Instituído pelo Ministério da Saúde, o Dia Nacional da Saúde e da Nutrição, celebrado em 31 de março, tem como objetivo promover a conscientização sobre a importância de uma alimentação saudável e nutritiva, além de desmistificar a ideia de que comida saudável é cara ou sem sabor.
Para uma vida saudável, é fundamental escolher alimentos nutritivos e seguir uma dieta adaptada às necessidades individuais. Esse cuidado também é essencial para os animais, tanto de produção quanto de estimação.
“Alimentos de qualidade, na quantidade adequada e sem excessos, são fundamentais para a manutenção da saúde e para a longevidade”, destaca a presidente da Comissão Técnica de Animais de Companhia do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Sibele Regina Konno.
Para manter uma alimentação balanceada e que atenda às necessidades dos animais, médicos-veterinários e zootecnistas são os profissionais de referência. Eles são habilitados e capacitados para fazerem o acompanhamento nutricional e propor melhorias na dieta de pets e animais de produção e até mesmo suplementações.
Nutrição para animais de produção
Criadores devem oferecer uma dieta equilibrada, que atenda tanto à subsistência quanto à produção de alimentos nutritivos, e o zootecnista é o profissional ideal para garantir essa alimentação balanceada. “Ele é especializado em fornecer uma dieta adequada para animais de criação, sejam de produção ou de estimação”, afirma Kátia de Oliveira, zootecnista e conselheira do CRMV-SP.
Fatores como espécie, fase fisiológica, digestão, doenças pré-existentes e finalidade do animal devem ser considerados para garantir uma alimentação que atenda às suas necessidades.
Kátia destaca que 70% dos investimentos na produção animal são destinados à alimentação. Uma nutrição de qualidade reduz custos com doenças, melhora a reprodução e aumenta os lucros. “A nutrição inadequada afeta o trato digestivo, enfraquece a imunidade e reduz o crescimento”, explica.
Nutrição para animais de companhia
O professor Thiago Vendramini, do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), costuma dizer aos seus alunos que a necessidade diária mais importante de um pet é a alimentação, pois a nutrição tem um grande impacto inclusive no comportamento dos animais.
“Nutrir é uma forma de carinho; a alimentação está diretamente ligada ao comportamento, ao reforço positivo e ao contato com o animal. Dietas inadequadas podem afetar a disposição e o comportamento dos pets”, explica Vendramini.
Por isso, a falta de vontade de brincar pode não ser preguiça ou dor, mas sim má nutrição, evidenciando a importância de oferecer alimentos de qualidade. “A proteína é fundamental para a produção de neurotransmissores como dopamina e serotonina. Dietas pobres em proteínas podem levar à letargia e falta de ânimo”, afirma o médico-veterinário Felipe Murta R. Grilho, especializado em nutrição funcional e alimentação natural.
Rotina no atendimento clínico
A Associação Mundial de Médicos-Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA) já considera a avaliação nutricional como o 5º parâmetro vital, ao lado da respiração, pulsação, temperatura e avaliação da dor. Por isso, médicos-veterinários devem incluir esse passo na rotina de atendimentos.
Além de identificar deficiências nutricionais, a avaliação ajuda a prevenir intoxicações, já que alguns alimentos seguros para humanos, como chocolate, cebola, uva, abacate, café e macadâmia, são tóxicos para cães e gatos. A ingestão desses alimentos pode ser detectada na avaliação nutricional.
Para detectar carências nutricionais, a observação do estado da pele e pelos é útil, mas exames complementares podem ser necessários, e é importante explicar isso ao responsável do animal. “Infelizmente, muitos sinais são inespecíficos para deficiências de nutrientes”, alerta Sibele Konno.
Obesidade
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2020 (PNS/2020), cerca de 60% dos adultos brasileiros apresentam excesso de peso, e um em cada quatro já é obeso.
Esse problema também afeta os animais de estimação. Um estudo de 2018 realizado pela FMVZ-USP revelou que 40,5% dos cães domésticos na cidade de São Paulo estavam com sobrepeso, sendo que 14,6% deles já apresentavam obesidade.
Conhecer esse cenário é essencial para que médicos-veterinários e tutores desenvolvam planos eficazes de prevenção e tratamento dessa doença multifatorial. “Um pet obeso não significa necessariamente que ele esteja comendo ‘besteira'”, explica Sibele Konno.
Além de monitorar a quantidade e a qualidade dos alimentos oferecidos, é fundamental proporcionar atividades que promovam o gasto calórico, como destaca o professor Vendramini.
“A obesidade está relacionada a um desequilíbrio energético, ou seja, entre a ingestão calórica e o gasto energético. A falta de atividade física é um fator crucial no desenvolvimento da obesidade”, afirma o profissional.
Sinais de alerta
O médico-veterinário Felipe Murta, especializado na avaliação nutricional de animais, explica que, quando visto de cima, o pet deve apresentar uma leve curva na região da cintura. “Se essa área estiver reta ou arredondada, pode ser sinal de sobrepeso”, alerta.
Outros sinais que merecem atenção:
- Dificuldade em sentir as costelas: Ao tocar a lateral do animal, as costelas devem ser palpáveis sob uma leve camada de gordura;
- Acúmulo de gordura na base da cauda e no abdômen: A gordura nessas áreas pode ser um sinal de obesidade;
- Menos disposição para brincar ou se exercitar: Se o animal se cansa rapidamente ou perde o interesse em atividades que antes gostava, isso pode indicar que o excesso de peso afeta sua mobilidade;
- Dificuldade para subir escadas ou pular: O excesso de peso pode sobrecarregar as articulações, dificultando até movimentos simples;
- Respiração ofegante em atividades leves: Se o pet fica ofegante rapidamente após pouca atividade, isso pode indicar que o peso está prejudicando seu condicionamento físico.
O primeiro passo é sempre consultar um médico-veterinário de confiança para avaliar o escore de condição corporal do pet e definir um plano nutricional adequado. “A redução de peso deve ser gradual, controlando a ingestão calórica e aumentando a atividade física”, recomenda o professor Vendramini.
O médico-veterinário é o profissional capacitado para determinar o peso ideal, levando em consideração a raça e o porte do animal. Consultas regulares são fundamentais para monitorar a saúde do pet de forma preventiva, permitindo que problemas nutricionais, metabólicos e comportamentais sejam identificados antes que se tornem graves.