Janeiro branco: mês de alerta para a importância da saúde mental e emocional

Administrar pensamentos e sentimentos pode ser desafiador e por isso é essencial buscar ajuda
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: Pexels

Em meio a tempos de muitos julgamentos e ‘cancelamentos’, em que pessoas se expressam livremente no mundo virtual, é essencial buscar ferramentas para cuidar da saúde mental e emocional. Isso é ainda mais importante para os profissionais de saúde, como os médicos-veterinários, que lidam diariamente com o sofrimento alheio e podem enfrentar desafios como a síndrome de burnout e a fadiga por compaixão.

Neste contexto, a campanha “Janeiro Branco” estimula a adoção de práticas e recursos que promovam o bem-estar mental, em especial para os profissionais que estão na linha de frente do cuidado. Criada em 2014 por psicólogos de Minas Gerais, a campanha busca conscientizar sobre a saúde mental e emocional, assim como os cuidados necessários para prevenir doenças decorrentes do estresse, como a síndrome de burnout e a fadiga por compaixão.

Como parte desse movimento, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) apresenta o Grupo de Apoio Mútuo (GAM) intitulado “Cuidando de Quem Cuida”. Idealizada pela Comissão de Responsabilidade Técnica do Regional, a iniciativa surge como uma ferramenta para auxiliar médicos-veterinários e zootecnistas a lidarem com as pressões e demandas do cotidiano profissional.

“O objetivo do grupo é criar um ambiente seguro e acolhedor para a troca de experiências e desafios, além de incentivar a partilha de pensamentos e sentimentos”, afirma o presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero.

As sessões começam no dia 29 de janeiro e acontecerão uma vez por mês, na sede do CRMV-SP em São Paulo. Serão lideradas por facilitadoras que guiarão os encontros com sensibilidade, respeito e empatia. As inscrições estão abertas para todos os meses do ano e podem ser feitas pela agenda de eventos do site.

Fadiga por compaixão

As doenças mentais possuem origem multifatorial, como fatores genéticos e ambientais, entre outros. A fadiga por compaixão pode manifestar-se na prática da Medicina Veterinária e de outras áreas da saúde. Está intrinsecamente ligada ao esgotamento emocional decorrente da constante exposição às emoções e ao sofrimento dos pacientes, bem como de seus responsáveis. Nesse contexto, os médicos-veterinários enfrentam não apenas os desafios clínicos inerentes à profissão, mas também a conexão emocional intensa com animais de estimação e seus tutores.


Essa condição surge quando a empatia excessiva e a preocupação constante impactam negativamente o bem-estar mental, resultando em dificuldades para lidar com as demandas emocionais do trabalho. “A relação estreita com pacientes e seus donos, por exemplo, pode resultar frequentemente na formação de laços emocionais profundos. O processo de diagnóstico e tratamento, especialmente em situações de doenças graves ou terminais, torna-se um desafio emocional significativo. A preocupação constante com o bem-estar do animal e a interação com familiares aflitos podem conduzir à exaustão emocional. Outro ponto sensível é o procedimento da eutanásia e as decisões éticas difíceis que os veterinários frequentemente enfrentam”, explica a psicóloga especialista em luto, Joelma Ruiz, que estará presente durante os encontros promovidos pelo CRMV-SP.

As expectativas elevadas depositadas pelos responsáveis dos pacientes nos médicos-veterinários representam mais um fator contribuinte para a fadiga por compaixão. A pressão para resolver completamente os problemas de saúde dos animais de estimação pode levar os profissionais a se sentirem impotentes e experimentarem um aumento do desgaste emocional. O ambiente de trabalho intenso da Medicina Veterinária, caracterizado pela natureza imprevisível, longas jornadas e alta carga emocional, amplifica os riscos associados à fadiga por compaixão.

Síndrome de burnout

A síndrome do esgotamento profissional, mais conhecida como burnout, é uma condição grave associada ao estresse crônico no ambiente de trabalho e pode ser confundida com a depressão ou a fadiga por compaixão. Profissionais de saúde, que lidam constantemente com a dor e o sofrimento, como os médicos-veterinários, estão particularmente susceptíveis à doença.

A síndrome de burnout é caracterizada por três aspectos fundamentais: a exaustão emocional, a despersonalização e o comprometimento da realização pessoal e profissional. A exaustão emocional surge da intensa carga emocional e do contato frequente com pessoas vivendo situações de sofrimento, e resulta em falta de energia e entusiasmo com o trabalho. A despersonalização envolve o desenvolvimento de distanciamento emocional, com frieza nas interações. Já o comprometimento da realização pessoal e profissional surge da deterioração contínua da atividade, com sentimentos de baixo desempenho e autoavaliação negativa no trabalho.

“Em face desses desafios, é essencial que os profissionais de saúde, bem como suas instituições, reconheçam a importância de estratégias eficazes de gerenciamento do estresse e promovam ambientes de trabalho que favoreçam a saúde emocional. Intervenções preventivas, suporte psicológico e a implementação de práticas de autocuidado são fundamentais para combater o burnout e preservar a qualidade do atendimento médico-veterinário”, declara a psicóloga.

Dia a dia no trabalho

Para o especialista em Medicina Veterinária Intensiva pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Rodrigo Rabelo, que está acostumado a lidar com situações de urgência e emergência nos atendimentos, “é importante entender que uma posição como a de plantonista de urgência em hospital veterinário depende de habilidades mínimas e deve ser fruto de escolha e não de necessidade ou obrigação. Todos sabem da dificuldade desse atendimento, do estresse e da sobrecarga física e mental que esse tipo de trabalho oferece”.

Lidar com pacientes graves faz parte de uma rotina de trabalho com grande carga emocional. “Quando se lida com pacientes graves, é necessário não confundir as coisas, assumindo a perda dos animais junto com a família. Mas isso é fruto de treinamento, de ensino, de teoria e de processo. E de forma alguma também se deve ir para o outro extremo, tornando-se extremamente frio, e não ter nenhum tipo de relacionamento com a família que está ali sofrendo. Para isso, usamos protocolos de comunicação adequados, como o protocolo Spikes”, afirma Rabelo.

O protocolo Spikes, amplamente reconhecido na área da saúde, é uma abordagem para comunicar notícias difíceis, guiando profissionais em etapas sensíveis e empáticas.

Outro aspecto importante, segundo o especialista, é dividir os plantões de 12 horas em fases, já que há momentos que são de muita sobrecarga, separando as demandas das próximas horas, os recursos necessários e as pausas para alimentação e descanso.

“Principalmente na chegada, quando se pega o plantão, é preciso conhecer cada paciente que está hospitalizado e quais são as tarefas que ficaram do plantonista anterior. Também é importante que haja um bom local para descanso e troca de roupa”, considera o especialista em Medicina Veterinária Intensiva.

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