Após a conclusão de seu processo eleitoral, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) iniciou, no dia 08/05, em Osasco, a temporada 2024 do projeto CRMV-SP Escuta. O encontro contou com a participação de 15 profissionais da região, que compartilharam suas demandas, críticas e sugestões, e receberam apoio e orientação dos membros da autarquia. Entre os temas debatidos, a qualidade de ensino em Medicina Veterinária, associativismo e maior engajamento político, atendimento veterinário domiciliar e zoonoses.
Na abertura, o presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero, convidou a todos a ficarem de pé e pediu um minuto de silêncio em memória do ex-presidente do CFMV, Francisco Cavalcanti de Almeida, falecido no dia 01/05, e falou da contribuição do também ex-presidente do CRMV-SP.
“Todos sabem da história do Dr. Francisco, do legado que ele deixa para a Medicina Veterinária e esta é uma homenagem mais do que justa. Inclusive, ele esteve no CRMV-SP Escuta de Campinas, como presidente do CFMV, e ficou encantado. Ele disse para os presidentes dos outros regionais seguirem esse exemplo, ele era apaixonado por esse projeto”, afirmou, emocionado, Mossero.
Em seguida, o presidente do CRMV-SP agradeceu a presença de todos e ressaltou que embora a participação dos profissionais por todo o Estado não seja expressiva, o evento é uma semente plantada para que um dia a participação cresça, é uma forma de, cada vez mais, cativar a todos para participarem da vida da profissão, do Conselho e do cenário político.
“O CRMV-SP Escuta tem como objetivo principal, além desse momento de convivência, abrir espaço para que o colega que está na base, no exercício da profissão, compartilhe suas dores que, muitas vezes, nós da Diretoria não percebemos no dia a dia, mas que podemos tentar ajudar orientando e respondendo as questões”, salientou Mossero, agradecendo a liderança e o trabalho da Associação de Osasco e enfatizando que sem a participação efetiva dos representantes regionais do Conselho e das associações de classe das regiões visitadas, o CRMV-SP Escuta não teria condições de ser realizado.
Participações
Ainda na abertura, Renato Lima, presidente da Associação de Médicos-veterinários de Osasco e Região (Amvor) agradeceu ao presidente do Conselho pela realização do CRMV-SP Escuta que, levado às cidades de todo o Estado, tem agregado muito à classe.
“O médico-veterinário precisa sair da zona de conforto, deixar de ser sempre aquele terceiro e quarto escalão no serviço público ou ser subalterno na iniciativa privada e começar a ter cabeça de dirigente, a pensar, a dirigir este país. Nossos colegas não fazem política classista, não são associativistas e é essa bandeira que tentamos levantar há algum tempo. Temos 208 colegas na Associação e aqui no evento de hoje nosso quórum é baixo, mas como qualidade é diferente de quantidade, vamos pegar as melhores cabeças e colocá-las a favor da nossa profissão”, enfatizou Lima.
Ao lado do presidente Mossero, compuseram a mesa, o diretor técnico Leonardo Burlini, e o diretor jurídico e administrativo Bruno Fassoni. Estiveram presentes também a conselheira Suely Stringari de Souza; o conselheiro e presidente da Comissão Técnica de Políticas Públicas, Raphael Marco Blech Hamaoui; a presidente da Comissão Técnica das Entidades Veterinárias Regionais do Estado de São Paulo, Maria Cristina Santos Reiter Timponi; os representantes regionais Márcio Rangel de Mello (Vale do Paraíba – presidente da Comissão), Mário Ramos (Bauru e Botucatu), Carlos Renato Murta (Sorocaba), Izalco Nuremberg Penha dos Santos (São José do Rio Preto), José Guedes Deak (Campinas), Elma Pereira dos Santos Polegato (Marília); a coordenadora técnica médica-veterinária Alessandra Karina da Silva Fonseca e a fiscal médica-veterinária, Mariana Dionísio; além de representantes do Sebrae do município.
Qualidade da educação
Uma das questões colocadas durante o evento foi como o Conselho age com relação ao grande número de cursos de Medicina Veterinária que há no Brasil e a baixa qualidade do ensino, que formam, por vezes, profissionais mal preparados. Ressaltando que a pergunta sobre a qualidade da educação é recorrente em todas as edições do CRMV-SP Escuta, Mossero concorda que é um problema muito grave e uma das pautas de sua gestão.
“No Brasil existem cerca de 540 cursos, em São Paulo, são formados 4.500 médicos-veterinários por ano, sendo 54 mil profissionais ativos no Estado. O Ministério da Educação (MEC) é quem faz a política educativa no Brasil. Entretanto, o Sistema CFMV/CRMVs busca trabalhar intensamente, já que não tem poder legal, para impedir a abertura de novos cursos. Isso é um trabalho político. O Dr. Francisco foi incansável nessa luta e a nova gestão do Federal continua tentando convencer deputados sobre a situação do ensino da Medicina Veterinária, inclusive sobre o EaD”, afirmou Mossero, destacando que a Comissão Técnica de Educação do Conselho criou o Selo de Certificação, o qual é concedido às faculdades que cumprirem determinados requisitos, uma forma de mostrar para a sociedade quais instituições oferecem um ensino de qualidade.
