Médico-veterinário é fundamental para evitar propagação da influenza aviária em humanos

Profissional possui atributos técnicos para a gestão e condução de situações de risco e emergências em saúde
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: AdobeStock

Vírus que causa sintomas graves, espalha-se rapidamente entre animais e tem potencial de contaminar seres humanos. Essa é a história do início de várias epidemias, entre elas a da Covid-19, que pegou o mundo de surpresa há três anos. Desta forma, é natural que muitas pessoas se assustem diante do surgimento da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), também conhecida como gripe aviária, provocada pelo vírus H5N1. Recentemente, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou 31 focos da doença em aves silvestres no Brasil, sendo um no litoral paulista.

A transmissão do vírus entre humanos é rara, contudo, pode ocorrer quando a pessoa manuseia aves infectadas, vivas ou mortas, ou tem contato com superfícies contaminadas. No entanto, este não conseguirá transmitir a doença para outra pessoa.

“O vírus pode ser transmitido por meio de aerossóis respiratórios, fezes e fluidos corporais, de forma direta ou indireta, ou pela água, sangue e objetos contaminados. O período de incubação é variável, desde algumas horas até 14 dias para espécies domésticas”, explica a integrante da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Helia Maria Piedade.

O apoiador técnico do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Prefeitura de Sorocaba, Luciano José Eloy, diz que a maioria das infecções por gripe aviária relatadas em seres humanos aconteceram após contato próximo, prolongado e desprotegido com aves ou superfícies contaminadas. “O vírus pode ser inalado em gotículas ou possivelmente na poeira”, conta.

Membro da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Regional, Cláudio Regis Depes reforça a importância do profissional médico-veterinário ficar atento aos sinais clínicos das aves. “Andar cambaleante, torcicolo, dificuldade respiratória, diarreia, queda súbita na produção de ovos, e aumento de má formações são alguns exemplos. Mortalidade excepcional em aves de subsistência, de exposição, de ornamentação, de companhia ou silvestres, e redução drástica dos índices zootécnicos também são alguns sinais”, orienta Depes, que atuou na área de Defesa Sanitária Animal.

Uso de EPIs

Os equipamentos de proteção individual (EPI) deverão ser utilizados sempre que um profissional, tratador ou funcionário de um local que lide diretamente com aves for manipulá-las ou manejá-las. É importante que as mãos e braços sejam higienizadas com água e sabão, antes e depois do manejo de animais, sendo o álcool em gel um complemento.

“Deve-se seguir rigorosas medidas de biossegurança e estar devidamente treinado. Usar máscara facial N95, PFF-2, PFF-3 ou superior para locais ventilados sem a válvula; óculos de proteção; macacão descartável protetivo (com capuz); propés descartáveis (preferencialmente botas de cano alto); luvas; e avental. Os equipamentos deverão ser descartáveis ou desinfetados adequadamente após o uso, e o descarte feito por meio de sacos duplos ou recipientes próprios como resíduo contaminante”, ensina Luciano José Eloy.

As roupas utilizadas por baixo dos EPIs devem ser lavadas diariamente e as mãos higienizadas após as atividades de manuseio das aves, fômites e seus ambientes.

O médico-veterinário reforça que há risco em manipular aves silvestres de vida livre, principalmente se for selvagem migratória, considerando o contexto epidemiológico da gripe aviária. “Por isso, o uso de EPIs para estas situações é sempre o mais indicado, além das medidas de higiene após o contato, manipulação e manejo do animal”, reforça.

Atuação conjunta

Os órgãos de vigilância em saúde nos âmbitos federal, estadual e municipal trabalham ativamente em parcerias com instituições de meio ambiente, como centros de recepção, triagem e reabilitação de animais silvestres, e zoológicos; agricultura; e conselhos de classe, a fim de padronizar as informações que chegam aos profissionais e a sociedade.

“O objetivo é sensibilizar os grupos de risco para que possam identificar animais doentes e possíveis pessoas expostas, e desta forma, minimizar a possibilidade de transmissão e impedir uma possível epidemia/pandemia”, explica Luciano José Eloy do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Prefeitura de Sorocaba.

Casos suspeitos em humanos

Para que um caso humano seja suspeito de gripe aviária é preciso que tenha havido contato próximo com animal confirmado de infecção por influenza, ou contato com restos mortais e ambientes contaminados. “Fique atento a evidências clínicas e epidemiológicas, como febre alta (acima de 38 graus), tosse, falta de ar, rinorreia, dificuldade para respirar, cefaleia, mialgia e diarreia”, orienta Eloy.

Não há evidências de que a doença possa ser transmitida às pessoas por meio de alimentos devidamente preparados e bem cozidos, segundo informações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), e de outros órgãos reconhecidos internacionalmente.

“Tenha cuidado também com a manipulação de amostras biológicas suspeitas de conter o vírus influenza não sazonal em laboratório ou outro ambiente”, reforça o médico-veterinário aos profissionais de saúde.

Alerta

Ainda que a transmissão da influenza aviária seja “não sustentada” entre humanos, é importante considerar que o vírus vem se adaptando a novas espécies, como o caso ocorrido recentemente em mamíferos marinhos na costa pacífica da América do Sul (Peru e Chile). “Esse contexto pode favorecer futuras mutações e fazer com que o vírus se adapte melhor ao organismo humano, alterando o ‘status quo’ da transmissão entre pessoas e gerando um risco de uma nova epidemia da influenza na população”, alerta Eloy.

Uma das rotas migratórias na América do Sul (Brasil Central) passa sobre o estado de São Paulo. Neste caminho, há regiões em que as aves param para pouso, descanso, alimentação e reprodução. “É neste momento que pode haver o contato e a infecção de aves nativas silvestres ou aves domésticas (de criação ou produção). Nós, médicos-veterinários, precisamos compreender esse contexto para desempenharmos adequadamente nosso papel, principalmente no contato com animais suspeitos”, diz.

Integração e Saúde Única

O cuidado com a biossegurança nas estruturas e nos processos nos aviários do Estado é fundamental para evitar que a gripe aviária entre nas granjas comerciais e provoque perdas econômicas incalculáveis. “Essa é uma tendência mundial, em que a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências e governos entendem que a abordagem ‘One Health’ pode trazer melhores resultados frente a riscos transmissíveis”, diz Luciano José Eloy.

Neste contexto, “o médico-veterinário pode ser essencialmente o profissional que recebe em sua formação atributos técnicos transversais as áreas de medicina, meio ambiente, biologia e pecuária, e pode contribuir consideravelmente para a gestão e condução de situações de risco e emergências em saúde”, enfatiza.

O Instituto Butantan, em São Paulo, está trabalhando desde janeiro para o desenvolvimento da vacina contra a gripe aviária e já caminha para a fase pré-clínica do imunizante.

Notificação

Ao se encontrar uma ave silvestre ou doméstica com sintomas da doença, a orientação é acionar imediatamente o serviço veterinário oficial da cidade ou a Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária. É possível fazer uma notificação on-line no Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias, o e-Sisbravet, ou no Serviço Veterinário Oficial.

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