ainda a qualidade que o pasto ganha com a integração com a lavoura, devido ao aumento da matéria orgânica e da porosidade do solo, o que resulta na ciclagem de nutrientes até camadas mais profundas da área, além de controlar a incidência de erosões. E do ponto de vista econômico, é destaque a diversificação da fonte de renda que os produtores passam a ter.