Febre Maculosa: semana de mobilização lembra que prevenção é a melhor arma no combate à doença

Enfermidade transmitida pelo carrapato-estrela é comum no Sudeste e pode ser letal sem tratamento rápido
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Firefly

De 18 a 22 de setembro, acontece a Semana de Mobilização para Prevenção da Febre Maculosa, promovida pelo Governo do Estado de São Paulo. A iniciativa reforça, neste período, a divulgação de medidas preventivas contra a doença transmitida pela picada do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum) infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii.

Embora potencialmente fatal, a febre maculosa pode ser curada quando o tratamento é iniciado rapidamente. Por isso, profissionais da saúde devem ficar atentos aos sintomas e às regiões endêmicas do carrapato-estrela. A cidade de Campinas (SP), por exemplo, é considerada uma área de risco: segundo o Painel de Monitoramento da Febre Maculosa da prefeitura, de janeiro até 21 de agosto de 2025, foram registrados 134 casos de transmissão no município, com 79 óbitos.

Médicos-veterinários desempenham papel essencial no controle populacional das espécies hospedeiras do carrapato e na prevenção da doença, mas também estão sujeitos ao risco de contágio. Segundo o integrante da Comissão Técnica de Políticas Públicas do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Luiz Henrique Barrochello, é fundamental adotar medidas de proteção pessoal.

“Os cuidados incluem o uso de roupas protetoras, como mangas longas, calças compridas, calçados fechados e roupas de cor clara para facilitar a visualização dos carrapatos. Sempre que possível, evite locais com mato alto e áreas propícias para carrapatos, como margens de rios e matas com capivaras”, orienta.

Capivara e carrapato-estrela: amplificador e vetor

O carrapato-estrela, também conhecido como rodeleiro ou carrapato-do-cavalo, torna-se vetor da bactéria Rickettsia rickettsii ao se alimentar do sangue de animais infectados, como capivaras e outras espécies silvestres.

“A capivara e outros animais silvestres funcionam como hospedeiros amplificadores da Rickettsia. Quando uma capivara é infectada, a bactéria se multiplica em seu sangue e acaba infestando outros carrapatos que parasitam o mesmo animal. A capivara, porém, não transmite a doença diretamente ao ser humano”, explica o médico-veterinário Marcello Nardi, membro da Comissão Técnica de Animais Selvagens e Pets Não Convencionais do CRMV-SP.

Embora seja comum em animais silvestres como capivaras, antas e canídeos, o carrapato-estrela também pode parasitar animais que convivem com seres humanos, como cavalos e roedores, que geralmente hospedam as larvas. Esses animais podem transportar o carrapato para áreas habitadas, aumentando o risco de contato humano com o parasita.

Diferentemente das capivaras, os cavalos não amplificam a bactéria, servindo apenas como hospedeiros do carrapato e como ponte para o contato do artrópode com pessoas.

Impactos para o agronegócio

Luiz Henrique Barrochello alerta que, além de ser uma doença altamente letal, a febre maculosa impacta a saúde pública e a cadeia produtiva. “Trabalhadores rurais que atuam em áreas infestadas estão constantemente expostos ao carrapato e, consequentemente, à doença, o que pode resultar em adoecimentos e até óbitos”, explica.

O especialista também ressalta a importância de investimentos no controle populacional de animais amplificadores, como capivaras, e na capacitação de profissionais. “A prevenção na cadeia produtiva depende de treinamento adequado, uso de equipamentos de proteção e inspeções regulares de pessoas e animais”, acrescenta.

Informação é importante

“A falta de informação sobre o diagnóstico mata mais do que a própria Rickettsia”, afirma o médico-veterinário Marcello Nardi, ressaltando que toda a população deve estar atenta à ocorrência da febre maculosa e aos seus sintomas.

“É fundamental ter consciência: sempre que andar em áreas de mata ou pastagens, lembre-se de que pode haver contato com carrapatos. Se apresentar sintomas entre dois e 14 dias depois, procure imediatamente um médico e informe essa exposição”, orienta Nardi.

A prevenção é a forma mais eficaz de enfrentar a febre maculosa, já que não existe vacina segura e de uso amplo. A responsabilidade é de cada cidadão, e algumas medidas simples podem fazer a diferença para quem vive, trabalha ou frequenta áreas rurais, parques, trilhas e margens de rios:

  • Vestimenta: prefira roupas de cor clara, que facilitam a visualização do carrapato. Use calças compridas, meias, botas e, se possível, vede a bota com fita adesiva;
  • Repelente: antes de entrar em áreas de mata ou vegetação alta, aplique repelente com icaridina na fórmula para reduzir o risco de picadas;
  • Vistoria corporal: após a atividade, examine cuidadosamente o corpo, principalmente couro cabeludo, atrás das orelhas, axilas, virilhas e umbigo. O carrapato-estrela é muito pequeno (na fase de larva, tem o tamanho de um ponto de caneta) e precisa permanecer de 4 a 6 horas no hospedeiro para transmitir a bactéria;
  • Retirada do parasita: se encontrar um carrapato, remova-o com cuidado utilizando uma pinça de ponta fina esterilizada. Segure o parasita o mais próximo possível da pele, pela região da boca. Evite apertar ou esmagar o corpo do carrapato, para não liberar a Rickettsia rickettsii na corrente sanguínea;
  • Atenção após a picada: anote a data e monitore a saúde pelos 14 dias seguintes. Em caso de sintomas, procure atendimento médico imediatamente e informe sobre a exposição.
Sintomas da doença

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), os principais sintomas da febre maculosa incluem:

  • Febre alta de início súbito;
  • Dor de cabeça intensa e dores nas articulações;
  • Erupção cutânea entre o 3º e 5º dia da doença, surgindo nos punhos e tornozelos e se espalhando para todo o corpo, inclusive palmas das mãos e plantas dos pés;
  • Náuseas e vômitos;
  • Diarreia e dor abdominal;
  • Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e solas dos pés.

O ideal é procurar atendimento médico assim que os primeiros sintomas aparecerem. O tratamento com antibióticos deve ser iniciado o mais rápido possível, mesmo antes da confirmação laboratorial, para reduzir o risco de complicações e óbitos.

A SES disponibiliza um manual com orientações técnicas sobre a doença, incluindo informações sobre áreas de risco.

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