CRMV-SP homenageia mulheres de destaque na pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia

Conheça a carreira de profissionais que fazem a diferença na ciência do País e que estão em Comissões Técnicas do Regional
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Freepik

Em 11 de fevereiro é celebrado o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, uma oportunidade para celebrar as conquistas femininas na Medicina Veterinária e na Zootecnia. O dia serve como um lembrete da importância de promover a representatividade e a inclusão de mulheres na Ciência, e incentivar que meninas estejam na escola. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) aproveita para rememorar a carreira de mulheres de destaque em suas áreas e que fazem parte da gestão como integrantes de Comissões Técnicas da autarquia.

A data foi instituída em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas como forma de reconhecer o papel fundamental exercido pelas mulheres e meninas na Ciência e na tecnologia. De acordo com o Relatório de Ciências da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) de 2021, as mulheres representam 33,3% de todos os pesquisadores, mas somente 12% dos membros das academias de ciências nacionais. Embora a presença feminina tenha crescido significativamente nas últimas décadas, ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar a igualdade de gênero.

Na Medicina Veterinária e na Zootecnia, duas áreas que no passado eram consideradas quase que exclusivamente masculinas, um novo cenário já é apresentado. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) de dezembro de 2023, as mulheres já são 57,5% dos profissionais ativos no País. Elas também ocupam cadeiras nas academias nacionais.

No estado de São Paulo, que conta com mais de 50 mil (50.326) médicos-veterinários atuantes, elas já representam 66% do efetivo. Na Zootecnia, dos 1.493 profissionais com inscrição ativa no CRMV-SP, cerca de 40% correspondente ao sexo feminino. Por aqui elas também ocupam espaço nas academias de ambas as áreas.

“As mulheres têm desempenhado um papel fundamental na pesquisa, na prática clínica e na inovação na Medicina Veterinária e na Zootecnia. Elas são responsáveis por importantes descobertas e avanços que impactam a saúde animal, o bem-estar animal, a produção sustentável e a conservação ambiental. E elas são parte dessa gestão, integrando a diretoria e comissões técnicas importantes do CRMV-SP”, afirma o presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero.

Por isso, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) aproveita para homenagear algumas dessas mulheres que fazem a diferença na Ciência do País. Confira um pouco dessas trajetórias profissionais inspiradoras.

Aquicultura

Primeira médica-veterinária mulher a se dedicar à pesquisa de doenças de peixe no Brasil, Agar Costa Alexandrino de Perez, atualmente presidente da Comissão Técnica de Aquicultura do CRMV-SP, conquistou diversos reconhecimentos na carreira. Formada em 1974 pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), cursou mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em Patologia na Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Especializei-me em doenças de peixes em um curso ministrado pela FAO/Chile. Em 1976, iniciei minha vida de pesquisa no Instituto de Pesca, ligado à Secretaria da Agricultura de São Paulo, me dedicando ao diagnóstico de doenças de peixes. Em 1985 ingressei na carreira de Pesquisadora Científica”, relata.

Agar conta que, graças ao seu trabalho, foi agraciada com a indicação, em 1997, para “Profissional Médico-veterinário do ano” pelo CRMV-SP e, em 2007, para atuar como presidente da Comissão da Aquicultura do Regional. “Com o conhecimento adquirido em ictiopatologia, fui indicada a trabalhar como perito criminal num processo do Tribunal de Justiça de São Paulo, sendo a primeira médica-veterinária a conduzir este tipo de trabalho. Também tive a oportunidade de orientar vários estudantes de Medicina Veterinária e pós-graduandos que labutam em indústrias de pescado”, conta.

Em 2019, a pesquisadora tomou posse na Academia Paulista de Medicina Veterinária (Apamvet), ocupando a cadeira de número 31.

Agar Costa Alexandrino de Perez, presidente da Comissão de Aquicultura do CRMV-SP e Sebastião Costa Guedes, vice-presidente da Apamvet estão em pé, ela entrega a ela o diploma.
Zootecnia

A zootecnista Célia Regina Orlandelli Carrer, integrante da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, foi a primeira mulher a presidir a Associação Brasileira de Zootecnistas – de 2014 a 2017. Graduada em Zootecnia pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), desde 1984 é docente no curso de Zootecnia da USP. Na universidade, foi presidente da Comissão de Graduação, coordenadora do curso de Zootecnia e chefe do Departamento de Ciências Básicas.

“Sou zootecnista há 40 anos. Destes, 37 anos atuei como professora e pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP) em Pirassununga, no curso de Zootecnia. Minha área de atuação sempre foi a fisiologia de plantas forrageiras, que são as utilizadas para alimentação dos animais, em pastagens”, relata.

Fora da universidade, Célia participou de diversas comissões que tratavam do ensino da Zootecnia, como a Comissão Assessora do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Enade/Inep), na área de Zootecnia; a Comissão de Zootecnia da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior, e a Comissão Nacional de Ensino da Zootecnia do CFMV.

“A educação foi sempre uma paixão muito grande. Participei ativamente da política profissional no âmbito do Conselho Federal e Regionais de Medicina Veterinária, e da construção das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Zootecnia”, conta.

De 2009 a 2018, foi presidente da Comissão de Ensino e Pesquisa da Zootecnia do CRMV-SP e, atualmente, é integrante da mesma comissão, chamada agora de Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino.

Homeopatia Veterinária

A médica-veterinária Leoni Villano Bonamin, integrante da Comissão Técnica de Homeopatia Veterinária do CRMV-SP, foi presidente da principal e mais antiga sociedade científica internacional, a GIRI (Groupe International de Recherche sur l´Infinitésimal), entre 2002 e 2008. Graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (USP), em 1987, e concluiu o doutorado em patologia pela mesma instituição em 1995, com estágio “sanduíche” na Escola de Veterinária de Lyon, na França, entre 1992 e 1993. Ela fez, ainda, pós-doutorado em patologia ambiental e experimental na Universidade Paulista (Unip).

É professora titular de patologia na Unip, desde 1991; editora adjunta do periódico “Homeopathy”, desde 2015; e dedica-se à pesquisa para compreender a ação das altas diluições e dos medicamentos homeopáticos, desde 1997, sendo uma das mais reconhecidas pesquisadores da área.

“Entre as minhas principais descobertas, estão que a homeopatia age em qualquer sistema vivo facilitando os processos de bio-resiliência frente a agressões do meio, e que é possível rastrear a presença de preparações homeopáticas na água por meio do método dos corantes solvatocrômicos (método de Cartwright), mesmo em condições de campo (em lagos e riachos)”, relata.

Bem-estar Animal

Para a médica-veterinária e zootecnista, Paola Moretti Rueda,membro da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do CRMV-SP, sua maior contribuição para a Ciência foram os estudos de temperamentos e sua relação com a inseminação artificial e tempo fixo, e sobre como criar estratégias para melhorar a eficiência da fazenda.

A profissional conta que desde sua primeira graduação, em Zootecnia, a importância das mulheres foi fundamental. “Na disciplina de introdução à Zootecnia, a professora Eliane Vianna da Costa e Silva deu uma aula sobre comportamento e bem-estar. Nesse momento, acendeu uma luz na minha cabeça, com 17 anos, de que seria isso que queria para a minha vida”, relata. Ela conclui o mestrado na em ciência animal na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e o doutorado em Zootecnia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), com foco em comportamento e bem-estar animal na espécie bovina.

Seu principal foco de pesquisa sempre foi relacionado com manejo. “Nos anos 2000, com a expansão da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em bovinos, queríamos entender quais eram os efeitos nas vacas e novilhas. Entendemos que havia alguns princípios, como trabalhar com grupos menores no curral, organizar todos os equipamentos com antecedência e precisávamos que de alguma forma os animais não tivessem uma memória ruim do curral. Desde a graduação já trabalhava com temperamento de bovinos e isso era chave para fechar a engrenagem do manejo”, relata.

No doutorado as pesquisas foram em fazendas pelo Brasil. “Por meio do condicionamento, dávamos milho com melaço – ou outra coisa, também – na saída do tronco de contenção e conseguimos deixá-las mais calmas e com melhor taxa de prenhez”, conta. Nessa época, ela relata que publicou artigos, capítulos de livros, e recebeu um prêmio da Expozebu. No ano seguinte, foi contratada por uma Organização Não Governamental (ONG) para ministrar treinamentos em abate humanitário em parceria com o Ministério da Agricultura. “Viajei o Brasil inteiro, do Rio Grande do Sul ao Acre. Trabalhei com o abate de várias espécies, mas principalmente com aves, suínos e bovinos”, declara.

