De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial chegará a 10 bilhões de habitantes até 2050, com a necessidade de um aumento de cerca de 60% na produção de alimentos. Conhecido como o celeiro do mundo, será que o Brasil está preparado para que esse futuro aconteça de forma sustentável?
O fato é que profissionais como o médico-veterinário e o zootecnista têm atuação efetiva em toda a cadeia de produção de alimentos, desde a criação animal até a gôndola dos supermercados, e cabe também a eles atender a urgência de se produzir cada vez mais, em menor número de hectares e com redução do impacto ambiental.
Integrante da Comissão Técnica de Ensino e Pesquisa da Zootecnia do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e presidente da Comissão Nacional de Educação em Zootecnia do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a Profa. Dra. Ana Cláudia Ambiel ressalta que o papel desses profissionais deve ser de otimizar a taxa de lotação.
Para a zootecnista, dados recentes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) mostram que o País parece trilhar o caminho certo. “Nossa produção terá um aumento de aproximadamente 116,22% e uma diminuição de aproximadamente 17,45% na área de pastagem utilizada para o ano de 2028 se comparado com os percentuais alcançados em 1998. Ou seja, um aumento considerável da taxa de lotação de 0,61UA/ha para 1UA/ha”.
Menos desperdício e formação de qualidade
“Para garantir a todos o acesso à alimentação é importante também a diminuição do desperdício na produção, um ponto em que o médico-veterinário e o zootecnista podem contribuir bastante”, afirma o médico-veterinário Ricardo Moreira Calil, presidente da Comissão Técnica de Alimentos do CRMV-SP.
Calil ressalta, ainda, a necessidade de uma formação de qualidade e que permita uma noção de gestão. “Para que possa potencializar esse conhecimento técnico para a produção, o profissional precisa ter boas noções de gestão, saber lidar com pessoas, preocupar-se com desperdício e tipo de armazenagem, e ter um conhecimento amplo da cadeia produtiva.”
Produção de menor impacto
Parece complicado, mas produzir mais em menos hectares, respeitando o meio ambiente e o bem-estar animal é uma equação claramente possível e já acontece no Brasil. “Na produção de carne bovina, segundo a Abiec (2019), houve um aumento de 176% na produtividade do período de 1990 a 2018, sendo que, nesse período passou-se de 1,63@/ha/ano para 4,5@/ha/ano”, afirma Ana Cláudia.
Segundo Calil, para que essa equação funcione cada vez mais é preciso investimento em tecnologia. “A Embrapa tem vários projetos de pesquisa e de desenvolvimento aplicados no campo. A questão do Brasil é muito particular, é um país que tem uma extensão territorial maravilhosa, água à vontade, reservas, mas em que ainda falta gestão técnica e tecnológica”.
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(Ana Cláudia Ambiel)
Espaço para crescer
O número de vagas no mercado de trabalho tem aumentado a cada ano e a Zootecnia aparece pela primeira vez entre as 40 graduações mais procuradas do País, segundo o último Censo da Educação Superior (Inep/MEC). “Observa-se um grande gargalo em áreas como gestão e inovação, desenvolvimento de tecnologias voltadas à melhoria da produção e produtividade, sustentabilidade, entre outros”, observa Ana Cláudia.
Calil lembra que há um grande leque de atuação no setor produtivo, o profissional pode trabalhar com genética, biotecnologia e sanidade, por exemplo. “Ele tem que ter qualidade para agregar, atuando como gestor, mas também implantando um programa de saúde animal dentro da propriedade”, destaca, ressaltando que a biosseguridade é a palavra do momento.