Atendimento domiciliar
Outra preocupação citada pelos profissionais foi sobre regulação do atendimento domiciliar em São Paulo. O diretor técnico do CRMV-SP destacou que o Regional tem pleiteado ao Federal há algum tempo que regulamente esta forma de prestação de serviço médico-veterinário.
“Percebemos que os colegas têm insegurança em relação àquilo que eles podem fazer em domicílio e que, sem regramento, podem ser questionados pelos tutores. E essa insegurança não é boa nem para o colega clinicando e nem para o Conselho que não tem regramento para orientar e fiscalizar. O Conselho Federal chegou a encaminhar uma minuta de resolução para todos os regionais se manifestarem, e isso agora está sendo analisado. A orientação que temos, atualmente, sobre quais tipos de procedimentos podem ser realizados em domicílio, é utilizar em paralelo o que pode ser feito em consultório veterinário, estabelecido na Resolução CFMV nº 1.275/2019, ou seja, atividades laboratoriais, vacinação, pequenos curativos”, ressaltou Burlini.
Segundo o direto técnico do CRMV-SP, o Regional espera para que haja um regramento do atendimento domiciliar em breve. “Ainda não há uma unidade de pensamento jurídico se o Conselho Regional deve ou não regulamentar, ou se isso deve ficar só a cargo do Federal”, destacou.
Zoonoses
Sobre a esporotricose, cujos casos têm aumentado em Osasco e região, o questionamento foi a respeito de ainda não ser uma doença de notificação obrigatória, mesmo frente ao aumento de incidência entre gatos e até em humanos.
Burlini destaca que, mesmo não havendo lei de notificação obrigatória no âmbito nacional nem estadual para essa doença, há a possibilidade de se instituir por lei municipal. “Caso estejam tendo problemas, o Conselho pode auxiliar oficiando as lideranças, as autoridades e a Prefeitura, justificando e mostrando a necessidade da notificação para esporotricose.”
O representante regional de Bauru e Botucatu, Mário Ramos, que já foi secretário de Saúde, ressaltou, ainda, que a esporotricose será uma realidade em todo o Brasil, “fruto de atos que a sociedade comete, hoje em dia, quando alimentam gatos de rua, mas a sanidade e controle populacional são renegados, o que provoca uma transmissão intensa da doença entre esses animais”.
“Quem tem que tratar esses animais infectados é o município, seja pela Secretaria de Saúde, seja pela Secretaria do Meio Ambiente, e isso é resolvido com facilidade com uma Instrução Normativa que pode ser feita por qualquer uma das secretarias, com o protocolo de trabalho para os colegas médicos-veterinários e para o serviço de saúde a respeito do recebimento de animal suspeito de esporotricose”, salientou Ramos, alertando para o fato de que, recentemente, a Secretaria Estadual de Saúde definiu a notificação obrigatória para esporotricose humana no Estado de São Paulo, o que é um sinal de alerta de que a situação é mais grave do que se avalia.
Associativismo
Todas os questionamentos abordados durante o evento passam por questões políticas. A mobilização da classe se faz necessária e para isso é preciso que os médicos-veterinários se engajem politicamente para que muitas das dores da profissão sejam minimizadas e, até mesmo, sanadas.
O presidente do CRMV-SP destacou que, cada um dos profissionais que participaram do CRMV-SP Escuta, mesmo sendo em número reduzido, certamente, foram despertados para dar início a mudança de panorama da Medicina Veterinária.
“A própria eleição do Conselho, que teve cinco chapas homologadas, sendo quatro concorrentes é uma prova de que os médicos-veterinários estão começando a enxergar a necessidade de participar mais efetivamente. E nossa ideia de encerrar as edições do CRMV-SP Escuta desta gestão na Grande SP é, exatamente, porque nessa região é que temos o maior número de colegas engajados e que lutam muito pelo associativismo. O que acontece é que precisamos de mais força política no Congresso, na Assembleia Legislativa, nas Câmaras Municipais. É preciso mobilizar a classe, votar em políticos comprometidos com nossa causa, meu partido é a Medicina Veterinária!”, enfatizou Mossero.
Para o presidente da Amvor, a classe precisa se organizar e primar sempre pelo associativismo. “Nossa palavra não ecoa, por isso, nós médicos-veterinários temos que gerar colegas políticos para nos ajudarem na luta pela valorização da Medicina Veterinária”, concluiu Lima.