O abate de bovinos sem comprovação de fiscalização sanitária no Brasil representa menos de 10% do total de abates, diz o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Em estudo que considerou a oferta de animais e também a demanda por parte da indústria com base em dados de 2012, o Cepea apontou abates sem fiscalização de 7,4% a 8,9% do total ofertado e de 7,6% do que é demandado pelos frigoríficos.
“Além de analisar o abate que não teve acompanhamento do serviço de inspeção federal, nem do estadual nem do municipal pela via da oferta (de animais para abate), os pesquisadores estimaram, de forma inédita, também pela perspectiva da demanda (por carne). A aplicação dessas duas metodologias funciona como uma contra-checagem dos resultados, que, ao final da pesquisa, mostraram-se bastante semelhantes”, explicou o centro de estudos.
Para os responsáveis pela pesquisa, apesar de tecnicamente alto, o índice é positivo, pois revela um desenvolvimento da questão sanitária do País. “Se compararmos com outros países europeus ou com a Austrália, por exemplo, esse número ainda é relativamente alto. Ainda assim, considerando os números do passado e o fato de que o Brasil é um país continental, esse índice tem um impacto positivo para o setor”, afirmou o professor Sérgio De Zen, autor do estudo.
Segundo De Zen, o intervalo do índice de abates não fiscalizados sob a ótica da oferta (de 7,4% a 8,9%) deve-se, justamente, ao diferente tratamento dado em cada estado produtor à questão sanitária. Os dados da pesquisa mostram que o número de abates não fiscalizado varia consideravelmente: em Minas Gerais, onde a agropecuária é considerada bastante heterogênea, o índice chega a 15,2%, enquanto no Espírito Santo, a taxa é de apenas 4,1%.
Importantes estados pecuaristas, como Mato Grosso do Sul (4,8%), Goiás (5,3%), São Paulo (5,4%) e Mato Grosso (5,6%), também apresentam índices menores de animais abatidos sem fiscalização. Entre as regiões, o Sul do País foi o que apresentou o menor número de abates não fiscalizados, com 5,2%. “Alguns estados têm um trabalho fantástico na questão sanitária, como Mato Grosso do Sul e Goiás. Os números já mostram um bom início e o esforço agora é ter um processo unificado”, diz De Zen.
Para ele, o maior rigor sanitário dos frigoríficos brasileiros é uma importante ferramenta para o reconhecimento do setor em mercados internacionais. “O Brasil já é um país altamente competitivo na exportação de bovinos, mas muitos países acabam usando questões sanitárias como barreiras comerciais”, explica.
O índice de abate não fiscalizado subtraiu ainda o volume de animais abatidos para o autoconsumo, aquele destinado ao consumo dos trabalhadores e das famílias relacionados diretamente à propriedade pecuária. “O autoconsumo é um dado interessante porque tem impacto no custo da produção e também mostra a segurança alimentar do País. Em alguns países europeus, por exemplo, o autoconsumo é nulo”, diz De Zen. Segundo ele, o autoconsumo na zona rural envolve aproximadamente 5,6 milhões de pessoas em todo o País, que, em 2012, absorveram cerca de 4 milhões de cabeças ou 10% de toda a produção daquele ano.
Fonte: Globo Rural