Médico-veterinário tem papel vital na criação de um ambiente mais seguro e saudável para todos os seres vivos

Atuando na prevenção e controle de doenças zoonóticas e no desenvolvimento de vacinas e protocolos de diagnósticos, o profissional contribui significativamente para o conceito de Uma Só Saúde
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Pixabay

É fato que o agronegócio brasileiro é um dos principais setores da economia do País, mas é importante ressaltar que, neste cenário, o médico-veterinário é fundamental por atuar em toda cadeia de produção, desde a criação até a produção de alimentos de origem animal, na inspeção e na vigilância sanitária. Em se tratando de saúde pública, a atuação desses profissionais é essencial, especialmente, no controle de doenças infectocontagiosas, como a tuberculose animal e a brucelose.

“No Brasil, os médicos-veterinários que trabalham com animais de produção, principalmente bovinos, bubalinos e suínos, tem apoio de Programas Sanitários do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), como o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), e o Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS). Estes programas sugerem protocolos diagnósticos e manejos sanitários no caso de focos positivos para as enfermidades, sendo programas fundamentais para garantir a segurança sanitária do rebanho, proteger a saúde dos trabalhadores rurais e impedir a disseminação dessas doenças para a população em geral”, ressalta Vera Letticie de Azevedo Ruiz, presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), docente e coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP) – campus Pirassununga.

Por outro lado, Vera Letticie alerta que para os profissionais que trabalham com animais de companhia, como cães e gatos, não existem normativas ou diretrizes específicas para o diagnóstico e manejo dessas doenças, o que dificulta a vigilância epidemiológica nessas espécies. Embora a transmissão da tuberculose e da brucelose de pequenos animais para humanos seja menos frequente do que em animais de produção, a ausência de regulamentação e protocolos oficiais pode representar um desafio na detecção precoce e no controle dessas enfermidades em ambientes urbanos.

“Assim, fica evidente a importância da atuação do médico-veterinário não apenas na execução dos programas sanitários já estabelecidos, mas também na ampliação da vigilância epidemiológica para outras espécies e no desenvolvimento de estratégias que fortaleçam a interface entre a saúde animal e a saúde pública, alinhando-se aos princípios da Uma Só Saúde”, enfatiza a coordenadora da FZEA-USP.

Celso Antonio Rodrigues, presidente da Comissão Técnica de Grandes Animais e Produção Animal do CRMV-SP, professor-titular da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (FMVZ-Unesp) e assessor da Pró- Reitoria de Planejamento Estratégico e Gestão da Unesp – Campus de Botucatu, concorda que é fundamental o envolvimento e a participação do médico-veterinário no controle e combate de doenças infectocontagiosas, como a tuberculose e a brucelose, mas afirma que há necessidade de uma estratégia delineada para que se possa atingir os objetivos. “Em alguns momentos observamos falhas na condução dos programas, pois os antígenos e vacinas precisam estar disponíveis no momento de maior procura por parte dos criadores e dos médicos-veterinários que realizam esses testes e vacinações”.

Decisivos na abordagem de Uma Só Saúde

Ao salvar vidas animais por meio das inovações científicas e desenvolvimento de vacinas, os médicos-veterinários protegem também a saúde humana e ambiental. Vera Letticia ressalta que o papel desses profissionais na abordagem de Uma Só Saúde ainda é pouco explorado, mas fundamental, pois sua formação abrange a saúde animal em todos os seus aspectos, a integração dos animais com o meio ambiente e os impactos dessa interação, incluindo a questão de dejetos e carcaças provenientes da produção animal.

“Seus conhecimentos em epidemiologia e sua atuação em áreas como zoonoses e infecções transmitidas por alimentos fazem dele um aliado importante na prevenção de doenças, protegendo a saúde humana. Portanto, dentro do conceito de Uma Só Saúde, o médico-veterinário desempenha um papel essencial na prevenção e controle de doenças zoonóticas, que podem ser transmitidas de animais para seres humanos. Também é peça-chave no desenvolvimento de vacinas, tratamentos e novas terapias, beneficiando tanto os animais quanto os seres humanos”, afirma a presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do CRMV-SP.

