Cientistas correm contra o tempo para estudar animal símbolo do Brasil ameaçado de extinção

Estima-se que população de tatus-bolas esteja reduzida a menos de 1%; animal pode ser extinto nos próximos 50 anos
Texto: BBC Brasil (adaptado pela Comunicação CRMV-SP)
Foto: Devian Zutter via BBC

Em uma área isolada de Caatinga entre o Piauí e o Ceará, um grupo de quatro cientistas sai à noite para longas caminhadas, acompanhado de cães farejadores e moradores locais. São necessárias 12 madrugadas de buscas para encontrar cinco tatus-bolas, que têm o habitat analisado, medidas tiradas e amostras de sangue recolhidas pela expedição.

A experiência descrita acima foi uma das raras oportunidades de estudar uma espécie que existe apenas no Brasil e que, apesar de ser simbólica, a ponto de ter sido escolhida como mascote da Copa do Mundo de 2014, é muito pouco conhecida pelos cientistas, que correm contra o tempo para evitar que seja extinta.

Não há números precisos sobre a quantidade de tatus-bolas (Tolypeutes tricinctus) restante na Caatinga brasileira, seu habitat nativo, mas há estimativas de que ela esteja reduzida a menos de 1% de sua população original. E os temores são de que o animal possa ser extinto nos próximos 50 anos.

“É uma espécie ameaçada pelo desmatamento da Caatinga para a Agropecuária e porque é muito caçada. O tatu-bola fornece quase 1,5 kg de proteína animal em uma área muito pobre”, explica Flavia Miranda, coordenadora-técnica do Programa de Conservação do Tatu-bola, iniciado há dois anos pela ONG Associação Caatinga, com financiamento privado da Fundação Grupo Boticário.

É um animal ainda muito misterioso. Conheço no máximo dois ou três estudos em andamento sobre ele

(Flavia Miranda)

Unidade de conservação

Segundo ela, esse é o primeiro estudo de longo prazo da espécie na Caatinga, que servirá para mapear tanto a presença do tatu na natureza quanto para identificar suas principais ameaças. A expectativa é de que a criação de uma unidade de conservação ambiental em Buriti dos Montes, no Piauí, auxilie pesquisas sobre o mamífero.

Trata-se do Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, área de 24 mil hectares (maior que o estado de Sergipe) implementada pelo governo piauiense, em outubro passado, com base em projetos de preservação de pinturas rupestres existentes em sítios arqueológicos no local e também da conservação do tatu-bola e de nascentes de rios.

Diante da ameaça de predadores, o animal enrola o corpo e fica protegido por seu casulo. É o único mamífero com essa característica
 

 Vulnerável à ação humana

Se o tatu em formato “bolinha” fica protegido dos demais animais, por outro lado, fica mais fácil de ser capturado pelo homem, para ser cozido vivo seja para subsistência ou para a venda. “É justamente isso o que leva ao seu declínio. Ele fica hipervulnerável à ação humana”, explica a pesquisadora.

O plano de conservação do animal feito, em 2014, pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), inclui ainda a fiscalização e a aproximação com a comunidade local, para desencorajar a caça do animal. Em longo prazo, espera-se que a criação do parque estadual também estimule o ecoturismo e traga novas fontes de renda a essa população.

Guarda-chuva

O animal também é importante por ser considerado uma espécie “guarda-chuva”, ou seja, os esforços para protegê-lo tendem a abarcar, indiretamente, outros animais ameaçados na Caatinga, como o urubu-rei, morcegos e felinos.

Para que isso ocorra, será preciso que o parque estadual recém-criado seja, de fato, um espaço protegido, diz Miranda, afirmando que muitas unidades de conservação ambiental brasileiras acabam ficando só no papel. “A criação de um parque é o primeiro passo. Agora, a briga é para que haja guarda-parque, manutenção, normativas, coisas que dão menos visibilidade política”, enfatiza Flavia.

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