Hospitais veterinários acusam um incremento de até 20% no atendimento dos felinos em decorrência de choques elétricos provocados pelas cercas que se espalham sem fiscalização pela cidade.
Na teoria, os obstáculos elétricos serviriam apenas para afugentar os amigos do alheio. Para isso, cercas instaladas de acordo com as prescrições da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) são ligadas a eletrodos com tensão de até 10 mil volts, que descarregam correntes elétricas intermitentes da ordem de cinco miliampères (fracas).
“O problema é que em gatos com massa corporal da ordem de 1/20 daquela de um homem adulto, o choque será sentido de forma muito mais intensa, cerca de 20 vezes mais forte”, afirma a física e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP Tereza Daltro.
Queimaduras nas patas e bocas, alterações neurológicas, convulsões, taquicardias e paradas cardiorrespiratórias, perda de consciência, fraturas, traumatismos cranianos, hemorragias cerebrais, edemas pulmonares, além de traumas psicológicos, são as consequências mais frequentes em felinos que sofrem choques nas cercas elétricas. Muitos morrem.
Segundo a veterinária Renata Setti, do Hospital Koala Animal, 33% dos gatos vitimados por choques elétricos que chegaram até o atendimento médico foram a óbito. “Fora os que nem chegaram a ser atendidos.”
Os gatos têm hábitos que favorecem o desenlace trágico: são curiosos, exploradores e andam em telhados e muros, locais onde as cercas são instaladas. Sob a ação do choque, os animais ficam completamente desnorteados e alguns até desmaiam.
O choque também provoca as quedas, responsáveis por múltiplas fraturas e traumatismos. A reação pode provocar ainda a fissura do palato (céu da boca), que causa sangramento pelas narinas, dificuldades para respirar e, se não for tratada, pode levar a um quadro de infecção generalizada.
O diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira, Mário Marcondes, afirma que gatos vitimados por cercas elétricas já respondem por 5% de todos os atendimentos por traumas, incluídos os atropelamentos. “Esse número pode ser bem maior, já que muitos proprietários desconhecem a razão do ferimento de seu gato”, diz.
“Os gatos precisam ser protegidos por seus donos. Talvez a melhor coisa a fazer seja instalar telas e impedir o animal de subir aos telhados e dar seus passeios”, diz a ativista Nina Rosa. Os veterinários apoiam a medida.
Fonte: Folha de São Paulo (acessado em 13/08/10)