Vigilância sanitária é reforçada contra proximidade da influenza aviária

Médicos-veterinários e zootecnistas atuam na linha de frente do trabalho preventivo
Texto: Comunicação CRMV-SP Foto: Freepik

Um novo surto de Influenza Aviária, ou gripe aviária, atingiu países da Europa, da Ásia e das Américas e, embora não haja registros de ocorrência da doença no Brasil, uma grande mobilização de prevenção já está em andamento por aqui.

A Influenza Aviária é uma doença viral, causada pelo Vírus de Influenza Tipo A, sem ocorrência no Brasil. Mesmo assim, o País possui laboratório referência para sua detecção na América Latina.

Segundo o coordenador da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), Luís Fernando Bianco, o Estado intensificou as ações de vigilância, desde outubro do ano passado, por meio do seu Programa Estadual de Sanidade Avícola (PESA), que executa as medidas de prevenção à introdução da Influenza Aviária.

“A CDA trabalha com a situação atual, em alerta para a possibilidade real de surgimento de um foco, simulando uma situação de emergência e, ainda, planejamento para um reestabelecimento”, explica Bianco. Ao mesmo tempo, o coordenador destaca que o momento não é de alarde, mas de vigilância e alerta. “Apesar da detecção da doença em países vizinhos, não há a presença da gripe aviária no País”, salienta.

Inquérito

O coordenador da CDA informa que, além das diversas ações realizadas através do PESA, entre as quais colheitas de amostras e iniciativas de orientação e instrução, está em curso no Estado um amplo inquérito, que permite a identificação precoce de qualquer foco e a ação rápida para o seu saneamento. “Já possuímos capacidade instalada para diagnóstico, com rede de técnicos, materiais e equipamentos distribuídos estrategicamente em diversas regiões, e laboratórios mapeados”, afirma.

O Estado possui ainda outras ações programáticas em andamento, como as de apresentação dos trabalhos e informações oficiais atualizadas para os Responsáveis Técnicos de estabelecimentos, assim como para outros técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Plano de contingência

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) também informou que está preparado para o enfrentamento da Influenza Aviária e já tem um plano de contingência elaborado para acionar no caso da entrada da doença no Brasil.

Segundo a coordenadora de Assuntos Estratégicos do Departamento de Saúde Animal do Mapa, Anderlise Borsoi, havendo alguma ocorrência, o serviço veterinário oficial dos estados entrará com ações de bloqueio da área, além de outras previstas dentro do plano, executadas em um raio de 10 quilômetros da detecção. “É uma série de ações que vão sendo desencadeadas à medida da necessidade”, explica.

Vigilância ativa

A pasta vem aumentando as medidas preventivas à entrada do vírus da gripe aviária no Brasil desde o ano passado e, diante da confirmação recente de casos na Argentina e no Uruguai, anunciou o incremento das medidas de vigilância ativa, com um fortalecimento ainda maior da fiscalização.

“Estamos tomando providências preventivas, reforçando nosso sistema de vigilância nas fronteiras. O Brasil continua com status livre da gripe aviária”, disse o ministro Carlos Fávaro, em coletiva concedida em fevereiro.

Além do aumento das medidas de vigilância ativa, o ministro destacou a importância da vigilância passiva, que é a comunicação da doença por produtores e pelos cidadãos que percebam sintomas em aves caseiras ou silvestres. Ao notar qualquer sinal, inclusive em aves de vida livre, a informação deve ser feita imediatamente ao Serviço Veterinário Oficial municipal ou pela internet na plataforma e-Sisbravet.

Foi lançado pelo Mapa, ainda, o livro digital “Diálogos para Prevenção da Influenza Aviária”, que faz parte da campanha “Influenza Aviária? Aqui não!”. O livro é considerado peça essencial de educação sanitária em um momento em que o Brasil redobra a vigilância para evitar a chegada da doença no País.

Com material multimídia, a publicação traz vídeos, mensagens de voz, de texto e infográficos que podem ser usados em projetos e atividades educativas.

Detecção precoce

Por deter o conhecimento de várias espécies, o médico-veterinário exerce papel fundamental para o monitoramento e controle da Influenza Aviária. Ele é o profissional que está presente como Responsável Técnico e orientador nos órgãos de defesa sanitária animal, em granjas, indústrias avícolas, prefeituras e cooperativas rurais.

Para o presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), Fabrício Rassy, essa atuação abrange o que considera extremamente importante neste cenário: garantir uma possível detecção precoce da doença e, no caso de uma ocorrência, de seu controle e erradicação.

Reservatórios Naturais

Rassy informa que muitos dos casos de introdução do vírus da influenza aviária e da ocorrência de surtos em diversos países estão relacionados ao contato de aves silvestres migratórias com aves de subsistência. Portanto, segundo ele, um ponto essencial na cadeia de vigilância é a observação e acompanhamento de possíveis sinais da doença em populações de aves silvestres que realizam migração.

A ocorrência da doença também já foi relatada em algumas espécies de mamíferos, incluindo o homem, em países da América do Norte, Europa e Ásia, mas não aqui, nem em territórios vizinhos. 

 “Estamos em uma situação bastante sensível, com o risco de ocorrência desta doença em aves no Brasil. Caso isso se dê, o receio é de severos problemas no que se refere à produção, comercialização e exportação de frango”, avalia.

