As notícias de morte de animais por causa da poluição impactam tanto quanto o fato de que, antes de irem a óbito, milhares vivem em condições de sofrimento. São observadas deformações físicas em espécies que, quando filhotes, tiveram partes de plástico presas ao corpo e cresceram com o objeto.
Pesquisas internacionais apontam que a poluição das águas, que inclui substâncias tóxicas cancerígenas liberadas pelo plástico, causam outras alterações na vida marinha. “Entre as consequências estão alterações congênitas e hormonais nos animais”, comenta a Cristina Maria Pereira Fotin, médica-veterinária que integra a Comissão Técnica de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP)
O reflexo disso acontece em cadeias, passando pela redução de populações de um determinado grupo animal, que, por sua vez, provoca outros desequilíbrios. “Exemplos disso são as oscilações de populações das espécies. Se uma apresenta redução, pode haver diminuição de outra que se alimentava dela e, também, superpopulação de uma terceira, que servia de alimento para as que estão com queda no número de indivíduos”, explica Cristina.
A médica-veterinária também considera que o cenário aumenta a probabilidade de alteração do oxigênio da água, em decorrência do aumento da proliferação de cianobactérias. “Isso influencia negativamente na reprodução de peixes e outros organismos aquáticos.”
Problemática reflete lacunas sociais
Na opinião da médica-veterinária Valéria Ruoppolo, presidente do Instituto Mar e embaixadora para América Latina do World Cleanup Day, a presença de resíduos nos mares e oceanos está intrinsecamente ligada à pobreza. “Existem comunidades totalmente desassistidas que não têm qualquer ação de promoção à saúde, educação e lazer. Menos ainda para destinação de seus resíduos, que vão parar no mar”, enfatiza.
Calcula-se que mais de 50 mil pessoas habitem favelas de palafitas na Baixada Santista, uma delas é a comunidade “Caminho das Índias”, em São Vicente (SP), inserida em um ecossistema costeiro de transição entre os biomas terrestre e marinho. “Com isso, cerca de 20 toneladas de resíduos recicláveis chegam ao mangue por dia, sendo que 10 toneladas são de plástico”, conclui Valéria.
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