Com a parceria inédita que o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) firmou com o Governo do Estado de São Paulo, em 2023, para integrar a operação “São Paulo sem Fogo”, a Comissão de Resgate Técnico Animal e Medicina Veterinária de Desastres do Regional passou a integrar oficinas preparatórias da Defesa Civil, garantindo a atuação do CRMV-SP junto ao Corpo de Bombeiros da Polícia Militar e à Defesa Civil do Estado nas ações de atendimento a catástrofes que envolvam animais.

A temporada de oficinas preparatórias para a Operação “São Paulo sem Fogo” foi iniciada em abril, antecipando o planejamento estratégico para o próximo período de estiagem em que a ocorrência de incêndios costuma ser maior. De acordo com dados da Defesa Civil, até o momento foram capacitados 1193 agentes de 277 municípios. As próximas cidades que receberão treinamento serão São José dos Campos, Ribeirão Preto, Franca, Piracicaba, Jacupiranga e Alumínio.

Para a médica-veterinária Bianca Colepicolo, integrante da Comissão de Resgate Técnico Animal e Medicina Veterinária de Desastres do CRMV-SP, o estado de São Paulo está inovando muito com o acordo assinado entre o CRMV-SP e a Defesa Civil, já que, a partir de então, a Comissão integra, oficialmente, o Sistema de Comando de Incidentes junto às demais equipes de prevenção, mitigação e socorro.

“Esse trabalho, que teve início com treinamentos voltados para o enfrentamento em enchentes por conta do desastre no município de São Sebastião, agora prepara os agentes para o período de estiagem, trazendo ganhos importantes em eficiência e segurança para os animais vitimados, equipes de trabalho e sociedade no geral”, enfatiza Bianca.

Para o coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, Coronel PM Henguel Ricardo Pereira, a parceria do CRMV-SP com a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC) tem trazido excelentes resultados para a preparação das coordenadorias e agentes municipais de Proteção e Defesa Civil, uma vez que o Conselho tem atuado diretamente nos treinamentos e simulados realizados pela CEPDEC em todo o estado de São Paulo, não só instruindo no resgate técnico e captura, como na gestão de acidentes e desastres envolvendo animais domésticos e silvestres.

Importância do médico-veterinário no resgate animal

Desastres sempre comovem o público e despertam em muitos voluntários a vontade de ajudar. Embora esse auxílio informal seja bem-vindo, a presença do médico-veterinário é fundamental para o resgate correto dos animais, bem como a capacitação necessária para agir nesse tipo de situação.

“Procedimentos como o uso adequado de equipamentos de proteção individual, a definição em conjunto com o sistema de comando da área geográfica da ação, a identificação e rastreio dos animais resgatados e o encaminhamento para o destino correto após os cuidados necessários é função do médico-veterinário e nossa comissão está empenhada em tornar esse procedimento padrão, incorporando, claro, toda ajuda voluntária profissional ou leiga que estiver à disposição”, salienta a integrante da Comissão do CRMV-SP.

O Coronel PM Henguel Ricardo Pereira enfatiza que, considerando a atual importância direcionada aos animais, torna-se de grande valia o conhecimento compartilhado com os agentes. “Na montagem de abrigos provisórios, na gestão dos espaços reservados a estes, na conduta adotada na retirada das pessoas e os animais, bem como nos suprimentos necessários para a permanência nos abrigos. Além de ser uma importante parceria para acionamento em caso de acidentes e desastres, os membros da Comissão de Resgate Técnico do CRMV-SP tem estabelecido uma rede de atendimento com os órgãos municipais, interligando o Conselho a um pronto atendimento em várias regiões do Estado, fortalecendo sobremaneira o Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil.”

Atuação regulamentada

A participação da Comissão de Resgate Técnico Animal do CRMV-SP na capacitação dos agentes segue a Resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) nº 1.511/2023, que regulamenta a atuação de médicos-veterinários e zootecnistas em casos de desastres em massa envolvendo animais e que prevê o cadastro e treinamento de médicos-veterinários voluntários.

Bianca destaca que a parceria com o Governo do Estado é um trabalho ainda em desenvolvimento, mas que já contou, em dezembro, com treinamento piloto na Escola Superior de Bombeiros, com troca e integração de técnicas com integrantes da Comissão de Resgate Técnico Animal do CRMV-SP e com a equipe do Grupo de Estudos em Resgate Técnico Animal (Gerta) da Universidade de Sorocaba (Uniso), liderada pelo professor Leonardo Maggio de Castro, também presidente da Comissão.

A médica-veterinária explica que o treinamento voltado aos agentes da Defesa Civil foi desenvolvido por toda a Comissão, baseado, principalmente, na experiência obtida na Escola Superior de Bombeiros, e nos simulados realizados na Vila Sahy, em São Sebastião. “Em nossa participação na Operação ‘São Paulo sem Fogo’, estamos alertando os municípios para que considerem os procedimentos de Resgate Técnico Animal (RTA) integrados aos Sistema de Comando de Incidentes, visando salvar animais que estejam em áreas de desastres, encaminhando-os identificados corretamente ao tratamento veterinário para posterior devolução ao tutor ou ao ambiente de vivência. Os próximos passos são montar cadastros de médicos-veterinários voluntários e treinamentos on-line via sistema da Defesa Civil”, ressalta Bianca.

Pequenos e médios agricultores

Este ano, de forma inovadora, a Defesa Civil firmou parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento para que pequenos e médios agricultores também possam participar dos treinamentos para a Operação “São Paulo Sem Fogo”.

“Eles têm acesso ao mesmo conteúdo e aulas práticas que os agentes municipais recebem. Deste modo, aprenderão sobre medidas de prevenção para o combate aos incêndios florestais, técnicas de combate aos pequenos focos e conhecimento sobre a interação com os animais em cenário de queimada, já que, neste ano, os treinamentos contam com a participação de um médico-veterinário do CRMV-SP”, afirma o coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil.

Como funciona o treinamento

Em 2023, foram treinados mais de 2.300 agentes e brigadistas de 604 municípios do estado de São Paulo, abrangendo todas as áreas que são acometidas pelos incêndios florestais. Estas ações vêm contribuindo para a redução recorde de incêndios florestais. De acordo com dados oficiais, no ano passado, em todo o estado de São Paulo, a área total atingida por incêndios florestais foi de 1.030 hectares, que se comparado ao mesmo período de 2022 apresentou uma redução em torno de 86%.

A capacitação deste ano oferece instruções teóricas e práticas sobre planos de contingência e previsão meteorológica, emissão de alertas e comunicação estratégica, incêndios florestais e danos à fauna e saúde pública no período de estiagem. Uma equipe volante da divisão de capacitação fica, ao longo do dia, aplicando o treinamento prático para os agentes e gestores do Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil para atuação efetiva e sistêmica durante o período de estiagem, com vistas à redução dos incêndios florestais.

Para os municípios que concluem as duas fases da oficina e cumprem os critérios estabelecidos nas normas da Defesa Civil é fornecido, de forma gratuita, os kits de estiagem, contendo equipamentos para combate a incêndio em cobertura vegetal. “Nosso papel é apoiar os municípios e capacitar os agentes com todo conhecimento e experiência que possuímos, pois, comumente, a defesa civil municipal é a primeira a chegar em um foco de incêndio, e, estando preparados e equipados, eles podem extinguir as chamas. Sabemos que todo grande incêndio começa com um pequeno foco”, ressalta o Coronel PM Henguel Ricardo Pereira, coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil.