Celebrado em 9 de agosto, o Dia Nacional da Equoterapia reforça a importância dessa abordagem terapêutica que utiliza a relação entre humanos e cavalos para promover o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo dos praticantes. A técnica tem como base os movimentos rítmicos e tridimensionais da marcha do cavalo, que estimulam diferentes áreas do corpo e do cérebro.
A zootecnista, treinadora de cavalos e equitadora habilitada em equoterapia pela Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), Julia Lourenzon, explica que a equoterapia é indicada para crianças a partir dos dois anos de idade, adolescentes, adultos e idosos. “É um método terapêutico que contribui para o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, promovendo mais equilíbrio, qualidade de vida e bem-estar”, afirma.
Durante as sessões, o praticante interage com o cavalo e se beneficia do movimento, do calor corporal e do vínculo com o animal. As atividades são conduzidas por uma equipe multidisciplinar e adaptadas às necessidades e aos objetivos terapêuticos de cada indivíduo.
A equoterapia pode ser indicada para pessoas com paralisia cerebral; transtornos do espectro autista (TEA); síndrome de Down; déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); dificuldades de equilíbrio; postura ou coordenação motora; transtornos emocionais, como ansiedade, depressão ou baixa autoestima; além de dificuldades de aprendizagem e de inclusão social.
Segundo Julia, são poucas as contraindicações, mas merecem atenção casos como instabilidade cervical severa, osteoporose grave, luxações articulares não estabilizadas, crises convulsivas sem controle medicamentoso, escoliose severa e comportamentos agressivos ou incontroláveis. “A avaliação médica prévia é obrigatória, e a decisão final sobre a participação deve ser tomada em conjunto pelo médico especialista, pelo fisioterapeuta experiente em equoterapia e pelo instrutor responsável”, ressalta.
Para a médica-veterinária e presidente da Comissão Técnica de Equideocultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP, Talita Gonçalves da Silva Vieira, os benefícios da interação com os cavalos são amplamente reconhecidos. “A equoterapia favorece o desenvolvimento da coordenação motora, do equilíbrio e da postura, além de aumentar a força muscular, a flexibilidade, a amplitude de movimento, a propriocepção e o controle corporal. Também contribui para o desenvolvimento da linguagem, melhora da autoestima, redução do estresse e da ansiedade, promovendo socialização e autonomia”, enfatiza.
Benefícios do contato animal/paciente
A zootecnista e presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, Kátia de Oliveira, destaca que a convivência com o cavalo traz inúmeros benefícios ao ser humano. “Essa interação acalma a mente e o coração, favorece a comunicação de pessoas com transtornos do espectro autista e contribui para o desenvolvimento motor de indivíduos com deficiências neuromusculares. No entanto, é fundamental garantir, ao mesmo tempo, o bem-estar do animal envolvido na prática”, reforça.
A equitadora Julia Lourenzon ressalta que um dos grandes diferenciais da equoterapia está no andar tridimensional do cavalo, que gera estímulos intensos e complexos ao corpo do praticante. Esse movimento se assemelha à marcha humana e estimula o cérebro a reorganizar padrões motores, promovendo fortalecimento do tônus muscular, além de melhorias na coordenação motora, equilíbrio, postura e mobilidade articular.
Julia também enfatiza que, por ser um ser vivo que interage ativamente, o cavalo favorece a construção de vínculos afetivos, o aumento da autoestima e da autoconfiança, bem como a redução do estresse e da ansiedade.
“Durante a prática, os terapeutas trabalham aspectos como atenção e concentração, tanto no cavalo quanto no ambiente e nas atividades propostas. Isso estimula a noção espacial e temporal do praticante, ajudando-o a compreender direções, lados, sequências e ritmos. Também há ganhos significativos na comunicação e no autocontrole, já que a equoterapia exige respeito às regras, aos limites e aos comandos”, explica.
A chefe da Seção de Equoterapia do Regimento de Polícia Montada 9 de Julho, da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), 1º tenente Gabriela, acrescenta que, além dos benefícios físicos e emocionais, a interação com o cavalo em ambiente terapêutico favorece a socialização e a integração em grupo, ampliando ainda mais os impactos positivos da prática.
Equipe multidisciplinar
A presidente da Comissão Técnica de Equideocultura do CRMV-SP, Talita Gonçalves da Silva Vieira, reforça que a equoterapia é uma abordagem terapêutica promissora, com resultados positivos em diferentes contextos, desde que conduzida por uma equipe multidisciplinar capacitada e que conte com médicos-veterinários e zootecnistas.
“O tratamento é personalizado para cada paciente, com objetivos específicos definidos conforme suas necessidades. O cavalo também é criteriosamente selecionado e treinado para interagir de maneira segura e eficaz. Por isso, é essencial buscar profissionais qualificados e centros de equoterapia especializados, garantindo um atendimento seguro e de qualidade”, destaca Talita.
A 1º tenente Gabriela, chefe da Seção de Equoterapia do Regimento de Polícia Montada 9 de Julho da PMESP, complementa que a equipe multiprofissional deve incluir médicos, médicos-veterinários, zootecnistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais, professores de educação física e profissionais de equitação, todos com formação específica na área da equoterapia.
