Ausência de políticas públicas de manejo e controle populacional de animais domésticos gera impacto ambiental

Evento discute a relação direta entre saúde pública, conservação da biodiversidade e guarda responsável de cães e gatos
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Pixabay

Não é segredo para ninguém que cães e gatos são dotados de instintos naturais que foram minimizados ou extintos ao longo do processo de domesticação. No entanto, algumas características ancestrais permanecem intrínsecas às espécies e necessitam muitas vezes, dizem os especialistas em comportamento animal, de estímulo e controle para que o bem-estar dos pets seja preservado.

Enquanto muitos tutores buscam alternativas para equilibrar a convivência entre os membros da família, incluindo os pets e a rotina limitada imposta pela vida urbana, os médicos-veterinários vão além e orientam sobre outros fatores relacionados à guarda responsável cujo impacto influencia a biodiversidade e pode afetar todos os envolvidos na complexa teia formada pelo ecossistema, entre os quais os seres humanos.

Mas como associar um animal de estimação a impactos ao meio ambiente? É para responder essas e outras perguntas que o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), por meio de sua Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS), realiza seminário, em formato digital, abordando as principais dúvidas sobre “Guarda responsável de cães e gatos como ferramenta à conservação da Biodiversidade”.

Para o presidente da Comissão, Fabrício Braga Rassy, “a ideia do evento surgiu da confirmação de uma situação recorrente que, apesar de variar de acordo com o local ou situação, reflete a realidade do risco iminente que a presença dos cães e gatos mantidos em estado feral nas proximidades e no interior de áreas de conservação representa”.

Rassy, que atua como Chefe da Divisão de Veterinária da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP), lembra que “há tempos foi possível constatar nas pequenas áreas remanescentes, que aparentavam integridade exterior, indícios expressivos de modificações relacionadas à presença dos animais errantes que contribuíram para alterar a constituição faunística”.

Políticas públicas e educação

Além da preocupação com a biodiversidade, Fabrício Rassy acrescenta que é fundamental informar à população que, nesse cenário, os cães e gatos não são os vilões, “pelo contrário, é fundamental apontar o impacto que a falta de um responsável por esses animais domésticos, assim como a ausência de políticas públicas podem influenciar na qualidade de vida de todos os envolvidos nesse ciclo, inclusive dos humanos que podem ser acometidos pelas zoonoses”.

Sobre a atuação dos médicos-veterinários em questões relacionadas ao meio ambiente, Rassy reitera que os profissionais do setor são agentes fundamentais para o enfrentamento da situação já constatada em diversos estudos produzidos no País que apontam, entre outros prejuízos, os riscos sanitários na interação inapropriada entre animais domésticos e a fauna.

“Iniciativas educacionais e preventivas devem ser abordadas por meio do conhecimento técnico que ilustra, na prática, qual a realidade sobre a inter-relação existente entre os animais, seja nos aspectos comportamentais, predatórios ou sanitários, com o destaque para a incidência na transmissão de doenças que podem acometer também os humanos, gerando um ciclo de zoonoses que causará danos à saúde pública”, afirma o presidente da CTMVAS/CRMV-SP.

Caçadores e transmissores de doenças

Ferramentas de educação ambiental por meio de políticas públicas de prevenção e monitoramento também estão em pauta no evento com o intuito de conscientizar a população sobre o potencial de risco causado pelo instinto natural de caça dos cães e gatos que, pela proximidade com as áreas de conservação, têm papel decisivo na extinção de algumas espécies nativas também por meio da proliferação de doenças.

Vale ressaltar que o Seminário oferece, ainda, a oportunidade de compreender, na prática, a definição da ‘Saúde Única’ cujo propósito é avaliar as condições de vida no planeta sob a ótica de uma visão integrada, que considera a indissociabilidade entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.

Preocupação mundial

-A Universidade de Oxford divulgou uma lista em 2013 indicando 64 espécies de animais selvagens interagindo com cães, entre elas, 63 estavam na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza).

-Estudo publicado na “Nature Communications” em 2013, mostrou que os felinos são responsáveis anualmente, apenas nos Estados Unidos, pela morte de 1,4 bilhão a 3,7 bilhões de aves. Os números foram fundamentais para que as autoridades determinassem condições restritivas para a posse de gatos. Em alguns estados do país, só é permitido manter os felinos no interior das casas, sem nenhum acesso a áreas externas, como jardins e quintais.

-Na ilha de Fernando de Noronha os gatos não domiciliados colocam em risco, por exemplo, espécies como o lagarto nativo mabuia (Trachelepys atlantica), o rabo-de-junco-de-bico-laranja (Phaethon lepturus) e a cocoruta (Elaenia ridleyana).

Programação:

Data: 27/04/2022

Público: Médicos-veterinários e graduandos, médicos e biólogos que atuam na Saúde Pública.

Programação:

09h00  Palestra: Medicina Veterinária do Coletivo: conceito e ação

            Palestrante: Méd.-vet. Rosângela Ribeiro Gebara

09h35  Palestra: Interação entre carnívoros domésticos e silvestres – impactos e consequências para a Biodiversidade.

            Palestrante: Méd.-vet. Liliane Milanelo

10h40    Intervalo

11h00    Palestra: Programa Cãoservação

              Palestrante: Méd.-vet. Silvia Neri Godoy

11h35    Palestra: Ações de Controle populacional em áreas de entorno das unidades de conservação.

              Palestrante: Méd.-vet. Hélia Maria Piedade

12h10    Encerramento

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