Para Rodrigues, sem o médico-veterinário a saúde pública não funciona, especialmente, no que se refere às doenças infectocontagiosas que apresentam uma relação com os animais, sejam domésticos ou silvestres. “É preciso lembrar que não estamos isolados, temos de pensar no universo e suas correlações, e aí está a importância do médico-veterinário e a interrelação entre aqueles que atuam nos atendimentos com os que estão nas academias, nos institutos de pesquisa trabalhando no desenvolvimento de vacinas, e pensarmos em medidas que visem prevenir e controlar algumas dessas enfermidades”, salienta o presidente da Comissão Técnica de Grandes Animais e Produção Animal.

Vera Letticie destaca, ainda, que o médico-veterinário colabora de forma integrada com outros profissionais, como médicos, biólogos e equipes de saúde da família. “Estes profissionais adotam uma abordagem ampla para o controle de doenças e a promoção da saúde, uma vez que seu trabalho nas áreas de vacinação, controle de epidemias e prevenção de doenças, impacta diretamente a segurança e o bem-estar das espécies animais, e tem reflexos diretos na saúde da população humana”, diz.

O cuidado com o meio ambiente também é crucial. “Muitos problemas de saúde surgem da degradação ambiental, como poluição e mudanças climáticas, e de desastres naturais ou antropogênicos, que afetam tanto os humanos quanto animais daquela região. A ação de médicos-veterinários nessas situações pode contribuir positivamente para a contenção de emergências sanitárias. Ao integrar seu conhecimento sobre saúde animal com a saúde pública e ambiental, o médico-veterinário tem um papel vital na criação de um ambiente mais seguro e saudável para todos os seres vivos, contribuindo significativamente para a ideia de Uma Só Saúde”, ressalta Vera Letticie.

Fiscalização agropecuária

A atuação do médico-veterinário fiscal agropecuário é fundamental na prevenção da transmissão zoonótica de doenças como a tuberculose animal e da brucelose, e se baseia na educação sanitária, fiscalização de trânsito e vigilância em rebanhos.

“Quanto à educação, os fiscais agropecuários atuam orientando os produtores quanto aos cuidados com os animais, a necessidade da vacinação das fêmeas contra brucelose, a importância de se realizar exames do rebanho e os cuidados com os animais que apresentem algum sintoma sugestivo destas enfermidades, além dos cuidados no consumo de produtos (leite e carne) oriundos da propriedade”, explica Rodrigo Marini, gerente do Programa Estadual de Controle da Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PECEBT), da Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo.

Nas fiscalizações de trânsito e de rebanho, Marini ressalta que são verificados os dados de vacinações e exames e, nos casos em que são identificados animais enfermos, há todo um acompanhamento da ocorrência pelos servidores, sendo suspensa a movimentação de bovídeos da propriedade até que os animais doentes sejam eliminados e apenas após isto o estabelecimento é desinterditado, de forma que animais infectados não sejam transferidos para outros locais, disseminando a doença. “Nestes casos, além deste acompanhamento na propriedade, os órgãos de saúde municipal são notificados da ocorrência da enfermidade para que as equipes de atendimento possam atuar, entrando em contato com os produtores e suas famílias e tomando as ações necessárias”, afirma o gerente do PECEBT.

Duas frentes – a fiscalização agropecuária se divide em inspeção de produtos de origem animal e defesa sanitária animal.A inspeção compreende ações dentro das indústrias (abatedouros, laticínios, entrepostos de carnes, entrepostos de ovos, entre outros) e é responsável por verificar as condições dos animais e matérias-primas, produtos acabados e os processos ao longo da produção, checando se estão dentro dos padrões estabelecidos e, em caso de desvios ou inconformidades, solicitar as correções ou determinando o descarte dos produtos, conforme o caso.

