A leishmaniose é um problema de saúde pública no Brasil e em diversos países vizinhos na Região das Américas. As consequências são graves, podendo resultar em morte, invalidez e mutilação em humanos e animais, e os números chamam a atenção das autoridades sanitárias. Nesta Semana de Controle e Combate à Leishmaniose, de 10 a 17 de agosto, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) alerta para a importância do controle da doença no País.
Os focos principais na prevenção a leishmaniose devem ser os cães e os ambientes – especialmente quintais -, ressalta o médico-veterinário Otávio Verlengia, membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais (CTCPA) do Regional.
“É muito importante evitar a proliferação dos insetos vetores da doença, que são chamados de flebotomíneos. O cuidado é semelhante ao que se recomenda contra a proliferação do mosquito da dengue, porém o foco de reprodução não está na água parada. No caso da leishmaniose, o vetor se reproduz em qualquer tipo de matéria orgânica”, explica Verlengia.
O médico-veterinário recomenda colocar qualquer entulho orgânico diretamente no lixo e não acumular nada. “Os quintais devem estar sempre limpos, sem folhas, galhos de árvores, fezes de animais, restos de madeira e lixos de um modo geral”, afirma. A orientação também vale para terrenos desocupados e criatórios de cães.
Prevenção em animais
No caso dos cães, a prevenção deve ser realizada com o uso de coleiras repelentes e/ou pipetas para aplicação, indica Verlengia. “Elas vão afugentar o mosquito, evitando que ele pique o cão. Se não consegue picar o animal, a doença está combatida.” Há ainda o recurso da vacina.
O médico-veterinário destaca também a importância do controle populacional desses animais. “Se os cães das ruas são controlados e os das casas estão vacinados, encoleirados e/ou com pipetas, isso diminui muito a incidência da leishmaniose”, afirma.
Prevenção no ser humano
O uso de mosquiteiros, telas nos portões e janelas, e uso de repelentes, especialmente em regiões endêmicas, ajuda na prevenção da doença em seres humanos. O mosquito vetor da leishmaniose é mais ativo em alguns períodos do dia: no amanhecer e no pôr-do-sol.
Pessoas que moram ou visitam regiões endêmicas e matas não podem deixar de proteger a pele. “Quando for fazer caminhadas ou trilhas, é preciso ter cuidado, pois são locais em que se tem mais contato com o flebótomo. Então, é interessante pensar no repelente e não ficar com o corpo exposto”, reforça o médico-veterinário.
Saúde pública
Um relatório de 2019 sobre a incidência da doença nas Américas aponta 15.484 registros no Brasil, mais do que o triplo do computado pelo segundo e o terceiro países apontados na lista: Colômbia (5.907) e Peru (5.349).
O levantamento foi feito pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que nos últimos anos apóia países endêmicos para desenvolvimento de iniciativas conjuntas em prol do fortalecimento das ações de vigilância e controle. O objetivo é reduzir as formas graves da leishmaniose, por meio do acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado.
Agravantes
A presidente da Comissão Técnica de Saúde Ambiental (CTSA) do CRMV-SP, Elma Polegato, diz que vários fatores contribuem para a leishmaniose ser considerada uma doença negligenciada e ter seus principais indicadores de ocorrência em alta. Ela aponta fatores socioeconômicos, analfabetismo, deficiências no sistema imunológico, desnutrição e infraestrutura.
“Novas estradas e ampliação das existentes, avanço de moradias em áreas que deveriam ser preservadas, que não contabilizam o impacto ambiental e sanitário da ocorrência de doenças, e fatores ambientais diversos como desmatamento, queimadas, mudanças climáticas, entre outros fatores”, exemplifica Elma.
Migração
Inicialmente considerada zoonose de animais silvestres, que acometia ocasionalmente em pessoas em contato com as florestas, a doença passou a ocorrer em zonas rurais, já praticamente desmatadas, e em regiões periurbanas, com a adaptação do mosquito e presença de reservatórios em espaços urbanos.
Elma destaca também a expansão da leishmaniose visceral em humanos no estado de São Paulo. “É um eixo principal de disseminação no sentido noroeste para sudeste. Observa-se maior concentração nas regiões de Araçatuba, Presidente Prudente e Marília”, finaliza Elma.
