Celebrado em 5 de agosto, o Dia Nacional da Saúde e o Dia da Vigilância Sanitária homenageiam o médico sanitarista paulista Oswaldo Cruz, referência histórica no combate a doenças como varíola e febre amarela, além de pioneiro em campanhas de vacinação e na consolidação das bases da Saúde Pública no Brasil.
Instituída pela Lei nº 13.098/2015, a data reforça a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, assim como de valorizar os profissionais que atuam na promoção da saúde pública. Entre eles, está o médico-veterinário, cuja atuação vai muito além do cuidado com os animais.
Embora ainda seja comum a percepção de que o médico-veterinário se dedica apenas à saúde animal, sua contribuição para a saúde humana é essencial. “Como profissional de saúde, ele protege a população ao garantir a segurança dos alimentos de origem animal e ao atuar em surtos e emergências sanitárias. Tudo isso dentro de uma visão integrada de saúde, que chamamos de Uma Só Saúde”, explica a presidente da Comissão Técnica Uma Só Saúde do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Vera Lettície de Azevedo Ruiz.
O papel do médico-veterinário na Saúde Pública está diretamente relacionado ao conceito de Uma Só Saúde, que busca integra a saúde humana, animal e ambiental, promovendo uma convivência harmônica entre as espécies e o ecossistema. “Problemas como desmatamento, queimadas, descarte inadequado de resíduos e mudanças climáticas comprometem o equilíbrio dos ecossistemas, elevando o risco de zoonoses, como febre amarela, leishmaniose e leptospirose. A expansão da febre maculosa em áreas urbanas é um exemplo recente, ligada à degradação ambiental e à presença de vetores e hospedeiros em regiões de contato com a população”, alerta a presidente da Comissão.
O profissional da Medicina Veterinária também atua na prevenção de novos surtos globais, como demonstrado durante a pandemia de Covid-19. “Precisamos romper com a ideia de que o médico-veterinário cuida apenas dos animais. Ele é um profissional da saúde, com formação sólida em microbiologia, epidemiologia, toxicologia e saúde ambiental. É fundamental que esteja inserido nas equipes do SUS, com reconhecimento legal e inclusão efetiva nos concursos públicos”, destaca a médica-veterinária.
Médico-Veterinário na Saúde Pública
A Saúde Pública é composta por diversas frentes de atuação, e o médico-veterinário é uma peça-chave em muitas elas. É o que afirma a médica-veterinária Tamara Leite Cortez, docente e integrante da Comissão Técnica Uma Só Saúde do CRMV-SP.
“A saúde pública envolve diferentes áreas da Medicina Veterinária. O profissional pode atuar tanto no agronegócio quanto na saúde, garantindo a sanidade dos rebanhos para a produção de alimentos seguros, como também dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), em ações de vigilância ou na atenção direta à saúde da população”, destaca Tamara.
Aplicação prática em São Paulo
De acordo com informações da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, o Sistema Municipal de Vigilância em Saúde (SMVS), por exemplo, regula mais de 160 tipos de atividades relacionadas a alimentos, medicamentos, produtos e serviços de interesse à saúde.
Com uma população de cerca de 12,5 milhões de pessoas e ampla diversidade de estabelecimentos, a atuação das equipes da Vigilância Sanitária requer atualização constante. Nesse contexto, o médico-veterinário desempenha um papel essencial, contribuindo diretamente para a promoção da saúde pública.
Entre as atribuições do médico-veterinário no âmbito do SMVS estão:
- Planejamento, coordenação, execução e avaliação de ações de vigilância epidemiológica de zoonoses;
- Estudos e pesquisas sobre o potencial zoonótico de diferentes espécies animais;
- Diagnóstico laboratorial de doenças transmitidas por animais;
- Procedimentos clínicos, cirúrgicos e anatomopatológicos relacionados a programas de controle de zoonoses e manejo populacional de animais;
- Vigilância ambiental envolvendo animais de interesse à saúde pública;
- Vistorias sanitárias em estabelecimentos;
- Coleta de amostras para análise de alimentos e bebidas;
- Investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos.
Essas e outras ações evidenciam a importância do médico-veterinário como agente estratégico na prevenção de riscos, no controle de doenças e na construção de um sistema de saúde mais seguro e eficiente.
Ensino de qualidade é fundamental
No Dia Nacional da Saúde e da Vigilância Sanitária, é importante reconhecer a contribuição de todos os profissionais que integram a complexa rede do sistema de saúde, especialmente daqueles que muitas vezes atuam longe dos holofotes, como o médico-veterinário.
Além disso, é fundamental valorizar o ensino presencial e de qualidade para as áreas da Saúde. Uma formação sólida é indispensável para preparar futuros profissionais para os desafios da Saúde Pública, como destaca a médica-veterinária Tamara Leite Cortez, da Comissão Uma Só Saúde do CRMV-SP. “Precisamos melhorar a formação dos egressos e garantir a qualidade da atuação dos médicos-veterinários que já estão no mercado. É necessário incentivar a denúncia de maus profissionais e dar visibilidade àqueles que, com ética e competência, contribuem para o bem-estar da sociedade”.
Ela também defende que a aproximação dos médicos-veterinários com a área da Saúde Pública ocorra desde a graduação. “É importante que os profissionais conheçam essa área desde a formação e escolham segui-la por vocação, e não por falta de oportunidade. Os docentes precisam incentivar a participação dos estudantes em atividades da Saúde Pública, e as especializações devem, de fato, preparar profissionais para atuar em campo”, complementa.
