Bem-estar animal para cães e gatos será tema de abertura do 5º Encontro de Zootecnia

Evento on-line e gratuito é realizado em comemoração ao Dia do Zootecnista, celebrado em 13 de maio, e contará com seis palestras programadas para ocorrer ao longo do mês
CRMV-SP/Foto: Pixabay

Os avanços científicos acerca da senciência e consciência dos animais serão tema da palestra de abertura do 5º Encontro de Zootecnistas, promovido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), por meio de sua Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino (CTZE), em homenagem ao Dia do Zootecnista. Com o tema “Bem-estar animal para cães e gatos”, o primeiro evento será realizado em 09/05, com a apresentação do zootecnista e médico-veterinário Alexandre Rossi, membro da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do Conselho.

Uma linha tênue separa conceitos como senciência e consciência no que se refere à capacidade dos seres vivos serem afetados, positiva ou negativamente, por estímulos externos assim como a relação direta com a qualidade de vida e bem-estar. Quando o assunto está relacionado à coexistência entre humanos, animais de estimação e meio ambiente, a preocupação com a harmonia dessa interatividade vem crescendo de maneira progressiva.

Apontado como um dos principais fenômenos comportamentais provocados pela pandemia, a valorização do convívio com os animais de estimação assim como a dependência emocional gerada pelo fortalecimento dessa relação, explica Alexandre Rossi, gerou aumento expressivo na demanda por profissionais aptos a orientar os tutores e integrar os “membros da família”.

“Em um primeiro momento, a pandemia gerou o interesse pela compra e adoção de animais de estimação que desempenharam um papel relevante para a saúde mental das famílias. Porém, passado o período crítico do isolamento social, surge o desafio de adaptação da rotina e necessidade imediata de avaliação das iniciativas necessárias para que o bem-estar dos animais seja preservado”, destaca.

Segundo Rossi, a palestra associará a atuação dos zootecnistas como agentes colaborativos desse “novo normal” responsável pelo aumento de demanda de mão-de-obra especializada como tendência comprovada para os próximos anos. “Para comemorar o dia do zootecnista, vamos compartilhar experiências sobre a importância de observar nossos interesses naturais sobre a área e de alavancar essas competências no desenvolvimento de habilidades, a importância da divulgação sobre o potencial do zootecnista e sua inserção no mercado pet”.

Bem-estar na zootecnia

A zootecnista Silvia Robles Reis Duarte, membro da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino, será debatedora no primeiro dia do evento e enfatiza a “importância de reunir profissionais das mais variadas áreas de atuação profissional para que os temas de relevância do setor possam ser debatidos e as experiências compartilhadas entre os colegas”.

Ao longo dos anos, diz Silvia Robles, “os zootecnistas construíram um histórico de colaboração com o desenvolvimento de soluções inovadoras para o agronegócio e seguem se destacando como profissionais associados ao bem-estar dos animais de produção, assim como integram a extensa cadeia produtiva relacionada aos animais de estimação”.

O evento, iniciado com uma palestra sobre bem-estar animal, ressalta Silvia, já demonstra enorme relevância do tema para o profissional zootecnista. “Acredito ser nossa obrigação enquanto profissionais envolvidos diretamente com a produção, garantirmos as condições ideias para que o animal seja mantido em perfeita saúde, alimentados e alojados em ambiente que beneficie seu desempenho e saúde mental.”

Para Sílvia, é importante destacar que “os profissionais do setor têm a ciência como base para produzir conteúdo técnico e informações que possam instruir a população, desmistificando inverdades que colocam em risco o bem-estar aos animais”.

Histórico

Fatos históricos relevantes delimitam o surgimento do conceito de bem-estar animal como ciência a partir de 1964, com a publicação do livro “Animal Machines”, de Ruth Harrison, por meio do qual eram questionados os limites das práticas nos sistemas de produção, popularizadas a partir da Segunda Guerra Mundial e que, segundo a autora, ignoravam o sofrimento dos animais.

Impulsionado pela publicação do livro, surge um despertar coletivo sobre os impactos que a postura responsável dos humanos em relação à exploração de outras espécies poderia causar na evolução equilibrada da cadeia produtiva e de consumo. Desde então, a temática sobre o respeito ao bem-estar animal é integrada à agenda de pesquisas científicas a fim de ajustar a criação, independentemente da finalidade, às necessidades de cada espécie.

As discussões reforçadas pelo livro provocaram, no ano seguinte, uma investigação encomendada pelo governo do Reino Unido, liderada por Roger Brambell, sobre as condições dos animais de produção. O resultado da pesquisa, conhecido como relatório “Brambell Report”, passou a ser referência na indicação de práticas que poderiam garantir condições mínimas de bem-estar, poupando os animais de sofrimento desnecessário.

Empatia e pensamento crítico

Os apontamentos são referência até os dias atuais, estipulando as “cinco liberdades de Brambell”, que embasaram os conceitos posteriores a partir da constatação de que é preciso respeitar, no mínimo, as necessidades de levantarem-se, deitarem-se, virarem-se, limparem-se e esticarem seus membros.

As recomendações de Brambell influenciaram, ainda, a criação pelo governo britânico de órgãos consultivos que acompanharam, entre a década de 1970 e os anos 2000, a evolução das boas práticas na criação de animais. Os dados influenciaram, além dos sistemas produtivos, a rotina de manejo para animais de estimação como cães e gatos, espécies mantidas em zoológico, aquários e aqueles utilizados em laboratórios para fins científicos.

Com a criação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a preocupação com o bem-estar animal foi elevada ao status de movimento global. Desde então, os critérios das “cinco liberdades” mobilizaram os setores ligados aos animais de produção e, especialmente, o mercado pet, cujos profissionais, entre eles os zootecnistas, atuam na busca constante pelo aprimoramento das competências que possam atenuar os impactos da proximidade cada vez maior entre seres humanos e animais.

Alexandre Rossi

Com especialização em Comportamento Animal pela Universidade de Queensland na Austrália, Rossi é mestre em psicologia, com experiência de atuação em zoológicos de diversos países e conquistou reconhecimento pela habilidade no adestramento de animais.

Ao falar sobre o início de sua carreira, Rossi explica que o interesse pela criação de animais surgiu na adolescência assim como a preocupação com questões relacionadas ao manejo, genética e, consequente, qualidade de vida dos animais. “Na adolescência, em meio às dúvidas sobre escolha profissional, olhei para minha biblioteca repleta de livros sobre criação de animais e surgiu um start de que meu interesse pelas técnicas relacionadas ao tema era intrínsico, o que aliado à influência da família, com pai biólogo e mãe psicanalista, foi decisivo para que optasse pela Zootecnia”.

A paixão não apenas pelos animais aliada à consciência sobre a importância das pesquisas e ciência, explica Alexandre Rossi, sedimentaram seu caminho para uma formação “multidisciplinar com dedicação à educação continuada” e à permanente busca por conhecimento. “Após a graduação em zootecnia segui com mestrado em psicologia, especialização em comportamento e graduação em Medicina Veterinária. O aperfeiçoamento é indispensável até mesmo para atender as exigências do mercado”.

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