Biosseguridade

O diretor técnico da Associação Paulista de Avicultura e consultor em assistência técnica em avicultura, José Roberto Bottura, avalia que os órgãos responsáveis pela vigilância sanitária, como o Mapa e a Defesa Agropecuária do Estado, estão trabalhando firmemente para que o vírus, que não foi detectado ainda no País, não entre.

Por isso, ele entende que a situação não requer alardeamento, já que o Brasil tem uma rede de órgãos e entidades bastante articulada em torno dos cuidados. “Os procedimentos adequados para isso estão muito bem descritos”, afirma.

No entanto, Bottura ressalta que os procedimentos de biosseguridade devem ser levados muito a sério por todos os envolvidos. Com vistas a isso, informa que o Grupo de Emergência para Influenza Aviária da Associação, que possui nove setores representados, definiu em reunião algumas recomendações para os produtores.

Entre elas, estão a de que eles não devem permitir que aves de vida livre adentrem os galpões de criação e para que os criadores de aves soltas, nos sistemas caipira ou free range, recolham seus planteis, a fim de evitar que tenham contato com as aves de vida livre.

“Lembrando que as pessoas também podem transportar os agentes causadores da doença. Orientamos, ainda, que seja proibida a realização de eventos com concentração de pessoas na presença de aves”, explica o médico-veterinário, que também é membro da Comissão de Agronegócio do CRMV-SP.

Rotas de migração

 O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de carne de frango do mundo, e um dos maiores produtores de ovos. Cerca de 34% da produção nacional de carne de frango são exportados a mais de 150 países e correspondem a 55% do comércio internacional.

Por isso, o presidente da Comissão de Saúde Animal do CRMV-SP, o médico-veterinário Cláudio Regis Depes, entende que o momento é de cautela. Ele atenta para o fato das aves silvestres migratórias serem hospedeiros naturais e reservatórios dos vírus causadores da doença, e estarmos no período de migração, que dura de novembro a abril.

“As rotas de migração dessas aves saem da América do Norte, com direção à América do Sul, e várias delas passam em território brasileiro”, acrescenta. Depes explica que a Influenza Aviária é caracterizada por ser muito contagiosa e por causar alta e súbita mortalidade de aves. Mas destaca que não há evidências científicas da transmissão do vírus a humanos por meio de alimentos. 

O médico-veterinário chama a atenção, ainda, para a importância da notificação de toda e qualquer suspeita da ocorrência da doença. “Ela deve ser feita o mais rapidamente possível”, sublinha. Para Depes, as medidas necessárias para a devida vigilância estão sendo adotadas, e contamos no País com plano de ação voltado ao combate adequado de uma ocorrência.

Competência

O zootecnista Celso Carrer, presidente da Comissão de Zootecnia e Ensino, observa o quadro sob a mesma perspectiva. E considera que a cadeia produtiva da avicultura tem demonstrado, historicamente, competência suficiente para reagir prontamente a uma urgência sanitária, sem prejudicar aos interesses do mercado e à certificação de qualidade dos produtos finais.

Porém, alerta que o enfrentamento do desafio colocado abrange esforços em parceria de todos os atores dessa cadeia, e a criação de condições para a ampliação de quadros profissionais especializados. “Neste cenário, zootecnistas e médicos-veterinários desempenham papel necessário e destacado”, conclui.

A transmissão da Influenza Aviária

Professora titular sênior de epidemiologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e membro da Comissão de Agronegócio do CRMV-SP, Masaio Mizuno Ishizuka acaba de realizar uma revisão de literatura sobre a epidemiologia e a profilaxia da Influenza Aviária.

De acordo com o trabalho, a influenza aviária, conhecida desde o século XIX, é uma doença infecciosa e altamente transmissível, responsável por vários casos esporádicos de surtos graves. Causada por vírus da família Orthomyxoviridae, encontra nas aves aquáticas de vida livre os hospedeiros naturais do vírus, e, consequentemente, a dinâmica do ciclo da infecção ocorre entre essas espécies, muitas das quais migratórias.

Por isso, são frequentes as transmissões de aves migratórias para aves domésticas e outras espécies animais, sendo muitas delas transitórias, a menos que o vírus se adapte de forma altamente patogênica a determinados hospedeiros específicos.  Até 2003, a maior parte das transmissões que se originaram de aves silvestres envolveu via de baixa patogenicidade (LPAI), que leva a poucos causos de adoecimento, mas muitas delas se converteram em vírus de alta patogenicidade (com alta capacidade de provocar a doença), o HPAI, em galinhas.

No que diz respeito à profilaxia, Masaio apurou que, em situações de suscetibilidade, as indicações são de vigilância, para detecção precoce do vírus, e monitoramento da ocorrência de cepas virais da IA para subsidiar estratégias de saúde pública e saúde animal.

CRMV-SP realiza evento on-line sobre Influenza Aviária

Dando sequência ao Ciclo de Palestras Zoonoses, o CRMV-SP realizará no dia 8/3, às 19h, o evento on-line Influenza Aviária. Na ocasião, o diretor técnico do Serviço do Programa de Sanidade Avícola, Paulo Roberto Blandino de Lima Dias, falará sobre as ações do Estado com relação à Influência Aviária.

Na ocasião, a analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa de Conservação de Aves Silvestres do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade, Silvia Neri Godoy, abordará a importância das aves silvestres na Vigilância da Influenza Aviária.

As inscrições para a participação podem ser feitas por meio do botão abaixo. Serão emitidos certificados de participação para os inscritos.


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