Dia Mundial de Combate às Zoonoses: abordagem de Saúde Única se mostra fundamental

Data é uma homenagem da ONU ao cientista Louis Pasteur e sua luta contra a raiva humana
Texto e foto: Comunicação CRMV-SP

Hoje (06/07) é celebrado o Dia Mundial de Combate às Zoonoses. Nesta data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), o cientista Louis Pasteur administrou com sucesso pela primeira vez a vacina antirrábica em humano que havia sido mordido por cão, em 1885. Nos dias atuais, com o surgimento ou ressurgimento de novas doenças zoonóticas, a abordagem de Saúde Única se mostra fundamental.

As zoonoses são doenças cujos agentes causadores são transmitidos entre animais e seres humanos, como a raiva, a leptospirose, a leishmaniose, entre outras. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses, responsáveis por cerca de 60% das doenças infecciosas humanas.

Além disso, segundo a OMS, três em cada cinco novas doenças aparecem todos os anos e três delas são de origem animal, o que também ocorre com 75% das enfermidades infecciosas emergentes, incluindo ebola, HIV e gripe. “Por todo o mundo, as zoonoses respondem por 62% da Lista de Doenças de Notificação Compulsória e uma abordagem que integre a saúde ambiental e veterinária à saúde pública nunca foi tão fundamental”, afirma o presidente do CRMV-SP Odemilson Donizete Mossero.

A preocupação com tais enfermidades sempre existiu, mas a pauta de Saúde Única ganhou maior notoriedade com a pandemia provocada pelo Covid-19. Médicos-veterinários e zootecnistas têm, nesse contexto, papel fundamental, junto a médicos e demais profissionais de saúde e meio ambiente.

Prevenção e controle de zoonoses

De acordo com a OMS, os métodos de prevenção de doenças zoonóticas diferem para cada patógeno. No entanto, diversas práticas são reconhecidas como eficazes na redução do risco comunitário ou individual.

Com vistas a reduzir os custos e os riscos de novas epidemias, como a da Covid-19, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI) recomendam algumas ações.

“Os gestores públicos devem incentivar pesquisas científicas considerando as condições sociais, econômicas e ecológicas das doenças emergentes, incluindo zoonoses, com estudos e pesquisas em saúde pública que favoreçam a territorialidade – por meio do uso e manejo adequado do território – e a qualificação da atenção básica de saúde, para avaliar riscos e desenvolver intervenções na interface ambiente, saúde animal e saúde humana”, diz Adriana Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Ações

Adriana pondera que é necessário incentivar práticas de gestão sustentável da terra e desenvolver alternativas para garantir a segurança alimentar e meios de subsistência que não dependam da destruição dos habitats e da biodiversidade.

É preciso, ainda, destaca a presidente da Comissão Técnica do CRMV-SP, implementar uma política de saúde animal, incluindo a estruturação de serviços de saúde para as espécies silvestres, e o aperfeiçoamento do monitoramento e da regulação dos sistemas alimentares com base em riscos, desde a criação animal até o consumo do alimento.

Desenvolver estratégias para esclarecimento e educação de todos os níveis da sociedade sobre os riscos e prevenção de zoonoses e doenças emergentes também é outra medida recomendada, ressalta Adriana.

Importância de médicos-veterinários e zootecnistas

Nesse contexto, o profissional médico-veterinário pode contribuir para a prevenção, o controle e o diagnóstico situacional de riscos de doenças transmissíveis, relativos à interação entre os humanos, animais e o meio ambiente, por meio de avaliação de fatores de risco à saúde.

Diretrizes seguras e apropriadas para o cuidado dos animais no setor agrícola ajudam a reduzir o potencial de surtos de doenças zoonóticas de origem alimentar, por meio de alimentos como carne, ovos, laticínios ou mesmo alguns vegetais, contexto em que médicos-veterinários são fundamentais, bem como os zootecnistas. Ambos podem auxiliar oferecendo orientações quanto ao manejo de resíduos e às boas práticas para prevenção e controle de doenças.

Equipes Multiprofissionais

Uma pauta que tem sido defendida pelo CRMV-SP junto aos gestores públicos é a formatação de equipes multiprofissionais de saúde. Desta forma, Mario Ramos, membro da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Conselho, salienta que é possível criar teias de cuidado, microrredes territoriais, e otimizar estruturas e simplificar o acesso ao Sistema Único de Saúde.

É presumível, assim, transformar o território do município em um espaço de cuidado integral à saúde da população. “Nesse contexto, o médico-veterinário é o profissional qualificado para orientar e coordenar todas as ações e planejamentos de controle de zoonoses em nossa sociedade”, ressalta Mario Ramos.

Saúde Única

Ainda falta muito para que o conceito de Saúde Única – visão integrada, que considera a indissociabilidade entre saúde humana, saúde animal, saúde das plantas e saúde ambiental – fortemente discutido ao redor do mundo, seja efetivado no País, ou seja, para que haja integração efetiva entre as agências, os indivíduos, as especialidades e os setores, diz a presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP.

Dentre as iniciativas importantes que já estão sendo efetivadas nessa questão podem-se destacar as reuniões conjuntas que têm sido realizadas entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima com o objetivo de evitar a disseminação de determinadas doenças, como a influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP/ H5N1) em aves silvestres no Brasil.

“Todo gestor deveria se atentar à necessidade de se implementar um modelo assistencial que se baseasse na Saúde Única. Infelizmente, ainda não temos uma política bem detalhada de integração entre a Atenção Primária em Saúde e as Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ’s) de todo País”, diz Ramos.

“Por meio da Saúde Única é possível desencadear a inovação e as competências necessárias para enfrentar os muitos e sérios desafios para a saúde das pessoas, dos animais domésticos e selvagens e para a integridade dos ecossistemas”, declara a presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Propostas

Algumas propostas de políticas estruturantes de UVZs e Saúde Única foram encaminhadas para a 17ª Conferência Nacional de Saúde (realizada de 03 a 05 de julho, em Brasília) de modo a auxiliar os gestores no norteamento de suas decisões e planos voltados à saúde pública, relata Ramos.  

“Há diversos problemas estruturais com as UVZ’s, especialmente na quantidade pequena dessas unidades em todo território nacional, bem como com déficit de pessoas, infraestrutura, logística, equipamentos, pesquisa, educação em saúde, entre outros. Certamente, o financiamento está sendo o maior entrave no momento no SUS”, comenta ele.

O CRMV-SP, especialmente a Diretoria Executiva e a Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária, estão empenhados em alertar os governantes dessa necessidade e se colocaram à disposição para auxiliar nesses projetos, a fim de garantir maior atuação técnica em Saúde Única.

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