A infecção natural e experimental de macacos com zika indica que esses animais podem ser hospedeiros vertebrados na transmissão e circulação do vírus em ambientes tropicais urbanos.
Mas artigo, assinado por pesquisadores de diversas instituições, publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, destaca que “mais estudos são necessários para entender o papel que eles podem desempenhar na manutenção do ciclo urbano do vírus zika e como eles podem ser um canal no estabelecimento de um ciclo de transmissão enzoótica (em animais não humanos) na América Latina tropical”.
“Como a febre amarela nos mostrou, doenças epizoóticas (que ocorrem ao mesmo tempo em vários animais de uma mesma área geográfica) serão sempre fonte de epidemias entre humanos, mesmo após um possível controle e erradicação do ciclo de transmissão urbana por meio do desenvolvimento de contramedidas bem-sucedidas (vacinas e antivirais)”, disse Nikos Vasilakis, professor no Centro de Doenças Tropicais da UTMB, e um dos autores principais do artigo agora publicado.
Para Vasilakis, esse é um fator fundamental que deve ser levado em conta pelos responsáveis por políticas públicas e pelo setor de saúde, bem como por desenvolvedores de vacinas.
Combate mais árduo
O vírus da zika apareceu, originalmente, em macacos na África. Esporadicamente, saía das florestas e infectava populações humanas. Quando se propagou da África para a Ásia, o vírus passou a circular somente entre humanos. E, aparentemente, manteve essa característica quando se instalou nas Américas, o que sugeria um ciclo semelhante ao do vírus da dengue.
Mas a nova descoberta sugere uma outra epidemiologia possível, mais parecida com a da febre amarela. Se essa epidemiologia for confirmada, o combate à zika poderá ser muito mais árduo do que se supunha.
Implicações
“Nossas observações terão implicações importantes na compreensão da ecologia e da transmissão de zika nas Américas. Embora este seja um dos primeiros passos no estabelecimento de um ciclo de transmissão entre primatas não humanos no Novo Mundo e mosquitos arbóreos, as implicações são enormes, pois é impossível erradicar esse ciclo de transmissão”, disse Vasilakis.
O professor destacou a importância para o estudo do financiamento da Fapesp e dos National Institutes of Health (NIH), que “reconheceram cedo a importância do assunto”, apoiando um trabalho que também serve como exemplo da “longa e contínua colaboração entre os grupos da UTMB e da Famerp”.
O artigo Evidence of natural Zika vírus infection in neotropical non-human primates in Brazil (doi 10.1038/s41598-018-34423-6) pode ser lido AQUI