Subnotificação e ausência de ações sistêmicas agravam impactos das rodovias na vida animal

Centro de estudos nacional estima que a perda de exemplares ultrapasse 470 milhões a cada ano; ameaça às espécies é iminente
Comunicação CRMV-SP

No Dia Mundial da Vida Selvagem (03/03), diferentes aspectos da preservação e conservação da biodiversidade são foco de debates. A perda de exemplares da fauna brasileira por atropelamentos nas rodovias é um dos recortes mais inflamados da questão. Uma das necessidades cruciais é que o monitoramento desses casos e as ações sejam feitos de forma sistêmica.

Com base em cruzamento de dados, o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), vinculado à Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, estima que a cada segundo, 15 animais silvestres são vítimas de acidentes nas estradas do País, o que resulta na preocupante soma de 473 milhões por ano.

O último levantamento oficial feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), vinculado ao Ministério da Infraestrutura, foi realizado, em 2014, e abrangeu apenas 6,1% da malha de rodovias federais. No estudo, constatou-se a morte de 14.445 animais silvestres, dos quais 6,6 mil eram mamíferos e 4,1 mil, aves.

“Os números são extremamente preocupantes e provam que há um sério dano à biodiversidade. Perdemos animais ameaçados e outros milhões de pequenos que servem de alimento para diversas espécies”, comenta o professor Alex Bager, coordenador do CBEE.

Dados estaduais

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) passou a sistematizar números recebidos de concessionárias que administram as rodovias estaduais – com uma extensão aproximada de oito mil quilômetros . Até o momento, o órgão possui registros referentes apenas ao primeiro semestre de 2019.

De 8.368 animais atropelados nas rodovias paulistas, 3.998 eram silvestres, a maioria capivaras (1.223), cachorros-do-mato (233) e tatus-galinha (288). Do total, não houve como identificar a espécie de 156 carcaças.

Consequências

O declínio de populações de animais tem consequências negativas diversas. É o que argumenta a médica-veterinária Thaís Guimarães Luiz, integrante da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

“A redução do número de exemplares interfere na manutenção da diversidade genética das espécies, o que também representa um fator de ameaça de extinção, uma vez que essa diversidade permite que os animais se adaptem mais facilmente às mudanças ambientais.”

Medidas preventivas

Thaís comenta que, no estado de São Paulo, nos últimos anos, a ampliação da malha viária foi acompanhada por avanços no tratamento dos atropelamentos de fauna. As informações da Cetesb confirmam o argumento. Segundo a companhia, dentro do licenciamento de obras e novas rodovias, há exigências para implantar infraestrutura com foco na proteção de animais e para apresentar relatórios semestrais com os registros de atropelamento.

“Levando em conta as exigências para o licenciamento ambiental para implantação de novas vias, avalio que a tendência é que as rodovias de São Paulo se tornem mais seguras para a fauna. Porém, os resultados só poderão ser comprovados a médio e longo prazos e com base em um monitoramento contínuo”, afirma a médica-veterinária.

Confira as principais medidas, segundo a médica-veterinária:

– monitoramento contínuo de atropelamentos para embasar ações;

– avaliação de impacto ambiental rigorosa de novos empreendimentos rodoviários para considerar possíveis alterações de traçado do projeto, evitando áreas de maior circulação da fauna, como matas ciliares de rios e córregos e Unidades de Conservação;

– implantação de passagens inferiores de fauna, associadas a cercamento direcional;

– radares redutores de velocidade em trechos próximos de áreas de potencial ocorrência de fauna silvestre;

– planos para resgate emergencial, tratamento e reabilitação de animais feridos;

– aproveitamento didático-científico de cadáveres de animais encontrados mortos;

– informação para educação à população quanto ao tráfego seguro.

 

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