O Carnaval é uma época de festejar com alegria e folia. Para que esse momento de descontração não acabe mal, é importante lembrar que a segurança dos alimentos também deve ser uma prioridade durante esse período. As grandes aglomerações de pessoas aumentam a demanda da comercialização de alimentos, sendo frequente a preparação e comercialização de forma improvisada, aumentando o risco de ocorrências de surtos de enfermidades veiculadas por alimentos, principalmente infecções e intoxicações de origem alimentar, ainda mais com a expectativa de muito calor.
A doença transmitida por alimentos (DTA), ou doença de transmissão hídrica e alimentar (DTHA), é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a cada ano cerca de 600 milhões de pessoas adoecem por comer alimentos contaminados e aproximadamente 420 mil pessoas morrem por este motivo todos os anos. As crianças menores de cinco anos são as que mais contraem a doença (40% dos casos), chegando a cerca de 150.000 óbitos por ano.
A DTA pode ser causada por diversos agentes, como fungos, bactérias, vírus, parasitas e toxinas presentes em alimentos contaminados. Os órgãos de vigilância sanitária (Visa) desempenham um papel fundamental na fiscalização e prevenção de surtos de intoxicação alimentar durante o Carnaval. As ações visam garantir a segurança dos alimentos e proteger a saúde da população.
“O consumidor, ao comprar um alimento de origem animal, deve verificar se na rotulagem há a informação do registro no órgão fiscalizador competente federal (SISBI ou SIF – Serviço de Inspeção Federal), estadual (SISP – Serviço de Inspeção Estadual de Produtos de Origem Animal, no caso do Estado de São Paulo) ou municipal (SIM – Serviço de Inspeção Municipal), respeitando sempre a competência das suas jurisdições”, explica o membro da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Carlos Alberto D’Avilla de Oliveira, que atua como médico-veterinário da Vigilância Sanitária de município do interior paulista.
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Inspeção
Os fabricantes dos alimentos de origem animal (carne, leite, pescado, ovos, mel e seus derivados) são fiscalizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), quando comercializados em todo o Brasil ou exportados, pelas Secretarias Estaduais de Agricultura, quando comercializados dentro dos seus respectivos estados, e pelos Serviços de Inspeção Municipal (SIM) ou Consórcios Públicos Municipais, quando comercializados dentro dos seus próprios municípios.
Os Estados, Distrito Federal e os Municípios e Consórcios Públicos Municipais podem possuir a equivalência dos seus serviços de inspeção comprovando, assim, que possuem condições de avaliar a qualidade e a inocuidade dos alimentos de origem animal com a mesma eficiência do Mapa, integrando o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI – POA). Existem também outros símbolos de identificação, como o selo Arte, que assegura que o produto foi elaborado de forma artesanal seguindo regras e boas práticas recomendadas.
Portanto, ao escolher alimentos, é importante verificar a origem e procedência para garantir a qualidade e segurança. O produto possuir a informação de registro no órgão fiscalizador como o SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal), SIF (Serviço de Inspeção Federal) e SISP (Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal), que é o sistema de inspeção sanitária do estado de São Paulo, deve ser fator decisivo.
Temperatura
Os cuidados com a alimentação são fundamentais nos períodos de festas, como é o caso do Carnaval. O calor é um agravante para conservação adequada dos alimentos. Preparações que permanecem por algumas horas fora da refrigeração podem representar sérios perigos para saúde.
Bactérias, principalmente, multiplicam-se rapidamente em ambientes com temperaturas acima dos 20°C, e alguns tipos de microrganismos deterioram o alimento e podem causar sérios distúrbios gastrointestinais, com sintomas de diarreia, vômitos, febre, dores no corpo e de cabeça.
Portanto, todo cuidado deve ser dispensado quando se trata de manipulação e conservação de alimentos. Maioneses, molhos, carnes malpassadas, ovos crus ou pouco cozidos, podem ser mais propensos a servir como meio para multiplicação de bactérias. Doces cremosos, com recheios a base de leite e ovos, podem ser perigosos sem uma boa conservação.
“Manter alimentos na geladeira e com temperatura abaixo de 8°C pode diminuir em muito o risco de doenças de origem alimentar. Alimentos que podem ficar fora da refrigeração devem ser armazenados em local seco e ventilado, protegidos de insetos e outras pragas que possam contaminá-los. Todo cuidado é pouco, quando se trata da alimentação, evitando, assim, que por desatenção ou desconhecimento, as festividades fiquem prejudicadas”, declara o presidente da Comissão Técnica de Alimentos do CRMV-SP, Ricardo Calil.
