Arranhões, mordidas, coices que podem causar fraturas e o constante risco de exposição a zoonoses. Esses são apenas alguns dos perigos enfrentados diariamente por médicos-veterinários e zootecnistas em sua prática profissional. Muitos desses acidentes, no entanto, podem ser evitados com o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Os EPIs são dispositivos ou produtos de uso individual destinados à proteção da saúde e da integridade física do trabalhador. Itens como capacetes, luvas, óculos de proteção, aventais e botas antiderrapantes reduzem significativamente o risco de acidentes e minimizam suas consequências.
Segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (AEAT), divulgado pelo Ministério do Trabalho, 223 acidentes foram registrados em 2023 na região Sudeste, de acordo com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) de serviços veterinários e zootécnicos. Contudo, o número real pode ser ainda maior, já que muitos profissionais atuam como autônomos e, nesses casos, a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) não é obrigatória.
Mesmo quando o animal aparenta estar calmo, o risco existe. “É importante lembrar que, por mais dócil que pareça, o animal age por instinto. Por isso, o uso de EPIs não pode ser negligenciado”, alerta o médico-veterinário Eduardo Ayres, pós-graduado em Diagnóstico por Imagem e coordenador do Núcleo de Diagnóstico por Imagem da Anclivepa-SP.
Ayres destaca ainda que a conscientização sobre a função protetiva das vestimentas profissionais ainda é limitada. “Muitos veem o avental ou o pijama cirúrgico apenas como parte do uniforme, quando, na verdade, eles são equipamentos essenciais de proteção. A informação e a fiscalização são fundamentais para que o uso dos EPIs seja realmente valorizado no dia a dia”, conclui.
Exposição a Zoonoses
A Norma Regulamentadora nº 6 (NR-6), do Ministério do Trabalho, determina que os EPIs devem ser fornecidos gratuitamente pelo empregador e utilizados obrigatoriamente por todos os trabalhadores expostos a riscos durante suas atividades.
Na Medicina Veterinária, os perigos vão muito além do contato direto com os animais. O médico-veterinário Eduardo Ayres, destaca os principais riscos enfrentados pela categoria.
“Eles envolvem desde mordeduras e contato com fluidos corporais até a manipulação de equipamentos e substâncias potencialmente perigosas. Profissionais podem estar expostos à radiação ionizante, como no uso de raios X, e a agentes biológicos que causam zoonoses, além de substâncias químicas que podem levar a alergias, inflamações ou até mesmo câncer”, explica Ayres.
Lidando com Grandes Animais
O trabalho do zootecnista envolve uma ampla gama de atividades que vão desde o manejo direto com animais até o uso de ferramentas agrícolas e a construção ou manutenção de instalações. Em áreas como a análise de alimentos, também há contato com substâncias químicas, como ácidos e reagentes. Essas tarefas expõem os profissionais a riscos variados, como cortes, quedas e queimaduras, tornando o uso de EPIs essencial.
Botas, capacetes, luvas e óculos de proteção são exemplos de EPIs indispensáveis para garantir a segurança no exercício da profissão.
A zootecnista Kátia Oliveira, presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, atua com equinos e destaca os equipamentos que utiliza com mais frequência no dia a dia. “Como zootecnista de equinos, uso regularmente botas de couro, que oferecem maior proteção aos pés em caso de atrito ou impacto. Em algumas situações, também utilizo luvas de couro, especialmente quando trabalho com cordas, para evitar assaduras e lesões nas mãos”, explica.
Negligência Não é Acidente
Tanto médicos-veterinários quanto zootecnistas reconhecem a importância do uso de EPIs no exercício da profissão. No entanto, muitos só passam a adotá-los com regularidade após vivenciarem ou presenciarem um acidente. Para os especialistas, a conscientização deve começar ainda na graduação.
O médico-veterinário Eduardo Ayres relata casos em que o uso correto dos equipamentos foi decisivo para evitar consequências mais graves. “Durante a aplicação de quimioterapia, o uso de óculos de proteção impediu que uma gotícula atingisse o olho de um colega. Em outra situação, o tecido do uniforme evitou que a mordida de um cão perfurasse a pele de um auxiliar”, relata.
A zootecnista Kátia Oliveira, também professora universitária, reforça que a prevenção precisa ser tratada com seriedade desde a formação dos futuros profissionais. “Infelizmente, muitas pessoas acreditam que nunca serão vítimas de um acidente, até que ele aconteça. Já presenciei profissionais sendo atingidos por cavalos enquanto usavam apenas tênis ou sandálias”, conta.
Em sala de aula, ela procura reforçar esse compromisso com a segurança. “Sempre digo aos meus alunos: existe uma linha tênue entre acidente e negligência. O imprevisto pode acontecer mesmo com todos os cuidados, mas se você não se protege, não é mais acidente — é falta de responsabilidade.”
28 de Abril – Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho
Instituído pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho é uma data voltada à conscientização sobre a importância de ambientes laborais seguros, saudáveis e dignos. A OIT, agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), tem como missão promover condições de trabalho decente e produtivo para homens e mulheres em todo o mundo.
No Brasil, a data também marca o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes do Trabalho, conforme a Lei nº 11.121/2005. A iniciativa busca homenagear os trabalhadores que perderam a vida em decorrência de acidentes e reforçar a importância da prevenção, com destaque para o uso adequado dos EPIs.