Toxoplasmose – gatos não são os vilões da transmissão da doença. Saiba mais!

Tutores de felinos não necessariamente serão infectados e o abandono de animais, esse sim, pode aumentar riscos de proliferação
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: Pixabay

A proximidade com as diversas espécies de animais, com certeza, deixa o ser humano mais suscetível a infecção pelas chamadas zoonoses – doenças transmitidas por animais aos humanos. A toxoplasmose é apenas uma delas e, assim como muitas outras, pode ser evitada com medidas simples de higiene e saúde, as quais não apenas tutores de gatos devem estar atentos.

A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. O parasita é encontrado nas fezes de gatos infectados, que podem contaminar o solo, a água e os alimentos. Embora os felídeos cumpram o papel de hospedeiros definitivos, sendo os únicos capazes de eliminar o estágio infectante do protozoário nas fezes – os oocitos –, a transmissão para humanos ocorre, na maioria das vezes, pela ingestão de alimentos ou água contaminados.

“É fundamental compreender que a maioria das infecções humanas não ocorre diretamente pelo contato com felinos, mas sim pela ingestão de oocistos presentes nas fezes contaminadas. Portanto, a adoção de medidas simples, como a higiene adequada e a manipulação cuidadosa dos dejetos, é suficiente para prevenir a transmissão”, declara o presidente da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Márcio Mota.

Apesar de os felídeos serem os únicos animais considerados hospedeiros definitivos do parasita, eles não podem ser considerados vilões na transmissão da toxoplasmose. “A grande maioria dos gatos não carrega parasitas. Eles se contaminam por meio do consumo de carne de caça contaminada ou do consumo de carne crua de origem desconhecida, na maior parte das vezes, oferecida por seus tutores. Animais domiciliados e alimentados por ração dificilmente se contaminarão”, ressalta o membro da Comissão Técnica de Saúde Pública do CRMV-SP, Carlos Alberto D’Ávilla.

Abandono

O estigma associado aos gatos e à toxoplasmose tem levado ao abandono injustificado desses animais. “Essa prática não apenas prejudica os gatos, mas também contribui para problemas mais amplos, como o aumento da população de gatos de rua. É crucial destacar que os gatos não devem ser culpados, mas sim protegidos e cuidados de maneira adequada”, afirma Mota.

Gatos abandonados muitas vezes enfrentam fome, doenças e reprodução descontrolada, o que pode levar a um aumento na população de gatos de rua e, por sua vez, à disseminação potencial de parasitas. D’Ávilla explica que gatos que adquirem o parasita por via oral eliminam o agente alguns dias depois, uma única vez, e não pela vida toda. Portanto, nada de abandonar seu bichano.

Contaminação

A infecção de humanos pelo Toxoplasma gondii pode ocorrer por meio da ingestão de oocitos presentes nos alimentos, na água e no solo, principalmente. O presidente da Comissão Técnica de Alimentos do CRMV-SP, Ricardo Calil, esclarece que a contaminação de alimentos pode ocorrer quando estes entram em contato com fezes de animais infectados.

“Isso pode acontecer, por exemplo, quando os alimentos são preparados em superfícies contaminadas ou quando frutas e vegetais são cultivados em solo inadequado. Mas, também, quando os alimentos são irrigados ou são lavados com água contaminada”, exemplifica Calil.

Outra importante forma de transmissão em humanos é durante a gravidez. As gestantes merecem especial atenção, pois, se contaminadas, dependendo do tempo de gestação, podem ter sérias complicações, desde aborto ou má formação do feto.

Formas de prevenção

Portanto, medidas como a higienização adequada das mãos e de alimentos como frutas, legumes e verduras, e o cozimento adequado de carne são fundamentais para prevenir a transmissão. É indicado, ainda, usar luvas quando em atividades de jardinagem, lavar as mãos regularmente, especialmente após manusear carnes cruas, e evitar o consumo de carnes cruas cozinhando bem todos os alimentos.

É recomendado, ainda, certos cuidados na escolha e preparação dos alimentos. “Para evitar a contaminação pelo Toxoplasma gondii em alimentos, algumas providências são fundamentais, como lavar as mãos antes de manipular alimentos, lavar as frutas e vegetais com água corrente, antes de consumi-los, cozinhar as carnes até que atinja a temperatura de 74°C, e o pescado também até próximo de 70°C, e não consumir leite não pasteurizado”, afirma Calil.

Cuidados redobrados devem ser dispensados no caso de estabelecimentos manipuladores de alimentos, como restaurantes, supermercados, feiras livres, onde muitas vezes os gatos têm acesso livre às áreas de preparação ou comercialização. Quando houver contato com fezes destes animais ou mesmo de outros, usar luvas e descartá-las em locais apropriados, evitando que fiquem no ambiente por muito tempo.

Outras formas importantes para se evitar a transmissão da toxoplasmose é manter os gatos domiciliados, limpar as caixas sanitárias diariamente, usando preferencialmente luvas, e levar o pet regularmente ao veterinário para que ele tenha uma boa saúde.

Sintomas

No Brasil, a toxoplasmose é uma doença endêmica e está presente em todo o País. É mais comum em áreas rurais, mas tem crescido a preocupação nas áreas urbanas. A maioria das pessoas infectadas pelo Toxoplasma gondii não apresenta sintomas, ou apresenta sinais leves e inespecíficos, tais como: febre, mal-estar, dor de cabeça, cansaço e dor muscular e nas articulações.

A toxoplasmose é mais grave em pessoas imunossuprimidas, como pessoas com HIV/AIDS, câncer ou que estão tomando medicamentos imunossupressores. Em alguns casos, a doença pode causar sérios problemas, como inflamações no cérebro, nas meninges, como também, pneumonia e retinite, que é uma inflamação na membrana que reveste o olho, entre outros.

Educação como ferramenta preventiva

A conscientização e a educação são vitais para desmistificar a relação entre gatos e toxoplasmose. “A educação emerge como uma ferramenta poderosa para dissipar equívocos. É preciso informar as pessoas sobre os reais riscos e medidas preventivas, em vez de demonizar os gatos. Ao compreendermos melhor a doença, podemos adotar práticas simples que garantem a convivência saudável entre humanos e felinos”, declara Mota.

É imperativo abandonar a narrativa de que os gatos são vilões na transmissão da toxoplasmose. Em vez disso, devemos focar em práticas responsáveis, educação e compreensão, criando um ambiente que promova a coexistência saudável entre humanos e felinos.

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