A equipe de cientistas que apresentou resultados do estudo químico ambiental da Universidade de York, no Reino Unido, segunda-feira, na Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental em Helsinque (Finlândia), reuniu um grupo de colaboradores de todos os cantos do mundo e cada um coletou amostras dos rios de suas localidades.
No total, foram 72 amostras de todos os continentes, exceto na Antártida. Os cientistas acessavam uma ponte ou um píer, jogavam um balde no rio, coletavam um pouco de água como amostra, que era filtrada, congelada enviada por correio aéreo para o Reino Unido para análise.
As amostras foram analisadas quanto à presença de 14 tipos diferentes de antibióticos normalmente empregados. Nenhum continente está imune: eles encontraram traços de pelo menos um medicamento em 65% de todas as amostras estudadas. “O problema realmente é global”, afirma Alistair Boxall, um dos cientistas que liderou o estudo.
De acordo com Emma Rosi, ecologista aquática do Instituto Cary de Estudos do Ecossistema, em Millbrook, Nova York, o resultado não é surpreendente, porque “em todos os lugares as pessoas usam medicamentos todos os dias, vemos as evidências correndo rio abaixo.”
Medicamentos em grandes concentrações
Nosso organismo não decompõe os medicamentos e o excesso é excretado na urina ou atinge o esgoto. As usinas de tratamento mais modernas não conseguem eliminá-los totalmente. E em locais onde o esgoto não é tratado, os antibióticos atingem rios e córregos de forma mais direta.
As concentrações de metronidazol, um medicamento normalmente prescrito para infecções cutâneas e orais, em um rio de Bangladesh, estavam 300 vezes acima do limite recentemente determinado e considerado seguro para o meio ambiente. No Danúbio, o segundo rio mais longo da Europa, os pesquisadores detectaram sete tipos diferentes de antibióticos.


(Alistair Boxall)
Alerta máximo
Até mesmo discretos traços de antibióticos podem ter efeitos drásticos no desenvolvimento da resistência, afirma William Gaze, ecologista microbiano da Universidade de Exeter. As bactérias conseguem evoluir rapidamente em resposta a uma ameaça, como um antibiótico.
Essa evolução pode acontecer na presença até mesmo de baixas concentrações do medicamento, como as encontradas pelos pesquisadores em rios de todas as partes do mundo.
De acordo com Gaze, ainda é preciso realizar mais pesquisas para que os cientistas compreendam exatamente como a evolução da resistência aos antibióticos funciona. Mas agora é o momento de as comunidades encontrarem soluções que impeçam que os antibióticos atinjam os rios, pois os possíveis efeitos à saúde humana são extremamente sérios.
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