I Encontro de Coordenadores de Cursos de Zootecnia do Estado de São Paulo debateu matriz curricular e perfil do profissional

Evento teve representantes de oito dos nove cursos de graduação autorizados pelo MEC
Texto e foto: Comunicação CRMV-SP

Realizado na última sexta feira (30/06), o I Encontro de Coordenadores de Cursos de Zootecnia do Estado de São Paulo, organizado pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), por meio de sua Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino, debateu temas importantes sobre a formação e o perfil do zootecnista. Durante o evento, também foram apresentados os resultados quantitativos do Panorama dos Cursos de Zootecnia do Estado de São Paulo.

O evento contou com 19 participantes externos e representantes de oito dos nove cursos de Zootecnia do estado de São Paulo, a saber: Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Jaboticabal, Botucatu, Ilha Solteira e Dracena; Universidade de São Paulo (USP), campus Pirassununga; Universidade do Oeste Paulista (Unoeste); Faculdade Eduvale de Avaré; e o Centro Universitário Sudoeste Paulista (UniFSP), campus Avaré.

O presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, Celso da Costa Carrer, agradeceu o apoio do Regional e o atendimento a pedidos de aproximação com os profissionais zootecnistas. “Hoje é a prova de que estamos conseguindo ter espaço, com um evento na área de ensino. Em breve, com um evento mais amplo, será possível discutir todas as temáticas”, afirmou.

Carrer ressaltou, ainda, a importância da troca de experiências relativas às informações importantes a serem apresentadas e agradeceu a presença dos coordenadores de cursos, dos membros da Comissão Técnica de Zootecnia do CRMV-SP, além de integrantes da Diretoria Executiva do CRMV-SP, presentes ao evento.

O encontro também contou com dois representantes do Conselho Regional do Paraná, incluindo a integrante da Comissão Técnica e de Ensino da Zootecnia, que também faz parte das comissões nacionais de Educação da Zootecnia (CNEZ) e de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV) do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira, e o presidente do CRMV-PR, Rodrigo Távora Mira.  

Momento histórico

A abertura do evento foi realizada pela tesoureira Rosemary Viola Bosch, representando o presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero. Ela ressaltou a satisfação pelo encontro, que nunca havia ocorrido antes, destacando o trabalho da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino e da atual gestão do CRMV-SP. Lembrou, ainda, da importância da profissão: “A produção de alimento no mundo depende da Zootecnia”.

O secretário-geral Fernando Gomes Buchala também enfatizou o caráter histórico da data ao reunir, pela primeira vez, coordenadores de cursos e profissionais da Zootecnia. Ele mostrou a importância do Regional ao mencionar alguns números relativos ao CRMV-SP, como cerca de 2.000 zootecnistas ativos, mais de 50 mil médicos-verterinários, cerca de 25 mil empresas registradas, responsáveis técnicos nas mais variadas áreas, e uma equipe com 140 funcionários divididos entre dez unidades regionais e uma sede em São Paulo-capital. “Temos aproximadamente 4.000 novos profissionais inscritos todos os anos”.

Aproximação com instituições de ensino

Buchala ponderou, ainda, a importância do diálogo com as instituições de ensino devido a uma mudança de perfil de denúncias em processos éticos. “Em passado recente, eram principalmente profissionais com 10 a 15 anos de formados. Atualmente, há profissionais com poucos meses até dois anos de formados, o que poderia ser evitado se eles conhecessem mais a legislação”. O secretário-geral abordou a consulta a guias e manuais no site do CRMV-SP como forma para entendimento de leis e normas em linguagem mais acessível.

 O vice-presidente do CRMV-SP e também presidente da Comissão Técnica de Educação do Regional, Fábio Manhoso, disse que o ensino pode não ser uma das principais funções do CRMV-SP, mas que é essencial para a formação e futuro profissional a aproximação com as instituições de ensino superior. Ele cumprimentou o presidente da Comissão de Zootecnia e Ensino, Celso da Costa Carrer, e os demais membros, pela realização e pelo sucesso do evento, incluindo a visita às instituições de ensino e coleta de dados sobre elas.