Para ela, foi maravilhoso traduzir o que a ciência mostrava, inclusive em outros países. “Conheci muitas empresas com jeitos diferentes de trabalhar e vi que com base na ciência podemos aplicar muitas coisas no dia a dia. Eu realmente amo pesquisar e raciocinar como posso contribuir para um mundo melhor”

Paola concluiu a faculdade de Medicina Veterinária e, em 2022, começou a trabalhar com sustentabilidade e ESG (sigla do inglês para ambiental, social e governança, pilares para avaliar a responsabilidade corporativa das empresas). Além da empresa na qual é gerente em ESG e bem-estar, ela trabalha com certificação em bem-estar, e é professora em duas pós-graduações com foco em sustentabilidade e bem-estar.

“Sempre há desafios. Eu acho que o que as pessoas pensavam era: o que esta menina está fazendo? Mas as barreiras foram quebradas aos poucos, com muito embasamento científico, que é uma coisa que não abro mão. E muitas outras pesquisadoras maravilhosas me antecederam e vieram após.
Quanto à vida pessoal, é difícil conciliar, mas não impossível. Uma coisa aprendi, que se tiver que dar pausas de 6 meses ou 1 ano para fazer algo para meus pais, filho e irmã, eu faço. Depois a gente corre atrás e recupera”, pondera.

Responsabilidade Técnica

A médica-veterinária Rosália Regina de Luca, integrante da Comissão de Responsabilidade Técnica, foi uma das primeiras médicas-veterinárias a assumirem uma responsabilidade técnica de biotério. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), ela foi editora do primeiro Manual para Técnicos em Bioterismo do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) em língua portuguesa, e atuou por mais de 30 anos no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

Em seu período de graduação, participou de treinamentos e estágios em clínicas de pequenos animais, institutos de pesquisa que atuavam com animais de médio e grande porte, e em alguns laboratórios nas universidades. “Os treinamentos me possibilitaram perceber que preferia uma atuação junto à área de pesquisa. Procurava sempre uma oportunidade e, sem ter de fato optado exatamente pelo bioterismo, foi a oportunidade que surgiu mais próxima dos meus interesses, e abracei com vontade a área desde então”, relata.

“Na década de 1980, a área de animais de laboratório era incipiente, se resumia quase na sua totalidade em locais de criação para os animais usados em pesquisa, bem precários, com equipamentos obsoletos. Não era uma área de sonho. Não havia uma legislação para uso de animais de pesquisa no Brasil”, considera. Ainda assim, segundo ela, abrir caminhos também é um desafio que motiva quem inicia uma carreira.

“Iniciei meu trabalho no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), com a Professora Thereza Liberman Kipnis, que trouxe das suas parcerias na América uma visão moderna e prática da área, e construiu, junto com o departamento de Imunologia, e com verbas Finep e Fapesp, um novíssimo e um dos melhores biotérios brasileiros para camundongos isogênicos, ainda hoje um dos grandes biotérios de referência nacional”, conta.

Aos poucos, e com muito trabalho, a área de animais para pesquisa e docência se estabeleceu no Brasil como Ciência. “Depois de muita luta de técnicos e pesquisadores dedicados, temos Legislação Federal (Lei no 11.794/2008, mais conhecida como Lei Arouca, que regulamenta o uso de animais em pesquisa) e manuais de atuação e manejo específicos respaldados pelos órgãos federais existentes (Concea e Ciuca)”, relata.

Atualmente, a Responsabilidade Técnica é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que normatiza a atuação do Responsável Técnico em Biotério.

“Podemos contar com vários livros e manuais em língua portuguesa, e cursos presenciais e on-line para o treinamento e preparação dos profissionais que pretendem trabalhar e ou atuar na pesquisa. Trabalhar para o estabelecimento de uma área da ciência que ainda engatinhava, foi o que me fisgou para o Bioterismo”, considera.

Rosália se aposentou em 2018, e integrou a Comissão Técnica de Animais de Laboratório do CRMV-SP. Atualmente, faz parte da Comissão de Responsabilidade Técnica do Regional. Ocupa a cadeira de número 19, como Patrona, na Academia Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório (ABCAL).

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