Para quem sonha em atuar no cuidado e na produção animal, a escolha do curso de Medicina Veterinária ou Zootecnia exige atenção redobrada. Ambas são profissões regulamentadas por lei e, para exercê-las legalmente, é necessário possuir diploma válido, e registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do estado em que for atuar. Além disso, o Projeto de Lei (PL) nº 4.262/2023 pode aprovar em breve o exame de proficiência para habilitação de recém-formados em Medicina Veterinária.
“A vivência prática presencial é insubstituível na formação do médico-veterinário. É na prática clínica que o aluno desenvolve o raciocínio profissional, a responsabilidade técnica e o preparo emocional para lidar com os animais e seus os responsáveis”, afirma a conselheira do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e docente na Unesp-Araçatuba, Daniela Denadai.
No caso da Zootecnia, é importante avaliar o corpo docente e a estrutura da instituição. “O estudante precisa verificar se os professores têm formação específica em Zootecnia, se o curso adota metodologias ativas e se há programas de extensão que coloquem o aluno em contato com a realidade do campo”, orienta a conselheira e presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do Regional, Katia de Oliveira
Tanto na Medicina Veterinária quanto na Zootecnia, o ensino presencial é requisito para uma formação técnica sólida. A Resolução CNE/CES nº 1/2022, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação, reforça a obrigatoriedade de atividades práticas ao longo da formação, algo inviável em modelos puramente a distância.
O que observar ao escolher a faculdade
Para as conselheiras do CRMV-SP, os principais critérios que os estudantes devem considerar no momento de escolher uma faculdade são:
- Reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação (MEC): cursos não reconhecidos não geram diplomas válidos;
- Corpo docente qualificado: verifique se há professores com doutorado e experiência prática na área;
- Infraestrutura adequada: a instituição deve contar com hospital veterinário, fazenda-escola, biblioteca, laboratórios didáticos e setores produtivos;
- Registro no CRMV-SP: a instituição deve ter registro no CRMV-SP e contar com um responsável técnico homologado, conforme determina a Resolução CFMV n° 1.777/2017.
Na Medicina Veterinária, é fundamental que a carga horária prática esteja de acordo com a Resolução CFMV nº 595/1992, que estabelece as disciplinas e conteúdos teórico-práticos que devem ser ministrados nos cursos de graduação exclusivamente na modalidade presencial. Já na Zootecnia, segundo a Resolução CNE/CES nº 4/2005, o curso deve proporcionar ao estudante vivências nas áreas de nutrição, melhoramento genético, reprodução e manejo de diferentes espécies.
Além disso, a divisão em turmas com menor número de alunos pode favorecer a aprendizagem prática, essencial à formação. “O ideal é que haja limitação nessas atividades para garantir o acompanhamento adequado”, destaca Katia.
Outro ponto de atenção são instituições que oferecem cursos em modelo à distância (EaD) para áreas que, por lei, exigem presença física nas atividades práticas. “Nenhum vídeo ou simulação substitui o contato com o animal real. É no ambiente prático que o aluno desenvolve ética, empatia e responsabilidade profissional”, ressalta Daniela.
Consequências da má escolha
Formar-se em um curso irregular pode trazer graves prejuízos. O profissional poderá ter dificuldades para se inscrever no CRMV e para se inserir no mercado de trabalho, além de poder responder a processos éticos ou cíveis por imperícia, se atuar de forma negligente ou mal preparada. “A formação deficiente resulta em profissionais inseguros e, pior, coloca em risco a saúde e o bem-estar dos animais e da sociedade”, alerta Denadai.
Com a implantação do exame de proficiência após cinco anos da aprovação do PL que está em tramitação, quem ingressar em um curso superior em Medicina Veterinária ou Zootecnia também precisará, ao final da graduação, comprovar conhecimento técnico para se inscrever no Conselho e atuar profissionalmente. Isso reforça a necessidade de uma formação de qualidade desde o início da trajetória acadêmica.
O papel do CRMV-SP
Pensando na proteção da sociedade e no reconhecimento das profissões, o CRMV-SP realiza visitas anuais às instituições de ensino do estado de São Paulo, conhecendo de perto seus projetos pedagógicos, infraestrutura e corpo docente. “Identificamos lacunas, ouvimos coordenadores de curso e orientamos melhorias, para que o ensino acompanhe as exigências técnicas e legais da profissão”, explica Katia.
Em conjunto com o Fórum dos Conselhos de Atividades Fim da Saúde (Fcafs), o CRMV-SP também tem atuado politicamente para mobilizar parlamentares e o Ministério da Saúde pelo apoio ao Projeto de Lei nº 5.414/2016, que proíbe o ensino a distância e semipresencial em cursos da área da saúde.
O CRMV-SP reforça que escolher bem a instituição de ensino é investir no próprio futuro profissional, na segurança do exercício legal da profissão e na qualidade dos serviços prestados à sociedade. “Formação não é só diploma, é vivência, preparo técnico, responsabilidade ética e compromisso com o bem-estar animal e com a saúde pública”, finaliza Daniela.
Mais informações sobre o reconhecimento de cursos, diretrizes e regulamentações podem ser obtidas no site do Ministério da Educação (www.gov.br/mec) e do Sistema CFMV/CRMVs (www.cfmv.gov.br).