“Profissionais negros devem ser reconhecidos em suas áreas para que tenham autoridade”, diz fundador do Afrovet

No mês da Consciência Negra, médicos-veterinários e zootecnistas falam sobre representatividade nas profissões
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Tecnologia foto criado por DCStudio – br.freepik.com

Apesar de majoritária entre os brasileiros, a presença de afrodescendentes ainda é tímida na Medicina Veterinária e na Zootecnia no Brasil. Apesar do pequeno aumento no número de estudantes negros nas faculdades do estado de São Paulo, é preciso avançar na visibilidade e reconhecimento do negro nas profissões.

“A sociedade ainda tem dificuldades em ver o negro como médico-veterinário. Essa é uma realidade que acontece não somente com a nossa classe, mas com outras profissões e cargos mais elitistas”, diz Augusto Renan Rocha Severo dos Santos, médico-veterinário do CCZ/COBEMA da Prefeitura de Itatiba (SP), fundador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros de Viçosa (MG) e do coletivo Afrovet.

O zootecnista Weksley Leonardo de Souza, mestrando no programa de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e integrante do Laboratório de Bioinformática e Melhoramento Animal (Bioma), relata que, por todos os meios pelos quais circula, desde a graduação, até as empresas onde trabalhou, sempre ou quase sempre era a única pessoa negra. “Onde estão os negros?”, indaga.

Tal situação é reflexo do racismo estrutural, que resulta da base discriminatória que faz com que a sociedade privilegie algumas raças em detrimento de outras. Na opinião dos profissionais, o Dia da Consciência Negra é importante para promover a reflexão, mas deve ser estimulada a acontecer durante todo o ano.

“Precisamos dar visibilidade ao trabalho do médico-veterinário e do zootecnista negro não somente em novembro. A luta deve ser diária, com mais profissionais palestrando em congressos e simpósios, escrevendo artigos, e sendo entrevistados não somente para falar sobre questões raciais, de forma a fazer com que a sociedade os veja como profissionais técnicos e capacitados em suas áreas de formação”, enfatiza Rocha.

Foto de Augusto Renan Rocha Severo, médico-veterinário e fundador do Afrovet está sorrindo. A imagem mostra o rpofissional de óculos de grau,  com traje médico e estetoscópio no pescoço.
Augusto Renan Rocha Severo dos Santos fundador do coletivo Afrovet

Acesso à educação superior

Dados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) mostram que, em 2019, apenas 30,2% dos ingressantes na graduação de Medicina Veterinária se autodeclaram serem negros ou pardos. Já na Zootecnia o percentual foi de 44,6%. Ainda que de forma lenta, o ingresso de afrodescentes em cursos de ensino superior têm aumentado no País, muito devido às políticas de cotas raciais.

“Leciono há sete anos em cursos de graduação de Medicina Veterinária e Zootencia, e o número de estudantes negros sempre foi muito baixo. Precisamos avançar na base de políticas sociais e de inclusão”, diz o médico-veterinário e zootecnista João Paulo Fernandes Santos, docente e membro da Comissão de Nutrição Animal do CRMV-SP.

Acolhimento e representatividade

Jovens de todo o País estão construindo formas de ampliar o acesso do negro à educação. No caso da Medicina Veterinária, um grupo específico, o Afrovet, reúne profissionais e estudantes na resistência ao racismo.

“Criamos o coletivo em 2020, durante os protestos do movimento anti-racista ‘Black Lives Matter’ (Vidas Negras Importam) que aconteciam pelo mundo. Hoje, somos mais de 200 integrantes e já realizamos simpósios, mentorias, e ligas acadêmicas. Mais de 350 profissionais participaram das nossas atividades”, diz o fundador da Afrovet.

Além de dar suporte para que os profissionais sejam reconhecidos em suas áreas e tenham autoridade para falar sobre assuntos técnicos e científicos, o coletivo busca auxiliar seus integrantes por meio de apoio emocional e orientações jurídicas.

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