“Desta forma, garante-se que os alimentos obtidos a partir de materiais apropriados e manipulados de maneira higiênica, além de que tenham sido submetidos a técnicas que inativem possíveis agentes patógenos e possam ser distribuídos à população com a segurança de que estão consumindo produtos inócuos e de boa qualidade”, afirma gerente do PECEBT.

Já a defesa sanitária engloba as ações de fiscalização nas propriedades e eventos agropecuários, verificando a movimentação e observando as condições dos animais nos rebanhos. A fiscalização da movimentação verifica se as exigências sanitárias foram atendidas como, por exemplo, a necessidade de realização de exames para a participação em eventos agropecuários ou quando da movimentação de animais destinados à reprodução. Abrange ainda a fiscalização de trânsito pela abordagem de veículos de transporte de carga viva, verificando origem, destino e documentação exigida, garantindo que animais que adentrem o estado ou sejam transportados estejam com as vacinas e exames em dia.

“Além disso, compreende o atendimento a focos da enfermidade, quando animais apresentam resultado positivo para tuberculose, atuando na identificação destes animais e na eliminação dos doentes, evitando a disseminação da doença no rebanho e investigando possíveis origens e vínculos epidemiológicos”, explica Marini.

Inspeção de carcaças – uma das competências do médico-veterinário é o acompanhamento do desembarque de animais na chegada ao abatedouro e inspeção anterior ao abate, momento em que já podem ser observados sinais indicativos de eventuais problemas ou enfermidades no lote, informação que auxilia na determinação da ordem de abate e na hora de inspeção das carcaças na planta.

“Além disso, o conhecimento das enfermidades dos animais e sintomatologia, bem como de achados à inspeção, são competências da formação em Medicina Veterinária e que conferem ao profissional a capacidade de avaliar a condição dos produtos e possíveis riscos e indícios nocivos ao consumidor final. Soma-se a isto o fato de que a atuação do fiscal agropecuário visa a saúde pública, seu foco é identificar estes riscos e interceptar os produtos inadequados ao consumo, impedindo que cheguem à população e dando destino adequado aos mesmos”, enfatiza Marini.

Vacinas e protocolos de diagnóstico

Ricardo Spacagna Jordão, responsável técnico dos Laboratórios LABinov e o IMB do Instituto Biológico (IB), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, coordenador da Comissão de Ética em Experimentação Animal do IB e presidente eleito da Associação Mundial de Buiatria, destaca que o médico-veterinário é imprescindível também em investigações científicas que geram vacinas inovadoras e protocolos de diagnóstico para doenças como tuberculose e brucelose.

“Somente o médico-veterinário é quem pode realmente fechar todo o diagnóstico, indicar tratamento quando houver ou quais as ferramentas diagnósticas, principalmente, os antígenos para diagnóstico de brucelose e tuberculose que podem ser empregados, assim como só esse profissional tem treinamento específico, habilitação do Mapa, para fazer esses diagnósticos”, conclui Jordão, enfatizando que a Medicina Veterinária acaba influenciando tanto na medicina dos animais como na Medicina Humana, porque o desenvolvimento de imunobiológicos humanos sempre vai ter que passar pelos animais. 

Dia Mundial de Combate à Tuberculose

Celebrado em 24 de março, o Dia Mundial de Combate à Tuberculose tem como objetivo reforçar a prevenção e conscientizar a população sobre a doença que continua sendo uma das mais mortais do mundo.

Devido a urgência para a eliminação da tuberculose, este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como tema um chamado: “Sim! Podemos Acabar com a Tuberculose: Comprometer-se, Investir, Entregar”.

A ideia é que os líderes mundiais se comprometam a implantar as orientações e políticas da OMS, investimentos em pesquisas e inovação e ampliar a detecção precoce, diagnóstico, tratamento preventivo e de alta qualidade.

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