Semana de Combate à Leishmaniose: saiba como prevenir

A doença pode atingir animais e humanos, com casos fatais, e, por isso, é de notificação compulsória
Texto: Comunicação CRMV-SP
A foto mostra um cão branco. Ele está no chão, de frente. Ao fundo, há vegetação verde, desfocada.
Foto: Pixabay

Com a suspensão da fabricação e venda da única vacina contra a leishmaniose autorizada no Brasil para o controle da doença em animais, na Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose deste ano fica ainda mais importante orientar tutores nos cuidados para prevenção desta importante zoonose em animais.

Considerada um problema de saúde pública no País, a leishmaniose é uma doença infecciosa causada pelo protozoário do gênero Leishmania, que afeta tanto humanos quanto animais, como cães. A transmissão somente ocorre por meio da picada de insetos vetores fêmeas infectados, conhecidos como flebotomíneos ou “mosquito-palha”.

Existem diferentes tipos de leishmaniose, sendo os principais a leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, e a leishmaniose tegumentar. Segundo o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é endêmica em 76 países, e, conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os cinco países que concentram 90% dos casos relatados.

No estado de São Paulo, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde, de 2017 a 2023, foram confirmados 617 casos de leishmaniose visceral humana. Destes, 61 evoluíram para óbito, representando quase 10% do total.

Leishmaniose visceral (LV): Esta forma da doença afeta órgãos internos, como o fígado, o baço e a medula óssea. Se não for tratada, pode ser fatal. Os sintomas incluem febre intermitente, perda de peso, fraqueza, anemia e aumento do baço e fígado. É considerada uma doença negligenciada e é mais comum em regiões tropicais e subtropicais, especialmente em áreas rurais e pobres.

Leishmaniose tegumentar (LT): Essa forma afeta principalmente a pele e as mucosas. Ela pode causar úlceras na pele e danos às mucosas nas áreas afetadas, como nariz, boca e garganta. A LT não costuma ser fatal, mas pode deixar cicatrizes permanentes e causar graves impactos na qualidade de vida.

Transmissão

Tanto a leishmaniose visceral quanto a tegumentar não são contagiosas e não são transmitidas de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, ou ainda de animais para pessoas. Elas podem ser transmitidas de um hospedeiro infectado para um inseto vetor (mosquito-palha), que, por sua vez, pode transmitir a doença para outros hospedeiros, incluindo humanos e animais, como cães.

Há uma grande diversidade de hospedeiros, como cães domésticos, cavalos e mamíferos silvestres, como gambá, tamanduá e preguiça. A transmissão somente ocorre por meio da picada do mosquito fêmea infectado.

Importância da notificação

Doença de notificação compulsória, devido ao seu alto impacto na saúde pública, a leishmaniose ainda é subnotificada. Integrante da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, Mário Ramos de Paula e Silva destaca que a correta compilação dos dados dará ao gestor público noções epidemiológicas mais exatas da real condição de risco pelo qual uma sociedade está passando. “O gestor poderá traçar diversas estratégias de prevenção e controle das zoonoses evidentes no município, bem como seu devido monitoramento”, explica.

“A subnotificação da Leishmaniose canina é um problema que afeta a compreensão real da extensão da doença e pode acarretar diversas consequências negaticas. Tal fato ocorre quando os casos de leishmaniose canina não são corretamente diagnosticados, registrados ou notificados às autoridades de saúde. Isso pode acontecer por diversos motivos, como falta de conscientização, dificuldades no diagnóstico, falta de recursos para a realização de testes adequados, entre outros fatores”, afirma o presidente da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do Conselho Regional de Medicina Veterinário do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Márcio Thomazo Mota.

Aumento de casos

O crescimento do número de casos de leishmaniose no Brasil tem preocupado especialistas, especialmente pela mudança de padrão de transmissão da doença, que se expande pelos centros urbanos, deixando de ser predominantemente rural. Em relação ao aumento de casos em animais, especialmente em cães, a preocupação é a consequente ampliação da probabilidade de que a doença infecte seres humanos.

Essa situação, segundo o integrante da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, pode ocorrer devido a diversos fatores, incluindo:

Urbanização: À medida que as áreas urbanas se expandem, os habitats dos vetores da leishmaniose também se ampliam, levando a um aumento na exposição dos animais domésticos.

Migração de reservatórios: Os cães são considerados reservatórios da doença, ou seja, podem abrigar o parasita sem apresentar sintomas. Quando cães infectados se deslocam para novas áreas, podem introduzir a doença em locais onde ela antes não estava presente.

Falta de medidas de controle: A falta de medidas eficazes de prevenção e controle da leishmaniose em animais, como o uso de repelentes, coleiras inseticidas e tratamentos antiparasitários, pode contribuir para o aumento de casos.

Fatores ambientais: Mudanças climáticas e alterações no ambiente podem influenciar a distribuição e a atividade dos insetos vetores, tornando as áreas anteriormente não endêmicas mais propensas à transmissão da doença.

Falta de conscientização: A falta de conscientização por parte dos proprietários de animais sobre os riscos da leishmaniose e as medidas preventivas também pode contribuir para o aumento de casos.

Prevenção

Lembrando que a situação da leishmaniose pode variar de região para região e que, portanto, é importante buscar informações atualizadas e orientações específicas para a sua localidade, o presidente da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP pondera que é preciso uma abordagem multidisciplinar para prevenção da doença. “É necessário envolver a colaboração entre autoridades de saúde, profissionais médicos-veterinários, organizações de saúde pública e a conscientização individual”, afirma Mota.  

“As medidas mais utilizadas para a prevenção e o combate da doença se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde”, afirma Ramos.

Entre as principais formas de prevenção estão:

– Usar coleiras repelentes ou inseticidas em cães para reduzir a exposição aos insetos vetores;

– Manter os cães dentro de casa durante os horários de maior atividade dos vetores;

– Manter os quintais livres de matéria orgânica como folhas, fezes de animais, restos de comida, já que é nesse material acumulado que as fêmeas do inseto põem seus ovos;

– Realizar a poda de árvores regularmente, mantendo o ambiente com maior luminosidade;

– Utilizar produtos antiparasitários recomendados por um médico-veterinário para cães;

– Fomentar a educação e conscientização, informando sobre a leishmaniose e suas medidas de prevenção;

– Controlar a população de cães infectados em áreas endêmicas para reduzir o risco de transmissão;

– Caso o tratamento de cães infectados seja considerado, seguir as orientações de profissionais de saúde veterinária;

– Outra forma de manter a vigilância é fazendo testagem em massa nos cães, ação que vem sendo realizada em algumas regiões do País.

Tratamento

“Atualmente, já existe medicamento aprovado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) que poderá auxiliar no tratamento de cães positivos, junto com outras medidas veterinárias específicas”, afirma o membro da Comissão de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, Mário Ramos.

Em humanos, o tratamento é feito com uso de medicamentos à base de antimônio e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, quando não tratada, a leishmaniose visceral pode levar à morte. Por isso, o avanço da doença tem preocupado os especialistas.

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