Pesquisas relevantes para a Medicina Veterinária e Zootecnia têm liderança feminina

Pesquisas relevantes para a Medicina Veterinária e Zootecnia têm liderança feminina
Texto: Comunicação/CRMV-SP e Foto: Pixabay

Dia 11 de fevereiro celebra-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi instituída em 2015 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como um dos passos para cumprir o quinto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, que é a igualdade de gêneros.

Na ciência, a presença feminina vem se consolidando e contribuindo para avanços em diversas áreas, um indicativo disso é o prêmio Nobel de Medicina de 2023, que premiou a cientista Katalin Karikó e seu parceiro de pesquisa Drew Weissman por descobertas que permitiram o desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro (mRNA). Essas vacinas utilizam estruturas que já existem no organismo, mas dão a elas novas funções, como produzir anticorpos contra o vírus da Covid-19, ampliando e agilizando o combate à pandemia.

Ainda assim, o prêmio Nobel também demonstra a dificuldade das mulheres em conseguir reconhecimento em suas carreiras. O número de ganhadoras em todas as categorias do prêmio até 2024, não chega a 70, foram 66 mulheres, enquanto o número de laureados homens é 915.

Historicamente meninas sempre foram menos incentivadas a seguir carreiras científicas, o que se reflete no número desigual de mulheres inscritas em cursos de nível superior nas áreas de ciências exatas e tecnologia. Segundo dados da última edição do Relatório Científico da Unesco, somente 35% dos estudantes matriculados em estudos científicos são mulheres.

Medicina Veterinária e Zootecnia

Na Medicina Veterinária e na Zootecnia mulheres vêm desempenhando papéis fundamentais, além de atuar na área clínica, elas também são educadoras, líderes e pesquisadoras. “Sempre fui uma pessoa curiosa e motivada pela busca por respostas, o que acabou me aproximando da pesquisa,” revela a médica-veterinária e aluna de mestrado, Luiza Barbosa.

Na pesquisa do mestrado em Epidemiologia e Saúde Única, Luiza investiga como a superexpressão da nucleoproteína influencia a replicação do vírus da raiva, o que pode contribuir para a identificar potenciais alvos terapêuticos, abrindo caminhos para o desenvolvimento de um tratamento antiviral eficaz contra a doença. Nesse caminho, a profissional já passou por situações incômodas. “Durante a graduação, por exemplo, presenciei comentários e piadas de teor machista proferidos por professores homens, evidenciando que esse tipo de comportamento, infelizmente, ainda persiste, mesmo não sendo uma realidade exclusiva da Medicina Veterinária.”

Já para a zootecnista Ana Flávia Patini, apaixonada por cavalos, cujo trabalho de conclusão de curso foi uma pesquisa científica sobre equinos submetidos a exercícios de mobilização dinâmica, reclama da cobrança desigual entre os gêneros. “Precisamos saber nos impor diante das situações corriqueiras e mostrar muito mais resultados para que possamos começar a ter reconhecimento.”

Apesar das dificuldades, ambas veem avanços. “Nos últimos anos nós podemos notar o aumento de mulheres nas universidades e, consequentemente, no mercado de trabalho”, destaca a zootecnista Ana Flávia.

Presença feminina

Números divulgados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária em 2023 mostram que 56% dos médicos-veterinários e 36% dos zootecnistas registrados no Brasil são mulheres.

Médica-veterinária do Laboratório Influenza Indiretos do Butantan, Júlia Mayumi Fujii Ferrazo escolheu a Medicina Veterinária pelo sonho de cuidar dos animais, ela lembra que enfrentou desafios por causa do gênero. “Não somente na vida profissional, mas em manifestações do cotidiano que parecem ser normais. Acredito que passei por desafios que se fosse do gênero oposto, eu não iria enfrentar.”

Ela também destaca o papel das mulheres no Butantan.  “Para o desenvolvimento da vacina da dengue, realizado pelo instituto, existem mulheres como linha de frente e estas tiveram o papel fundamental para o processo de desenvolvimento da vacina, conduzindo estudos e ensaios clínicos, além da produção para garantir a segurança e eficácia do produto.”

Desafios que marcam

Médica-veterinária responsável pelo Controle de Qualidade Biológico do Butantan, e envolvida na promoção do bem-estar dos animais de experimentação que são utilizados nos testes, Milene Luna, acredita não ter sofrido discriminação diretamente. “Não enfrentei obstáculos, mas a Medicina Veterinária ainda carrega alguns estereótipos de gênero, principalmente para as mulheres que atuam nas áreas de produção e grandes animais.” 

Já a médica-veterinária responsável técnica pela Pesquisa do Butantan, Renata Gemio dos Reis, enfrentou uma realidade mais dura.  “Eu fui, a princípio, para uma área dominada pelos homens que era a Medicina Veterinária dentro da fazenda, produção de ruminantes, equinos e suínos. Enfrentei preconceito e, por vezes, fui desafiada. Mas eu consegui não só trabalhar com medicina de vacas leiteiras, como ensinar à muitos produtores o benefício de ter mais mulheres trabalhando com eles.”

Renata também conta que as provocações não diminuíram quando migrou da fazenda para a pesquisa. “Quando me destaquei na área de ciência de animais de laboratório, ainda precisei rebater que tal colocação deveria ser preenchida por um homem porque as caixas eram pesadas.”

Futuro

“Vejo avanços significativos no campo da política, nos conselhos, setor público, com mais mulheres ocupando esses espaços e participando ativamente das decisões”, relata a médica-veterinária Renata Barrionuevo Gotti, membro da comissão de Pesquisa Clínica Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Todas essas mulheres são esperançosas e incentivam as próximas gerações a não desistirem da pesquisa científica. “A pesquisa precisa de mais mulheres capacitadas comprovando que a nossa profissão tem muito a contribuir na produção e ciência animal em geral”, acredita a zootecnista Ana Flávia Patini.

“Na Medicina Veterinária, a presença feminina fortalece o desenvolvimento da profissão e amplia as possibilidades de avanços científicos, trazendo mais diversidade de ideias, habilidades e novas perspectivas para resolver desafios na saúde animal e pública”, pondera a mestranda Luiza Barbosa.

Quer ser pesquisadora?

Milena Luna dá a dica para quem pretende seguir carreira na Ciência. “Os obstáculos fazem parte do caminho, mas nos fazem crescer e aprender. Acredite em si mesma e no seu potencial. Não deixe que te desmotivem, busque mentores que te apoiem. Seja curiosa, a ciência é movida pela curiosidade.”

E Renata Gemio dos Reis diz que o mais importante é não demorar para começar. “Só vai! Não há nada que a dedicação não traga. Então estude, corra atrás dos seus objetivos – por mais bizarros que eles pareçam.”

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