Diagnóstico e tratamento
Ao apresentar sintomas após a ingestão de alimentos suspeitos de contaminação, é importante procurar atendimento médico imediatamente. O diagnóstico geralmente é feito com base nos sintomas e no histórico alimentar recente. Em alguns casos, podem ser realizados testes de laboratório para confirmar o diagnóstico.
Já o tratamento da DTA visa aliviar os sintomas e prevenir a desidratação. Em casos mais leves, a doença pode ser tratada com repouso, ingestão de líquidos e medicamentos para náuseas, vômitos e diarreia. Nos casos mais graves, a DTA pode levar à hospitalização e até mesmo ao óbito.
Recomendações
- Não comprar alimentos industrializados que não possuem rotulagem com as informações obrigatórias, como a procedência do alimento, a data de validade, composição, valores nutricionais e outras;
- Não comprar alimentos de origem animal sem rotulagem ou que não possuem a informação do registro no órgão fiscalizador (SIF, SISP, SIM e, se for o caso, SISBI ou o Selo Arte);
- Ao consumir alimentos preparados no comércio ambulante, verifique se os alimentos são bem conservados, se os alimentos expostos estão protegidos contra insetos e poeira;
- Evitar consumir de locais em que os manipuladores de alimentos não usam vestuário adequado (roupas limpas, calçados fechados, toucas e luvas) e estejam com acessórios (pulpeiras e anéis);
- Observar se no local têm acesso à lavagem adequadas das mãos, com água, sabonete líquido e toalhas de papel, e também se os manipuladores estão utilizando utensílios limpos e seguindo boas práticas de higiene;
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, principalmente antes de comer, preparar alimentos e após usar o banheiro;
- Manter os alimentos crus separados dos cozidos, evitando a contaminação cruzada e utilizar utensílios diferentes para cada tipo de alimento (por exemplo, utilize tábuas de corte diferentes para alimentos crus e cozidos);
- Refrigerar os alimentos perecíveis e mantê-los em temperatura adequada (ou observe se os alimentos perecíveis estão armazenados em temperatura adequada, como em geladeira ou bolsa térmica com gelo para mantê-los frescos durante o dia);
- Cozinhar os alimentos a uma temperatura interna segura e não consumir alimentos crus ou mal cozidos, especialmente carnes, aves, ovos e frutos do mar;
- Dê atenção especial a produtos como maionese, saladas, sanduíches e cremes, que podem estragar facilmente se não forem armazenados e conservados adequadamente;
- Beba bastante água para evitar a desidratação, especialmente em ambientes quentes e com aglomeração de pessoas. E sempre beba água potável (filtrada ou fervida);
- Evite o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, pois podem causar desidratação e aumentar o risco de intoxicação alimentar;
- Descarte o lixo em locais apropriados, já que o descarte inadequado pode atrair insetos e animais que podem contaminar os alimentos;
- Mantenha limpos os ambientes de preparação de alimentos, limpando e desinfetando as superfícies da cozinha regularmente;
- Evite alimentos de alto risco, como carnes cruas ou mal cozidas; ovos crus ou mal cozidos; leite e produtos lácteos não pasteurizados; frutas e vegetais crus, sem estarem lavados e desinfetados; alimentos perecíveis como maionese, saladas, sanduíches e cremes, que podem estragar facilmente se não armazenados e conservados adequadamente.
Papel do médico-veterinário
O médico-veterinário tem um papel fundamental na inspeção de alimentos, especialmente os de origem animal, além disso, muitos atuam como fiscais nas vigilâncias sanitárias, inclusive nos dias de folia.
Para promover a saúde da população por meio de um alimento seguro e confiável, o médico-veterinário:
- Examina os animais antes e depois do abate para verificar se estão saudáveis;
- Realiza a inspeção sanitária das instalações e dos processos de produção, fazendo a conferência de condições de armazenagem, manipulação e elaboração de alimentos;
- Orienta quanto a medidas de qualidade e segurança dos alimentos;
- Coleta amostras dos alimentos para análise em laboratório;
- Participa de fiscalizações e apreensão de produtos clandestinos;
- Educa a população sobre a importância dos cuidados a serem tomados ao consumir alimentos.