“No Regimento, os atendimentos são viabilizados por meio do trabalho voluntário, amparado pela Lei Federal nº 9.608/1998. Diversos profissionais da saúde dedicam um dia da semana para atender o próximo. Os ganhos são inestimáveis”, afirma a 1° tenente.

Raças mais indicadas
Embora não haja raças específicas exigidas para a prática da equoterapia, a médica-veterinária Talita Gonçalves da Silva Vieira ressalta que cavalos de marcha, como o mangalarga e o campolina, são frequentemente recomendados em casos de lesões medulares graves, por possuírem um andamento mais macio, o que proporciona maior conforto ao praticante.
Raças como o lusitano e o quarto de milha também se destacam pela docilidade, característica importante para o ambiente terapêutico. No entanto, Talita enfatiza que diversos fatores devem ser considerados, especialmente o manejo diário do animal.
“O mais importante é que o cavalo cumpra adequadamente sua função nas sessões, oferecendo estabilidade e segurança ao praticante. Para isso, o manejo deve ser feito por um profissional capacitado, o que é essencial para o sucesso do trabalho terapêutico”, afirma.
A zootecnista e presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, Kátia de Oliveira, concorda e acrescenta que, embora algumas raças, como o puro sangue inglês, de temperamento mais ativo, possam ser menos indicadas, isso não impede totalmente seu uso na equoterapia. “O fundamental é que a equipe de saúde se sinta segura e confiante com o desempenho do cavalo durante as sessões. Existem técnicas de treinamento e dessensibilização que podem preparar o animal para a atividade terapêutica”, explica.
Manejo
Os cuidados com os cavalos utilizados na equoterapia vão muito além da condução durante as sessões. Envolvem desde o manejo diário em cocheiras e piquetes, com o objetivo de evitar o estresse e promover uma boa interação com os seres humanos, até aspectos específicos como higiene do animal, conservação dos equipamentos e controle do peso dos praticantes.
A equitadora Julia Lourenzon explica que existe uma regra prática a ser seguida:
“O cavalo nunca deve carregar um peso superior a 20% do seu peso vivo, considerando o praticante e os equipamentos utilizados. É fundamental atenção à região de ajuste da sela ou da manta, evitando sobrecarga em áreas musculares sensíveis e prevenindo lesões”, afirma.
A médica-veterinária Talita Gonçalves da Silva Vieira, presidente da Comissão Técnica de Equideocultura do CRMV-SP, destaca que a equoterapia exige uma rotina específica, tanto no manejo quanto no treinamento dos animais. A manutenção inclui alimentação balanceada e de boa qualidade, cuidados sanitários diários, atenção à limpeza dos cascos, vacinação, além do controle de ecto e endoparasitas. Tudo isso garante a saúde e o bem-estar do animal.
Talita também enfatiza a importância da adequação dos equipamentos para garantir o conforto do cavalo durante os treinos e sessões terapêuticas, além de promover alongamentos prévios à atividade. “Todo o trabalho deve respeitar as Cinco Liberdades do Bem-Estar Animal: estar livre de fome e sede; livre de desconforto; livre de dor, ferimentos ou doenças; livre para expressar comportamentos naturais; e livre de medo e estresse”, completa.
A zootecnista Kátia de Oliveira ressalta que, embora a equoterapia traga inúmeros benefícios aos praticantes, o cuidado com os animais não pode ser negligenciado, especialmente com a coluna vertebral dos cavalos. “O pilates para cavalos, além de ser uma atividade recreativa, também estimula o bem-estar físico e mental do animal. É uma solução prática e eficaz para melhorar o desempenho e a qualidade de vida dos cavalos terapeutas”, aponta.
Dia a dia
A rotina de um cavalo utilizado na equoterapia deve ser cuidadosamente planejada, envolvendo alimentação balanceada em horários regulares, espaço adequado para expressão de comportamentos naturais e um treinamento físico e mental adaptado às suas necessidades.
A equitadora Julia Lourenzon explica que, em geral, um cavalo de equoterapia realiza entre duas e três sessões por dia, com intervalos de descanso entre elas.
Por isso, soltá-los em piquetes junto a outros da mesma espécie é fundamental para promover o bem-estar. Além do descanso físico, a convivência social é importante para a saúde emocional do animal.
Julia também chama atenção para o fato de que, do ponto de vista do cavalo, as sessões podem ser monótonas. “Eles podem se aborrecer se não houver uma rotina variada de atividades físicas. Por isso, é essencial incluir exercícios como trabalhos em liberdade, cavaletes, flexionamentos, passeios externos e alongamentos feitos a partir do chão”, orienta. A médica-veterinária Talita Gonçalves da Silva Vieira reforça que o primeiro passo no preparo de um equino para a equoterapia é garantir sua sanidade e bem-estar, já que o estresse pode levar a alterações de comportamento e queda de desempenho.
“Aliado a esses cuidados, é necessário um treinamento diário específico, que inclua a aceitação de comandos por voz e/ou toque. Esse preparo é indispensável para garantir a segurança e a eficácia das sessões terapêuticas”, conclui.