Membros da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP
Metodologias ativas de ensino

A primeira apresentação do dia teve como tema “Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na Educação Superior: Desafio geracional para docentes e discentes” e contou com a explanação do professor doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), médico-veterinário e pedagogo, Fábio Gregori. O profissional apresentou sua experiência docente com metodologias ativas como Scale Up, Team Based Learning, Design Thinking, World Café, Go/Gv, entre outras.

O professor mostrou a forma como tais metodologias favorecem a aproximação, o debate de idéias e o aprendizado em grupo, fazendo o aluno sair da passividade para assumir papel de corresponsabilidade. Foram explicadas as regras do jogo Safari Chess e participantes do evento jogaram na prática. “Dessa forma é possível gerar uma memória emocional no aluno, o que é um desafio em tempos de ChatGPT”, relatou.

Gregori destacou o papel do coordenador de curso ao harmonizar diferentes perfis e práticas docentes para evitar que o discente se sobrecarregue em algumas disciplinas e pretira outras. Também abordou a importância da infraestrutura (mobiliário colaborativo, acústica, entre outros), da contrapartida da instituição, e do cuidado do professor (dimensionar tempo, carga horária de trabalho, beber água, falar por microfone). Foram mencionados, ainda, programas, aplicativos e plataformas de tecnologia de salas on-line e aprendizado baseado em jogos.

Perfil do profissional

A segunda palestra foi com o diretor executivo de gente e gestão da JBS, Fernando Meller, com o tema “Perfil profissional do zootecnista desejado pelas empresas”. O profissional iniciou destacando a grandeza do agronegócio para o País, como o alavancador da geração de empregos e economia. “Na JBS há mais de 250 mil colaboradores em mais de 20 países, sendo cerca de 140 mil no Brasil”.

Segundo ele, o mais importante em um profissional atualmente é a capacidade de relacionamento interpessoal. Assim, o executivo recomendou que o estudante seja inserido no mercado de trabalho o quanto antes para adquirir experiência em se relacionar.  “Em uma época de ascensão de inteligência artificial, de distanciamento das pessoas e de problemas mentais, a remuneração não garante retenção”, conta. “Aspectos como propósito, saúde mental e mobilidade são importantes para as pessoas”.

O diretor executivo de gente e gestão da JBS disse que há uma escassez de talentos em determinadas áreas e que muitos saem da empresa antes de completar o período de experiência. Há vagas nos setores de qualidade, pesquisa e desenvolvimento, inovação, nutrição, logística, sanidade, segurança alimentar, entre outros. “O profissional de sustentabilidade é um dos mais procurados”.

Além da palestra, durante a abertura para perguntas, ele disse que os valores de disciplina, hierarquia, respeito e habilidades de relacionamentos são valorizados e que se deve evitar a superproteção. “’Formem para a vida’ seria o resumo da minha apresentação”, completa.

Matriz inversa do curso

O chefe do departamento de Zootecnia da FCAV-Unesp, campus de Jaboticabal, Edney Pereira da Silva, abordou a aplicação da matriz invertida nos cursos de graduação. O profissional agradeceu o convite para a participação no evento e contou que quando chegou à Unesp tentou entender os problemas que o curso enfrentava, mesmo com a enorme importância que esse profissional possui na economia.

Pereira da Silva notou que a maior parte dos docentes eram oriundos essencialmente do meio rural e passaram a ser do meio urbano, que a relação candidato-vaga no curso era de aproximadamente dois para um – o que persiste -, e o tempo médio de conclusão, normalmente de 7,5 anos, havia aumentado para até 12 anos. “Havia um alto índice de reprovação nos dois primeiros anos (média de 40% no primeiro semestre) e houve uma perda de 50% do corpo docente em 10 anos.”

Um dos desafios, portanto, era se tornar um curso atraente no cenário atual marcado pela grande oferta de vagas de trabalho. O chefe do departamento contou que foi decidido flexibilizar o perfil do zootecnista e fomentar a formação para cargos decisórios. As disciplinas mais teóricas, como matemática, física e química foram para o final do curso e as matérias mais práticas, para o começo.  Ao final, o aluno decide em quais dos três eixos deseja se aprofundar: Granja, Fazenda ou Pet e Conservação.

