Dia Mundial do Leite celebra o alimento mais consumido do mundo

Números expressivos da cadeia produtiva revelam o dinamismo do setor que avançou da pasteurização à seleção genômica dos animais para atender demanda crescente.
Texto: Comunicação CRMV-SP/Foto: Pixabay

Puro, com café ou chocolate, a versatilidade do leite transformou o alimento em ingrediente multifuncional para receitas doces e salgadas, além de matéria prima para derivados produzidos pela indústria de laticínios. Para celebrar o setor e incentivar a consumo de lácteos pela população mundial, em especial durante a infância, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) instituiu, em 2001, o Dia Mundial do Leite (01/06). 

Dados da FAO/ONU revelam que a bovinocultura leiteira fornece 83% da produção mundial. No entanto, outras espécies também contribuem para o abastecimento como as búfalas que produzem 14%, seguidas das cabras com 2%, ovelhas com 1%, e fêmeas de camelo com 0,3%. O Brasil está entre os 10 países que produzem mais de 60% do leite do mundo, processo que exige vigilância e análise correta durante toda a cadeia até a chegada ao consumidor final.

Um copo de 250 mililitros de leite integral bovino pode fornecer 48% das necessidades protéicas de crianças com idade entre cinco e seis anos. Além de 9% das calorias e micronutrientes fundamentais ao desenvolvimento.

Para Fernando Gomes Buchala, secretário-geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e presidente da Comissão Estadual de Agronegócio do órgão, “a cadeia produtiva é uma das mais complexas da produção animal, pois envolve características específicas para cada contexto. Sendo assim, é importante considerar as peculiaridades de cada situação seja na agricultura familiar, pequenas, médias ou grandes empresas rurais”.

Com a crescente demanda pelo alimento, relatório divulgado, em 2018, pela IFCN Dairy Research Network, organização de pesquisa sobre a indústria láctea, indica que a produção global de leite vem aumentando a cada ano desde 1998. Para alcançar bons resultados a pecuária leiteira exige que o produtor esteja atento ao manejo reprodutivo e sanitário dos animais, assim como à atualização constante das ferramentas de gestão para que o equilíbrio produtivo seja mantido.

País é favorecido

Diante das perspectivas de consumo global, Buchala ressalta que “o Brasil possui aptidão para a produção leiteira com estrutura fundiária, disponibilidade de mão de obra adaptada ao campo e à agroindústria, além do clima favorável e dentro da zona de conforto para a produção animal, produção de grãos e forrageiras”.

O presidente da Comissão Estadual de Agronegócio do CRMV-SP destaca, ainda, que os médicos-veterinários e zootecnistas têm papel fundamental e transformador no desenvolvimento desta cadeia produtiva, pois estão relacionados ao desenvolvimento, implantação e inserção de tecnologias de reprodução, manejo, nutrição, saúde e na indústria de transformação dos produtos lácteos. “O CRMV-SP reconhece a capacidade e a competência destes profissionais.”

Gerenciamento de dados na agroindústria

Enquanto especialistas confirmam a tendência para o aumento na produção de leite nos próximos anos, principalmente nos países em desenvolvimento, indicando uma migração para áreas mais populosas e com menor custo de produção, existe também a preocupação com a volatilidade da cadeia provocada por aspectos climáticos e político-econômicos, considerados imprevisíveis e que desestabilizam as previsões.

Para Rana Zahi Rached, integrante da Comissão Técnica de Alimentos (CTA) do CRMV-SP, apesar do aumento na produção, é importante registrar, na prática, exemplos da fragilidade da cadeia que exigem atenção redobrada para prevenção e gestão de crises. “Na última década houve uma oscilação que, em 2020, provocou um retrocesso aos patamares de 2014, com produção de cerca de 35 bilhões de litros de leite no ano”.

Diante da incongruência dos dados, Rana explica que, enquanto é detectado o “aumento histórico da produção de leite relacionado à eficiência das técnicas por meio das boas práticas de manejo, melhoramento genético, bem-estar e tecnificação do setor, em contrapartida, a mesma fonte de dados indica uma queda progressiva, mas não linear, do número de produtores ao longo dos últimos anos”.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, 589 milhões de toneladas do alimento são consumidas por ano

Investimento necessário

Segundo a médica-veterinária da CTA/ CRMV-SP, que atua nas áreas de higiene e inspeção de produtos de origem animal, epidemiologia e segurança de alimentos, a realidade no Brasil demonstra que “assim como em toda a cadeia do agronegócio, existem elos altamente produtivos e outros rudimentares na produção de leite, com problemas básicos de sanidade e manejo nutricional, expondo a necessidade de mais investimentos no setor”.  

Ainda sobre os impactos positivos que as inovações podem provocar no setor, Rana Zahi Rached cita a importância da regulamentação por meio das Instruções Normativas, como a nº 77 de 2018, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e que estabelece exigências para etapas da produção de leite, do início até a qualidade final do produto.

“A responsabilidade da indústria sobre a qualificação dos fornecedores de leite aumenta o rigor na produção e coloca, mais uma vez, o médico-veterinário como agente fundamental no processo, orientando produtores e assessorando para melhorar a produção no sentido completo do processo”, afirma Rana.

Produção sustentável

Sustentabilidade é um tema cada vez mais popular em todos os segmentos econômicos, mas trata-se de um conceito complexo que também envolve, não apenas aspectos ambientais como questões relacionadas às estratégias de gestão e impactos sociais. Nesse sentido, o agronegócio já busca soluções para os desafios impostos pela pressão do aumento global na demanda por alimentos.

No Dia Mundial do Leite, o exemplo da produção consciente pode ser observado no ‘Projeto Boas Práticas Hídricas’ que foi desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste, uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), realizado em parceria com uma multinacional do setor de alimentos.

O monitoramento realizado em mais de mil propriedades de quatro estados brasileiros, visa difundir práticas hídricas no setor e resultou na economia de quase 57 milhões de litros de água na produção de leite em 2021, comparado ao mesmo período de 2020. A estimativa foi calculada por meio de indicadores de eficiência instalados em vários pontos de consumo.

Litro de leite ‘verde’

Médico-veterinário e zootecnista, o pesquisador da Embrapa Júlio Palhares afirma que os produtores de leite estão reagindo de maneira positiva ao projeto, e reitera a importância da parceria entre ciência e iniciativa privada para viabilização de uma estrutura que proporcione troca efetiva de estratégias para preservação dos recursos naturais.

“Entre os fatores para o sucesso do programa, destaque para a união de esforços entre todos os envolvidos, a bonificação aos produtores que colocam em prática as ideias sugeridas quanto ao manejo correto de água, dejetos e questões relacionadas ao bem-estar animal e, finalmente, a consciência de que a disponibilidade da água em quantidade e qualidade está ameaçada. As secas severas nas regiões Sul e Sudeste fazem com que os produtores comecem a compreender a finitude dos recursos naturais e as consequências do uso indiscriminado”, diz Palhares.

Sobre a dicotomia entre a possibilidade de produzir alimentos e implantar, ao mesmo tempo, as boas-práticas de manejo ambiental, o pesquisador da Embrapa afirma que “é possível atender as demandas da segurança alimentar promovendo a preservação ambiental porque a ciência já disponibilizou ferramentas que fazem com que possamos usar insumos e recursos com eficiência, ou seja, produzindo o mesmo litro de leite com menos água, energia ou fertilizantes químicos”.

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