É comum vermos em marquises de prédios e postes de eletricidade o aparecimento repentino de ninhos de aves que fazem do meio urbano seus novos habitats. Aos apreciadores das mais diversas espécies, é a oportunidade de alimentar e atrair os pássaros que se aventuram nas cidades. Nas residências, potinhos com água, rações e sementes são chamarizes e garantem a presença dos animais silvestres que se arriscam em busca de comida nos grandes centros. A época de reprodução das aves nos meses de setembro e outubro intensifica a cantoria durante madrugadas.
A paixão por pássaros de Olívia de Camilo, 70 anos, começou há dez anos. Moradora do bairro Nova Gerty, em São Caetano, a dona de casa alimenta Kika, sua calopsita de estimação, mas oferece comida às aves que aparecem todos os dias para compartilhar o alimento. “Dou muito arroz e ração aos pardais e bem-te-vis. Alguns até entravam na cozinha para buscar comida”, diz a senhora, que prefere conviver com pássaros que com outros animais de estimação. “Eles são minha companhia e minha distração.”
Há dez meses o vendedor Reginaldo Ferrari, 38, observa o ninho de um casal de bem-te-vis construído há pelo menos dois anos em um poste de eletricidade, ao lado de um transformador. O habitat improvisado fica na Avenida Joaquim Nabuco, Centro de São Bernardo. “Da minha mesa, consigo vê-los todos os dias. Gosto de ouvi-los cantando. Mesmo com chuva e sol fortes, barulho de carros e ambulâncias, eles não vão embora. Provavelmente são prejudicados pelo desmatamento e procuram lugar para se alojar”, opina.
Para o ambientalista e presidente da Ong MDV (Movimento de Defesa a Vida), Virgílio Alcides de Farias, atualmente há inversão de significados em relação à presença das aves nas metrópoles. “Não são os pássaros que invadiram a cidade. É o centro urbano e os seres humanos que estão ocupando o habitat dos animais ao destruírem florestas a qualquer custo. É natural que as aves fiquem sem ter para onde ir e acabam nessa loucura atrás de sobrevivência. Precisamos promover o desenvolvimento equilibrado sem que haja dano ambiental, pois seja qual for a espécie, vai acabar morrendo de fome ou virando comida. Assisto esta situação desde 1984. O ser humano é a pior espécie que Deus já criou.”
Ornitólogo afirma que readaptação de aves não é forçada
Para o ornitólogo e autor do guia de campo Aves da Grande São Paulo, Pedro Develey, a presença de diversas espécies de aves em centros urbanos não é motivada pelo desmatamento e queimada em matas e florestas. “Isso acontece porque a cidade tem condição de abrigar as espécies. Originalmente a região da Grande SP é formada pela Mata Atlântica. Com o desenvolvimento urbano a vegetação foi substituída.”
De acordo com o especialista, as aves mais comuns encontradas em áreas urbanas são os bem-te-vis e pardais. Mas, há exceções. “Até o sabiá-laranjeira, (ave de floresta), pode ser encontrado em São Paulo.”
Hoje, no Grande ABC, cerca de 130 espécies moram nas sete cidades, principalmente pela proximidade com a Serra do Mar. Rio Grande da Serra é o município com a maior área verde (51,1%) seguido por São Bernardo (48,1%), Santo André (44,8%), Ribeirão Pires (37,9%), Mauá (13,2%), Diadema (5,7%) e São Caetano (0,1%).
Fonte: Diário do Grande ABC (acessado em 04/10/10)