Dengue: aumento de casos preocupa saúde pública

Conheça formas de prevenção e combate à doença, e o papel importante do profissional médico-veterinário nessa luta
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: AdobeStock

A disseminação dos casos de dengue no mundo têm preocupado especialistas e governos. A doença está entre as mapeadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com potencial para se tornarem epidemias globais. No estado de São Paulo, a dengue já é uma grave ameaça à saúde pública, com aumento de 26,7% no número de casos em relação ao mesmo período do ano anterior. Confira as dicas para o combate à doença e entenda o papel do profissional médico-veterinário nas ações preventivas.

Segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, até a terceira semana epidemiológica de 2024 (15/01/2024), foram confirmados 10.728 casos da doença em todo o estado. Sete mortes pela doença também foram registradas em 2024 até o dia 20 de janeiro.

“A sintomatologia da doença é semelhante à de outras, como toxoplasmose, infecção aguda pelo HIV, citomegalovírus, mononucleose, entre outras. Por isso, recomenda-se que ao apresentar sinais de dengue, a pessoa vá buscar atendimento médico, para ter diagnóstico diferencial”, explica Hélio Bacha, mestre e doutor em infectologia pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A dengue é uma arbovirose. Segundo o Ministério da Saúde, as arboviroses são um grupo de doenças virais que são transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. A palavra “arbovirose” deriva de “arbovírus”, que significa “vírus transmitido por artrópodes”. Essas enfermidades podem causar uma variedade de sintomas, desde febre leve até complicações mais sérias, sendo algumas delas potencialmente fatais. Os principais vetores das arboviroses são os mosquitos, em particular, os gêneros Aedes, Culex e Anopheles. Esses insetos se tornam portadores do vírus ao picar uma pessoa infectada e, na sequência, passam o vírus para outras pessoas durante suas picadas.

O mosquito transmissor do vírus da dengue é o Aedes aegypti. A principal forma de prevenção da doença é conter a proliferação desse vetor. “É preciso alertar as pessoas para sempre olharem se não há acúmulo de água. Pessoas que têm imóveis que não estão em uso devem tomar cuidado com os ralos e vasos sanitários; pessoas que têm piscina, devem cuidar e estar atentas; devem ser observados vasos e plantas que acumulam água. Essas são as ações principais”, ressalta a presidente da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP), Adriana Maria Lopes Vieira.

Casos da doença

Em 2023, foram registrados 318.996 casos da doença em todo o estado de São Paulo, 8.466 em janeiro, com 284 óbitos pela doença. De acordo com o Boletim Epidemiológico: Arboviroses Urbanas no Estado de São Paulo, de 24 de novembro, as incidências acumuladas de casos confirmados de dengue em 2023 mais elevadas foram observadas nas regiões ou cidades de Alta Sorocabana, Alto Capivari, Adamantina e Alta Paulista, respectivamente. Já os locais com mais óbitos foram Alta Sorocabana, Bauru, Adamantina, Marília, Alta Paulista, São Paulo e Tupã.

Na capital paulista já foram registrados 3.344 casos de dengue nos 30 primeiros dias de 2024, segundo o boletim epidemiológico de arboviroses da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), um aumento de 350% em relação ao mesmo período no ano passado. Nas três primeiras semanas de 2024 foram registrados 1.792 casos de dengue, representando um número quatro vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2024. Os bairros com maior transmissão de dengue na cidade de São Paulo são Itaquera, Jaguara e Campo Limpo.

Para o combate à doença, o Governo do Estado de São Paulo anunciou ontem (06/02) a criação do Centro de Operações de Emergências (COE) de Combate ao Aedes aegypti Responsável pela Transmissão da Dengue, Chikungunya e Zika. Coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde, o COE vai reunir sete secretarias estaduais, além do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). E para que a população possa acompanhar a situação das arboviroses em todo o Estado, foi lançado também o Painel de Monitoramento da Dengue. Disponível em http://dengue.saude.sp.gov.br/.

Mundo

A proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, é um problema global. O mosquito se adaptou a diversos climas e ambientes, e está presente em mais de 100 países. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a incidência global da dengue cresceu drasticamente nas últimas décadas. Aproximadamente metade da população mundial está em risco de contrair a doença.

Nas Américas, o Aedes aegypti é o mosquito vetor da dengue e está amplamente distribuído por todo o território. Apenas o Canadá e o Chile continental estão livres da dengue e do vetor. O Uruguai não tem casos de dengue, mas tem o Aedes aegypti. Em alguns países da Ásia e da América Latina, a dengue grave é uma das principais causas de morte entre crianças.

A dengue ocorre em climas tropicais e subtropicais, principalmente em áreas urbanas e semiurbanas. Mas o aquecimento global está fazendo com que a doença chegue a locais do Hemisfério Norte e bem acima da linha do Equador, em regiões de clima mais ameno, como nos Estados Unidos e países da Europa. Nessas localidades, o Aedes albopictus, da mesma família do Aedes aegypti, também tem se proliferado e tornou-se uma fonte de transmissão de dengue, zika e chikungunya.

Além disso, fatores como as mudanças climáticas, a urbanização, o acúmulo de resíduos e a falta de saneamento básico contribuem para a proliferação dos mosquitos vetores.

Sintomas

A dengue é uma doença que pode ter consequências graves e até fatais. Por isso, causa um impacto significativo na saúde pública. Alguns dos principais sintomas (podem se manifestar apenas alguns) são:

Febre (39°C a 40°C);

Dor de cabeça;

Dores no corpo;

Dores nas articulações;

Dor atrás dos olhos;

Prostração;

Fraqueza;

Náuseas e vômitos;

Hemorragias.

