Gestão de resíduos é compromisso com a vida e com a Uma Só Saúde, destacam profissionais

Encontro promovido pelo CRMV-SP debateu práticas sustentáveis e responsabilidades técnicas no manejo de resíduos, com foco na promoção da Saúde Única
Texto e foto: Comunicação CRMV-SP

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) realizou, em 3 de novembro, o encontro “Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde na Perspectiva da Uma Só Saúde”, que reuniu autoridades sanitárias e ambientais, gestores públicos e especialistas em sanidade animal.

O evento apresentou uma visão abrangente sobre as responsabilidades técnicas, legais e éticas envolvidas no manejo de resíduos, destacando que o cumprimento da legislação representa apenas o ponto de partida para uma gestão integrada e preventiva em saúde.

Abrindo a programação, Luiz Carlos Barbosa Alves, farmacêutico, enfermeiro, biólogo e autoridade sanitária da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), definiu o tom do encontro ao afirmar que gerenciar resíduos é um ato de cuidado, responsabilidade técnica e compromisso com a vida.

Ele apresentou um panorama das normas que orientam o manejo dos resíduos de serviços de saúde, desde a Resolução Conama nº 358/2005 até a RDC nº 222/2018 da Anvisa, e reforçou que o gerenciamento adequado deve ser compreendido como parte do processo assistencial, e não como uma atividade isolada. “O gerenciamento de resíduos é mais do que uma obrigação. Ele é parte do cuidado, da assistência e da rede de atenção”, afirmou.

Alves também ressaltou que médicos-veterinários e zootecnistas devem exercer protagonismo técnico e ético nas etapas de segregação, acondicionamento e destinação ambientalmente segura dos resíduos.

Soluções para a destinação de carcaças

A segunda palestra foi ministrada pelo médico-veterinário Artur Luiz de Almeida Felício, chefe do Departamento de Sanidade Animal da Defesa Agropecuária, que apresentou alternativas sustentáveis e economicamente viáveis para a destinação de carcaças e outros resíduos do setor agropecuário.

Felício ressaltou que “a destinação de carcaças de animais de produção precisa ser vista para além de uma obrigação, pois pode gerar recursos”, enfatizando que a gestão adequada reduz riscos sanitários e ainda traz benefícios econômicos.

O palestrante apresentou diferentes tecnologias aplicáveis, como compostagem controlada, incineração, desidratação e uso de biodigestores, este último capaz de transformar resíduos em energia. “Uma granja que possui um biodigestor pode incluir até 15 kg de carcaça por metro cúbico de água, gerando energia e riqueza”, exemplificou.

Eficiência ambiental e segurança

Em seguida, Fernando Antônio Wolmer, engenheiro químico da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), apresentou os aspectos técnicos e legais relacionados ao licenciamento e ao controle das operações de tratamento e destinação final de resíduos.

Ele destacou que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) representou um marco na consolidação da responsabilidade compartilhada e na busca por soluções seguras, rastreáveis e auditáveis.

Wolmer também explicou os testes de eficácia aplicados aos equipamentos de tratamento, citando o uso de ampolas com geobacilos como indicadores biológicos. Segundo ele, a ausência de crescimento microbiológico após o teste comprova que o processo é eficaz e está em conformidade com a legislação vigente.

“O êxito na gestão de resíduos depende, sobretudo, das etapas iniciais, como segregação, acondicionamento interno, identificação e transporte interno, que constituem as barreiras primárias contra a contaminação ambiental e ocupacional”, disse o engenheiro.

Educação, pesquisa e atualização

Encerrando o ciclo de palestras, a médica-veterinária Vera Letticie de Azevedo Ruiz, presidente da Comissão de Uma Só Saúde do CRMV-SP, abordou o gerenciamento de resíduos em instituições de ensino, pesquisa e hospitais-escola. Ela informou que o Manual do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) do Regional está em fase de atualização para adequação à legislação vigente.

Segundo Letticie, “o manual é essencial para traduzir normas complexas em práticas cotidianas e orientar os usuários sobre o que realmente precisa ser feito em meio a resoluções, decretos e normativas”.

A professora destacou a complexidade do gerenciamento nesses ambientes, que lidam com maior volume e diversidade de resíduos, inclusive químicos e radioativos. Explicou que, enquanto uma clínica gera resíduos sob a responsabilidade de um único profissional, em um hospital-escola dezenas de estudantes manipulam materiais diariamente, ampliando o potencial de geração.

Ela reforçou que essas instituições devem servir de referência para os futuros profissionais, adotando práticas alinhadas ao propósito de Uma Só Saúde. Entre os desafios, mencionou a rotatividade de alunos, a necessidade de planos acessíveis e o treinamento contínuo das equipes.

“Do dono da clínica ao estagiário e à equipe de limpeza, todos precisam compreender e agir corretamente para minimizar riscos”, destacou.

Letticie também ressaltou os aspectos econômico e ético da gestão eficiente, lembrando que o descarte inadequado de medicamentos e insumos causa prejuízos financeiros e ambientais. Concluiu incentivando a criação de comissões institucionais, a adaptação dos planos conforme o manual do Conselho e a inclusão do tema em disciplinas e projetos de pesquisa. “Planejar é o caminho. Quando a gente planeja, erra menos. E isso é cuidado, é Uma Só Saúde em ação”, finalizou.

Interação com os participantes

Ao final das palestras, o evento contou com uma mesa-redonda, que possibilitou aos participantes debater e trocar experiências. A programação também foi transmitida ao vivo pelo canal do CRMV-SP no YouTube, ampliando o alcance das discussões.

O encontro reforçou que o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde veterinários é um campo multidisciplinar, que requer conhecimento técnico, responsabilidade ética e integração entre setores. Da legislação à prática, do laboratório ao campo, as falas convergiram em um mesmo propósito: proteger a vida em todas as suas formas, sob a perspectiva da Uma Só Saúde.

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