Ensino semipresencial

A conselheira suplente do CRMV-SP e coordenadora da Unoeste, Ana Claudia Ambiel Camargo, falou sobre “Curso de Zootecnia na modalidade EaD Semi” e sua experiência com a mudança promovida na graduação da instituição em que atua, iniciada em agosto de 1987 em modo presencial. “Em agosto de 2021, durante a pandemia de Covid-19, nasceu a primeira turma de Zootecnia EaD Semi, em conjunto com o curso de Agronomia EaD Semi.”

O projeto pedagógico é composto por dez semestres, com carga horária de 3.730 horas, sendo 584 horas de prática, 120 horas de atividades complementares, 40 horas de trabalho de conclusão de curso (TCC) e encontros presenciais bimestrais, com aulas práticas e avaliações, na sede em Presidente Prudente. “Primeiramente foram tentadas práticas em todo sábado, mas não tivemos alunos. Depois, tentamos implantar práticas mensais  e, finalmente, bimestrais”, explicou.

Entre os desafios do ensino semipresencial, foram destacados a identificação de professores com perfil para EaD, a formatação e a diminuição do tempo de aulas práticas, os conflitos pela pluralidade, o controle da evasão, o comprometimento do aluno e a manutenção da qualidade.

Do total de alunos na modalidade Ead Semi, 27% têm diploma de curso superior e 52% trabalham em período integral. “Temos alunos de 18 Unidades Federativas e 106 cidades. Metade deles tem mais de 30 anos. Alguns estão em busca de uma nova recolocação em outra área”, relatou.

Curricularização da extensão

O membro da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, professor universitário e diretor das faculdades Sebrae no estado de São Paulo, Paulo Marcelo Tavares Ribeiro, esteve presente no evento mas precisou se ausentar. Em virtude disso, sua palestra foi apresentada em vídeo, com o tema “Regulamentação e implantação da curricularização da extensão nos cursos superiores”.

Ribeiro comentou que a extensão curricularizada foi normatizada, com base na Constituição Federal de 1988, Art. 207; na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB / Lei nº 9394/1996); e na Lei nº 13.005/2014, e traz desafios para a adequação das instituições. O prazo para a curricularização da extensão foi dezembro de 2021, válido para as turmas ingressantes em 2023.

O diretor das faculdades Sebrae destaca que a Resolução nº7/2018 regulamenta as diretrizes para a extensão na Educação Superior Brasileira, na forma de componentes curriculares, com planos de desenvolvimento institucionais (PDIs), projetos políticos institucionais (PPIs) e documentos normativos próprios, e determina que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária.

 “As ações de extensão devem promover intercâmbio, produção de conhecimento, buscar a transformação social, aprofundar o contato da Instituição de Ensino Superior com a sociedade, melhorar a qualidade da formação acadêmica, gerar e difundir conhecimentos e intervir nas comunidades em busca de enfrentamento de problemas da realidade contemporânea. Há três dimensões do Ensino Superior: ensino, pesquisa e extensão, que devem ser indissociáveis”, concluiu.

Encaminhamentos

O presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero, destacou a importância do evento e também da formação ética do profissional, além de ser um bom técnico. “A escola é a base para formar o bom profissional”, afirmou, ponderando temas como a formação humanitária, o ensino a distância, a matriz invertida do curso, a deontologia e a ética na Zootecnia, entre outros.

Ao final do evento, foram mencionadas as propostas de trabalho nas etapas posteriores ao evento. A primeira delas é o estabelecimento de estratégias de integração entre cursos e Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, como a formatação de grupos, apoio a palestras, cursos e treinamentos, participação nas formaturas e discussão de demandas coletivas frente ao Conselho.

Em segundo lugar, o presidente da Comissão afirmou que será feito o levantamento de dados dos cursos de Zootecnia e análise qualitativa; em terceiro lugar, o convite para os coordenadores participarem da publicação de um livro sobre aspectos político-profissionais da Zootecnia – para uso como referência nas disciplinas de Introdução e Deontologia; e, por fim, a análise de ações sinérgicas para um programa de educação continuada no futuro.

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