A pessoa que apresentar febre entre 39°C a 40°C, pelo menos, duas das manifestações deve procurar imediatamente um serviço de saúde. Depois do período de febre e melhora dos sintomas, no entanto, é preciso ficar atento, pois alguns sinais podem marcar o início da piora, podendo progredir para formas graves que indicam o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos e/ou hemorragias ou o comprometimento de órgãos. Ainda assim, é importante frisar que somente uma pequena parcela dos casos de dengue evoluem para formas graves da doença. Neste caso, os sintomas são:

  • dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua;
  • vômitos persistentes;
  • acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico);
  • hipotensão postural e/ou lipotímia;
  • letargia e/ou irritabilidade;
  • aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia) > 2cm;
  • sangramento de mucosa; e
  • aumento progressivo do hematócrito.
Transmissão e Diagnóstico

A principal forma de transmissão da dengue é por meio da picada de fêmeas do mosquito Aedes aegypti, que são vetores do vírus transmissor. Mais raramente a transmissão pode ocorrer de mãe para filho pela gestação e por transfusão de sangue.

Como a doença possui sintomatologia semelhante à de muitas outras, recomenda-se a realização de exames específicos para apoiar o diagnóstico clínico. Os dois principais são o exame para dosagem de NS1 em amostras de sangue, recomendável para casos de menos de cinco dias de aparecimento dos sintomas, e a sorologia IgG/IgM, recomendável quando há mais de cinco dias de aparecimento dos sintomas.

“A desvantagem da sorologia ocorre quando a pessoa já se infectou com o vírus da dengue, porque então esse exame sempre dará positivo”, explica o médico e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Ações de prevenção e combate

As duas principais formas de prevenção da doença são a vacinação contra a dengue e o controle do vetor Aedes aegypti, sendo este último o principal método para prevenção e combate. Para isso, deve-se:

* Eliminar áreas de reprodução do mosquito, como vasos de plantas, pneus e recipientes com água parada;

* Usar repelentes e roupas que protejam o corpo;

* Instalar telas de proteção nas portas e janelas para evitar que mosquitos entrem na residência;

* Limpar regularmente calhas e ralos;

* Tratar a água armazenada com produtos químicos apropriados para eliminar larvas de mosquitos;

* Buscar atendimento médico ao apresentar sintomas da doença.

As autoridades de saúde, empresas e cidadãos comuns devem trabalhar juntos para combater a dengue. A educação sobre a prevenção da dengue é fundamental para que todos se mobilizem para combatê-la e é a chave para evitar que a doença continue a ser uma ameaça à saúde pública.

Papel do médico-veterinário no controle de arboviroses

Devido a sua formação e a ampla e diversificada área de atuação, o médico-veterinário é um profissional preparado e qualificado para compor equipes multiprofissionais de atenção primária à saúde, e atuar no planejamento e na execução das medidas de prevenção e controle de enfermidades como as arboviroses, que incluem o vírus da febre amarela, dengue, zika e chikungunya.

No combate a essas enfermidades é fundamental a estratégia da Saúde Única, devido a sua abordagem integrada que reconhece a conexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. A Saúde Única propõe e incentiva a comunicação, cooperação, coordenação e colaboração entre diferentes disciplinas, profissionais, instituições e setores para fornecer soluções de maneira mais abrangente e efetiva.

“O conhecimento do médico-veterinário sobre as doenças e características dos agentes etiológicos, vetores, hospedeiros e meio ambiente, associado aos seus domínios em epidemiologia e saneamento ambiental, qualificam-no para compor equipes de saúde coletiva e atuar na prevenção, monitoramento e combate aos vetores transmissores dos arbovírus”, explica o membro da Comissão de Saúde Pública do CRMV-SP, Carlos Alberto D’Avilla de Oliveira.

Papel do médico-veterinário no controle da dengue

O médico-veterinário também tem um papel importante na prevenção da dengue. O profissional pode sensibilizar a comunidade sobre as medidas preventivas, orientar sobre a eliminação de criadouros em propriedades privadas, e participar das equipes multiprofissionais de saúde municipais.

“O médico-veterinário possui conhecimento sobre epidemiologia e sobre questões ambientais. Somos profissionais da saúde única pois termos essa visão integrada da interação do humano, do animal, do meio ambiente e dos vegetais. Então, podemos participar tanto nas ações educativas da população, na identificação dos vetores, e em toda a vigilância sanitária”, explica a presidente da Comissão de Saúde Pública do CRMV-SP.

Adriana Maria esclarece que a vigilância sanitária pode atuar para as medidas preventivas sejam cumpridas. “Em locais como borracharias, que têm acúmulo de água em pneus, a vigilância sanitária pode notificar para que esse problema seja corrigido; caixas de água sem tampa, piscinas que não estão em uso, e indústrias que possuem materiais que ficam expostos às intempéries são passíveis de notificação para que eles cubram, se desfaçam do material, ou armazenem adequadamente.”

Tratamento e impacto

Ao notar sintomas da dengue, é essencial procurar atendimento médico. O profissional será responsável por indicar o tratamento, que geralmente inclui repouso, medicação para aliviar os sintomas, como analgésico e antitérmico, e ingestão de líquidos. Não se deve usar ácido acetilsalicílico, o que pode agravar a doença.

A professora Maria José Almeida, de 37 anos, contraiu dengue em 2023, ficou debilitada por semanas e precisou ser internada no hospital devido a sintomas mais graves da doença. “Tive febre alta, dores musculares e articulares, e manchas vermelhas na pele”, relata.

Já o estudante Miguel Leite, de 9 anos, que também apresentou quadro mais severo de dengue no ano passado, teve febre alta e vômitos, e precisou ficar em casa por vários dias. Segundo a mãe da criança, Márcia Leite, “a doença foi muito preocupante e a família teve que tomar muitos cuidados para evitar que outras pessoas fossem infectadas”.

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