Donos de cães com leishmaniose lutam na Justiça para livrá-los da eutanásia. Para o Ministério da Saúde, os animais devem ser sacrificados logo após o diagnóstico para evitar a contaminação de pessoas e outros animais.
A doença, causada por protozoário e transmitida pela picada do mosquito-palha, pode matar. Especialistas garantem, porém, que é possível controlá-la com remédio.
O problema é que não há drogas veterinárias aprovadas no Brasil para esse fim, e os ministérios da Saúde e da Agricultura proíbem o tratamento de cães com medicamentos destinados a humanos desde 2008. O objetivo, afirmam, é evitar que o protozoário se torne resistente.
Há duas vacinas cadastradas no Ministério da Agricultura e Pecuária para prevenir o contágio, mas não estão disponíveis na rede pública.
Em meio à polêmica, a psicóloga Márcia de Jesus, 45, de Belo Horizonte, tratou o pitbull Vlad, de oito anos, com um remédio usado para combater reumatismo em humanos. Ela conseguiu mostrar à Justiça que o cão não tem mais sinais da doença, contraída há seis anos, e não representa perigo. Venceu a ação.
Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, a dona de casa Angela Maria da Silva, 50, ainda aguarda uma sentença que pode salvar Pluto, um SRD (sem raça definida) de sete anos, da morte.
Pluto está no canil municipal desde agosto do ano passado, sob ordem judicial. Antes disso, foi tratado com um antifúngico usado em gestantes com leishmaniose.
O Ministério da Saúde não sabe quantos cães são sacrificados por ano no Brasil por causa da doença. O secretário nacional de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, afirma que a eutanásia é indispensável para cães doentes. “Tratá-los significa usar em larga escala os poucos medicamentos que temos para leishmaniose e, com isso, reduzir a eficácia dos produtos em humanos.”
Tratamento alivia sintomas, mas não cura os animais,/p>
O Ministério da Saúde e pesquisadores divergem na interpretação de resultados de pesquisas e exames de cães com leishmaniose. Isso porque o tratamento alivia os sintomas, mas não traz a cura. A leishmania permanece no corpo do cachorro, mesmo sob controle. Como não se sabe a quantidade mínima do parasita para contaminar o mosquito, o ministério opta pelo sacrifício.
Pesquisadores usam o mesmo argumento para defender o tratamento do animal, desde que ele não tenha desenvolvido sintomas, como feridas graves na pele.
“Não tem por que matar. O cachorro tem o direito de ser tratado, desde que se controle o vetor”, diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Carlos Henrique Nery Costa.
Para o conselheiro da Associação Nacional dos Clínicos Veterinários (Anclivepa Brasil), Manfredo Werkhauser, o melhor é prevenir. Isso inclui, por exemplo, o uso de coleira com repelentes e vacinação.
Fonte: Folha de São Paulo (acessado em 28/03/11)