Os recentes casos de maus-tratos a cavalos no País têm gerado comoção e exigido respostas rápidas e responsáveis. Nesse contexto, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), após denúncias, realizou fiscalização em uma hípica na Grande São Paulo. A vistoria resultou em recomendações para correção de falhas nas instalações internas, como áreas de manejo e espaços de descanso, além da revisão urgente de protocolos de controle de ectoparasitas. O objetivo foi assegurar o bem-estar físico e emocional dos equinos e o cumprimento da legislação de proteção animal.
Mais do que fiscalizar, o CRMV-SP entende que situações como essa devem se transformar em oportunidade de orientação e aprendizado para toda a categoria. Por isso, a partir dessas demandas práticas, o Conselho promoveu o evento on-line “Cavalos de Salto e Responsabilidade Técnica: Encontro Paulista de Alinhamento Profissional”, realizado em julho pelas Comissões Técnicas de Medicina Veterinária Legal e de Zootecnia e Ensino.
Voltado a Responsáveis Técnicos (RTs) de hípicas e centros de equitação, o encontro reforçou os deveres éticos e legais desses profissionais diante de casos de abuso e negligência. Para a médica-veterinária Andreia Boanova, integrante da Comissão de Medicina Veterinária Legal, iniciativas como essa são essenciais para fortalecer a atuação profissional.
“Eventos orientativos promovidos pelo CRMV-SP contribuem para a educação, conscientização e atualização dos médicos-veterinários. Eles capacitam os profissionais a identificar, documentar e agir corretamente diante de maus-tratos, além de orientar sobre normas e legislações vigentes, facilitando denúncias e ações efetivas contra infrações”, destaca.
Adesão superou as expectativas
A expressiva participação no evento on-line evidencia a preocupação e o comprometimento dos profissionais da área, avalia a presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, Kátia de Oliveira.
“A adesão de mais de 260 profissionais superou as expectativas e demonstra, de forma contundente, que a temática é urgente, relevante e mobilizadora dentro da comunidade técnico-profissional que atua com equinos”, ressalta.
A zootecnista mediou o encontro e conduziu a mesa-redonda realizada após as palestras principais. Segundo ela, a interação foi intensa. “Houve grande participação do público durante todo o evento, com perguntas pertinentes e interações constantes no chat, o que evidencia o interesse pelo tema. Muitos participantes também relataram desconhecimento de aspectos específicos da regulamentação, o que reforça a importância de momentos como este para orientação, atualização e fortalecimento do compromisso ético do RT”, relembra.
Ética e bem-estar
A programação incluiu palestra da zootecnista Ana Caroline Bini de Lima, que destacou a importância de reconhecer comportamentos associados à dor e ao estresse em equinos. Já a coordenadora técnica médica-veterinária do CRMV-SP, Carla Maria Figueiredo de Carvalho, tratou das responsabilidades legais dos RTs em situações de maus-tratos.
Na sequência, uma mesa-redonda reuniu profissionais para troca de experiências e reflexões. Para a presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino, o encontro evidenciou o engajamento dos participantes em aprofundar conhecimentos e aprimorar práticas relacionadas ao bem-estar animal.
“Há um desejo genuíno de superar práticas inadequadas e construir uma nova cultura, mais ética, consciente e respeitosa com os equinos. Foi possível perceber um forte movimento no sentido de ampliar o entendimento sobre bem-estar animal. Alimentação, água, cama e abrigo foram reconhecidos como obrigações básicas de quem cuida de cavalos”, destacou Kátia.
Alinhamento profissional
O evento também teve como foco o alinhamento sobre o papel do médico-veterinário e do zootecnista no reconhecimento de situações de maus-tratos a cavalos.
“Médicos-veterinários e zootecnistas devem apoiar-se em protocolos, legislações vigentes e orientações de órgãos competentes, agindo sempre com ética e responsabilidade”, reforça a integrante da Comissão Técnica de Medicina Veterinária Legal, Andreia Boanova.
Kátia de Oliveira destacou a contribuição da zootecnia nesse processo. “O zootecnista é capaz de identificar práticas abusivas, inadequações nas instalações, erros de manejo alimentar e falhas nos protocolos de treinamento e ambientação, que muitas vezes resultam em sofrimento animal.”
Outro ponto enfatizado no encontro foi a necessidade de que os profissionais se sintam seguros para denunciar práticas abusivas, em conformidade com os respectivos Códigos de Ética.
Assista o Encontro Paulista de Alinhamento Profissional na íntegra.