O senso comum determina que veneno é toda substância capaz de levar à morte. A ideia não é de toda errada, porém há venenos que são aliados da saúde e até da estética, pois servem de ingredientes para a produção de medicamentos e cosméticos.
Venenos como o de jararaca são usados para a produção de remédios para o controle da hipertensão. O de abelha é utilizado em tratamentos antienvelhecimento. Já o veneno de taturana ajuda a evitar tromboses. Para obter tais benefícios, não é preciso sofrer com a picada do animal, até porque o efeito da picada e do medicamento não são necessariamente iguais, segundo alertou a pesquisadora do laboratório de Bioquímica e Biofísica do Instituto Butantan, Ana Marisa Chudzinski Tavassi.
“Veneno é toda substância que vai causar um distúrbio em algum sistema, sem necessariamente matar. Às vezes buscamos um outro efeito ao da picada, buscamos no veneno um antagonista ao seu efeito”, explicou.
Ana Marisa diz que os venenos são boas fontes de pesquisa porque são ricos em proteínas que podem trazer efeitos e reações bastante distintos. “Ele é um molde para a busca de moléculas que vão auxiliar a descoberta de um tratamento”.
Os animais usados para as pesquisas são mantidos vivos e passam por rotinas de extração de veneno. Uma vez descoberta a molécula que pode ser usada na produção de um cosmético, isso não significa que as indústrias vão criar serpentários, colônias de abelhas, taturanas, entre outras.
“O veneno serve para mostrar qual peptídeo a ser usado e a tecnologia ajuda a encontrar a purificá-lo até encontrar a molécula correta que traz o efeito desejado. Conhecendo o peptídeo e a molécula, manda-se sintetizar essa molécula para que ela possa ser usada nas indústrias cosmética e farmacêutica”, explica Ana Marisa.
A pesquisadora já realizou descobertas bastante interessantes, como uma proteína presente na saliva do carrapato que pode ajudar a curar alguns tipos de câncer como os de pele, fígado e pâncreas, ou o uso do veneno de taturana para evitar trombose. Segundo ela, leva-se cerca de dez anos entre a descoberta da molécula até sua chegada às prateleiras. Para cosméticos há menos testes de segurança, mas, no caso dos remédios, há provas para conseguir a patente, fases clínicas e pós-marketing.
Conheça alguns dos venenos presentes nas prateleiras:
* Veneno de jararaca: possui uma substância usada para a fabricação de remédios para abaixar a pressão arterial.
* Veneno de cascavel: em 1997, na Universidade Estadual Paulista, de Botucatu (SP), uma equipe de pesquisadores descobriu uma cola para tecidos e pele humanos, feita à base do veneno dessa cobra. O veneno também é estudado para o uso no combate às rugas.
p>* Veneno de abelha: segundo pesquisas realizadas pela médica Izabella Saad Rached, da Universidade de São Paulo (USP), o veneno da abelha pode ajudar no tratamento de artrite e reumatismo. A substância também tem sido usada na Inglaterra em uma máscara anti-aging que promete ser uma alternativa orgânica ao Botox.
* Veneno de taturana: Ana Marisa e sua equipe descobriram que uma substância presente no veneno da taturana oruga tem propriedades anticoagulantes.
* Veneno de jararacuçu: alguns estudos têm sido realizados na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) para usar o veneno do animal no tratamento de tumores cancerígenos.
* Veneno de surucucu: cientistas das universidades de Mogi das Cruzes (SP), Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Ezequiel Dias (Funed) descobriram em 2006 que o veneno dessa serpente é capaz de reduzir tumores e evitar a formação de coágulos.
Não é veneno, mas…
Algumas substâncias presentes nos animais não são necessariamente veneno e podem ser usadas para a fabricação de remédios e cosméticos. Conheça algumas:
* Saliva de caramujo: ingrediente auxiliar no combate às rugas.
* Saliva de carrapato: contém proteínas que ajudam a combater cânceres de pele e bexiga, entre outros.
* Saliva de lagarto: mais especificamente do Monstro de Gila, que vive no Noroeste americano e no leste do México, ajuda no tratamento de diabetes.
* Secreção do sapo-cururu: desde 2008 pesquisadores dos Institutos Butantan e Adolf Lutz têm estudado esta substância no combate da leishmaniose.
Fonte: Terra (acessado em 03/11/2011)