Embora pertençam a uma espécie naturalmente imune ao mal de Chagas, as galinhas criadas pela equipe de Antonio Teixeira, da Universidade de Brasília (UnB), sofrem com os mesmos problemas cardíacos de quem tem a doença. O culpado: pequenos fragmentos de DNA.
As aves foram inoculadas com o parasita de Chagas quando ainda eram embriões no ovo. Seu organismo eliminou os micróbios da doença, mas não antes que fragmentos do DNA dele fossem enxertados no genoma das galinhas.
Numa série de trabalhos polêmicos, Teixeira e seus colegas têm mostrado que essa inserção de material genético não só ocorre como é crucial para os sintomas da doença.
“Sempre nos questionávamos se esse DNA não era uma contaminação vinda de parasitas que não conseguíamos detectar no organismo do hospedeiro”, afirma Teixeira.
Usando uma nova técnica de rastreamento de DNA, os cientistas conseguiram demonstrar onde os pedaços de material genético do parasita, o Trypanosoma cruzi, se alojam no genoma.
Sem fôlego
Usar embriões de galinha é crucial em virtude da imunidade da espécie à doença. Assim que desenvolve o sistema de defesa de seu organismo, o pintinho consegue eliminar o T. cruzi. Com isso, a possibilidade de contaminação com o próprio parasita fica descartada.
Muitas das aves com o DNA de T. cruzi chegam à fase adulta, mas acabam morrendo com o coração aumentado além do tamanho normal e sofrem de arritmia e dificuldade respiratória. São basicamente os mesmos fatores que podem matar os portadores humanos de Chagas.
Aparentemente, os sintomas derivam do fato de que o DNA do parasita se insere no meio de genes cruciais, desorganizando seu funcionamento. Vários desses genes estão relacionados com a regulação do sistema de defesa do organismo.
Com isso, propõem os cientistas, o corpo deixa de “enxergar” corretamente seus próprios tecidos e os ataca, causando os danos ao coração, por exemplo.
Se a ideia estiver certa, diz Teixeira, será preciso mudar totalmente o tratamento. Em vez de remédios contra o parasita, um transplante de medula óssea seria uma alternativa. Isso reiniciaria o sistema de defesa do organismo, salvando o coração.
O novo trabalho está na revista científica PLoS Neglected Tropical Diseases.
Fonte: Folha de São Paulo (acessado em 30/03/11)